“O presidente mantém todo esse calor na política como uma espécie de chantagem política para tentar dissuadir as instituições de concluir o seu dever”, avaliou o ex-governador
O ex-governador Ciro Gomes (PDT) afirmou na terça-feira (16), em entrevista à Rede CNN, que Bolsonaro e sua equipe não estão entendendo nada sobre o tamanho da crise econômica que atinge o país.
“Ele só se preocupa em tentar escapar daquilo que já sabe, que dentro dos próximos meses, ele e seus filhos vão ser atingidos pelos inquéritos que estão em curso no Ministério Público do Rio de Janeiro – que vão mostrar não só desvio de dinheiro, como envolvimento com milícias – e as denúncias que derivam da CPI das fake news no Congresso Nacional e dos dois inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal”, assinalou o pedetista.
Para Ciro Gomes, “o presidente mantém todo esse calor na política como uma espécie de chantagem política para tentar dissuadir as instituições de concluir o seu dever”. “Não acho que esteja longe da cabeça de Bolsonaro a ideia de golpe. Há uma intenção clara de organizar uma milícia com frações das PMs no estados, com um pedaço da Polícia Federal e quebrando a hierarquia das Forças Armadas”, disse Ciro.
No entanto, acrescenta o ex-governador, “há gente em torno dele que compreende com mais complexidade que não há condições nem internas e nem externas. Não há nenhum veículo de imprensa ou categoria econômica defendendo ou apoiando isso”.
“Como ele está nesse jogo de pressão e contrapressão, já que é aconselhado a não promover essa aventura, lá embaixo, na rua, os fanáticos de lado a lado vão acabar se matando, e essa é a irresponsabilidade maior de um governante que não deveria jamais estar estimulando isso”, observou o ex-governador.
“Ele deveria, sim, estar tentando desarmar essa bomba, porque nós estamos com duas tragédias gravíssimas acontecendo simultaneamente: milhões de micro e pequenas empresas, médias empresas e milhões de empregos destruídos e já chegamos perto de 45 mil brasileiros mortos, com as simulações falando em 80 a 120 mil ali por agosto”, acrescentou Ciro.
Na opinião do líder do PDT, há a necessidade de formação de uma frente ampla no país para o enfrentamento de três questões. “Sem que isso signifique pedir carteirinha ideológica de ninguém”, frisou o ex-governador. “Defender a vida, diante de uma atitude anticientífica que está conduzindo o Brasil para ser o epicentro da pandemia”, apontou.
“O segundo é que nossa economia vai cair entre 8%, a depender dos números do Banco Mundial, e 11% a depender de analistas aqui do Brasil, passando pela OCDE, que fala em queda de 9% da economia brasileira, o que nos colocará com 20 milhões de pessoas desempregadas. Não há um plano do governo que possa ser discutido ou criticado. Eles não estão fazendo praticamente”.
“E a defesa da democracia. Jornalistas já começam a ser agredidos, pessoas são ameaçadas por sua atitude política. São essas três tarefas que pedem unidade”, argumentou Ciro Gomes.
Para ele, “o desenvolvimento em nenhum lugar do mundo é resultado de uma agenda de bom moço internacional que vai ser socorrido da sua incapacidade de gerar sua própria receita, sua própria poupança, porque vai ser acudido por dinheiro estrangeiro”.
“É chocante isso, mas toda a elite brasileira está intoxicada com essa coisa estúpida que não encontra precedente em nenhum país do mundo”, acrescentou.
Ciro apontou alguns quesitos a serem observados para enfrentar a crise.
“O primeiro é o mercado interno, o consumo das famílias que tradicionalmente é responsável por 60% do PIB. Se as famílias consomem, o comércio vende mais, contrata mais gente, encomenda mais da indústria e a coisa vai. Antes da pandemia, 60,7 milhões de brasileiros estavam com o nome sujo no SPC”, avaliou.
“E o Brasil cometeu a imprudência de concentrar 80% das transações financeiras em cinco bancos. Esses conseguem o que querem, enquanto o povo é humilhado”, denunciou. “É necessário que o Estado brasileiro crie créditos para renegociação dessa dívida. A gente consegue 90% de desconto porque essa dívida é meio perdida e está inflada por juros, multas, etc”, defendeu Ciro.
“Segundo, o investimento empresarial colapsado. Não é pós-pandemia. É agora. Tem que salvar milhões de empresas fazendo o crédito chegar”, apontou o ex-governador. “Os americanos fizeram o que? Tiraram o sistema financeiro do meio e o FED, que é o Banco Central americano, emprestou diretamente”, destacou.
“O Brasil ainda tem o privilégio de ter o Banco do Brasil e a Caixa Econômica. Com uma diretriz de governo obrigaria esse dinheiro, que é do Banco Central, e uma parte que é o fundo garantidor, em caso de inadimplência, a chegar nas empresas. É preciso concentrar nossa reservas internacionais para, via crédito, trocar créditos doméstico estrangulado por crédito externo de juro barato, que está negativo lá fora”, acrescentou o ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco.
“O investimento viria do imposto mais progressivo, das grandes heranças, dos lucros e dividendos, um pente fino nas renúncias fiscais, o Brasil terá 3 trilhões de reais em dez anos. E aí, em dez anos dá para virar o jogo. Com R$ 300 bilhões por ano, pode-se alavancar outros R$ 500 bilhões e até mais, com contrapartidas, com o Banco Mundial, debentures conversíveis e outros mecanismos modernos de financiamento, que o Paulo Guedes não conhece. Ele parou de estudar na década de 80”, afirmou Ciro Gomes.
“O país tem que ter uma política industrial e de comércio exterior e o Paulo Guedes acha que isso é um palavrão. E isso, simplesmente é a experiência de todos os países do mundo”, frisou Ciro Gomes.
Assista a íntegra da entrevista
Ciro Gomes: agradeço por todas as informações contidas nesta entrevista do dia 16/06/2020, a CNN. A verdade acima de tudo, não tenho dúvida de que todos os democratas defenderão a nossa democracia, não há outra saída que não seja seguir a Constituição.