O ex-governador Ciro Gomes (PDT) afirmou, em entrevista a Roberto D´Ávila, da Globo News, neste sábado (10), que as primeiras declarações do novo governo sobre política externa são desastrosas para o Brasil. “Cada declaração mais escandalosa e inábil do que as outras”, disse. “Em nove dias”, disse Ciro, “Paulo Guedes abriu três conflitos desnecessários. Com o Mercosul, uma declaração de que o bloco não é prioridade. Com a China, os ridículos acenos à ilha de Taiwan fizeram Bolsonaro tomar um editorial de alerta do jornal informal do governo chinês. E esses são nada mais do que o primeiro e o terceiro parceiros comerciais do Brasil. E, por fim, uma declaração boba da mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém”. “Isso nos leva para um contexto onde o Brasil nunca teve problemas”, avisou Ciro.
O importante alerta de Ciro Gomes, no entanto, passou desapercebido, por dois motivos. O primeiro foi o destaque exagerado da mídia para o relato que ele fez de mais uma baixaria de Guedes, e que foi desmentida pelo arrivista, sobre que dimensão seria dada às privatizações. Diante de tantas outras aberrações saídas das hostes bolsonaristas nos últimos dias, natural que Ciro admitisse ter realmente partido de Guedes mais esse besteirol. Mas, neste caso, surpreendentemente, não era de Guedes a fala escatológica. Se fosse o Alexandre Frota, talvez ninguém duvidasse. O segundo motivo foi o foco exagerado dado para as críticas dos petistas às declarações do ex-governador sobre os erros do partido.
Para que você, amigo leitor, possa julgar por si mesmo, a importância das questões levantadas pelo ex-governador Ciro Gomes, selecionamos os principais trechos da entrevista, além dos que já citamos acima. Caso queira, você também poderá conferir a entrevista na íntegra no vídeo publicado abaixo.
Ciro Gomes avaliou para Roberto D´Ávila que o resultado da eleição representou “um passo para trás na direção de um grande ponto de interrogação”. “Nossa geração se acostumou a ver a democracia evoluir sempre. Desta feita, o Brasil resolveu dar um gigantesco passo para trás”, disse. “Eu respeito a decisão do povo e terei uma postura diferente de uma certa oposição que predominou do últimos anos no Brasil”, prosseguiu Ciro.
“Se eu puder, eu não quero mais fazer campanha com o PT. O PT tem feito um mal muito grande ao Brasil. Não digo que seja voluntário. Eles estão subordinando o interesse nacional, a história do Brasil, o destino de nosso povo a um conjunto de fraudes e um conjunto de escolhas absolutamente assustadoras. Não haveria essa crise se não fosse o equívoco da escolha da Dilma, uma pessoa que não tinha a menor vivência no serviço público. Ela construiu a maior crise da história brasileira”, observou o candidato do PDT.
“Essa crise engoliu a Dilma, o Temer e vai engolir o Bolsonaro, porque ela não será resolvida com frases feitas, muito menos de concepções exóticas, copiadas de manuais mofados de Chicago, que o meu amigo Paulo Guedes parou de ler desde os anos 80”, acrescentou o ex-governador.
Ciro deu como exemplo do sectarismo do PT a carta que recebeu de Leonardo Boff durante a eleição. “Leonardo Boff me enche de elogios numa carta privada e depois me critica publicamente porque eu não atendo a apelo dele e me acusa e ser um anti-democrata, achando que isso é trivial. Mas, eu não vi nenhuma palavra desse senhor sobre o mensalão, sobre o petrolão”, destacou. “Eu não aceito essa moral seletiva”, frisou Gomes.
“Vamos construir um novo bloco de oposição no Congresso Nacional e na sociedade. O objetivo não é excluir o PT. O objetivo é oferecer ao Brasil uma oposição com essas características, uma oposição democrática, que aposte no rito da democracia”, disse. “O PT, por exemplo, já foi para a justiça tentar impedir a posse do Sérgio Moro. Isso é a Judicialização da política, coisa que eles denunciam pesadamente quando os outros fazem. Não concordamos com esse tipo de comportamento”, acrescentou o pedetista.
Ciro enfatizou que, em sua opinião, o país não está já numa ditadura. Para ele, “é preciso colocar barreiras, mas dentro do jogo político, respeitando os ritos democráticos”.
“O que nos une são três pontos. Um movimento que defenda a saúde da institucionalidade democrática. A segunda é a proteção do interesse nacional e o terceiro é a proteção dos interesses dos mais pobres do Brasil, que são aqueles que estão pagando a conta mais amargamente”, argumentou. Para Ciro Gomes, “os primeiros conflitos virão da economia, porque a expectativa é grande e a sua frustração trará cobranças amargas em pouco tempo”.
SÉRGIO CRUZ
Avante Ciro. Resistência! Construir uma ampla Frente Democrática.