Situação de colapso atinge estados do Sul do país. Em Cascavel (PR), equipamentos do zoológico foram requisitados para atender vítimas do coronavírus
Um relatório interno da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina mostra que 155 pessoas estavam na fila de espera por um leito de UTI em decorrência da Covid-19. Os dados do último sábado (27) apontam a existência de pessoas nessa condição em todas as regiões do Estado. Ao menos sete pacientes já vieram a óbito por falta de vaga nas UTIs do estado.
Entre os pacientes, cerca de 90 estavam na lista de regulação da Secretaria de Estado da Saúde como passíveis de transferência para outras regiões, caso abrissem vagas. Pessoas que não têm condições de viagem, por exemplo, devido ao estado delicado de saúde, não foram incluídas nessa lista.
Os pacientes da lista de espera estão internados de forma improvisada, em enfermarias, pronto-atendimentos (UPAs) e até em corredores de hospitais. Eles têm auxílio de ventilação mecânica, e há casos de intubação fora do ambiente de UTI. A vaga em terapia intensiva é necessária porque garante assistência adequada e melhores chances de recuperação.
De todas as regiões, a região do oeste catarinense é onde há mais pessoas na fila de espera por leitos de UTI. No sábado, eram 89. Em seguida vem a região de Joinville, com 26 pessoas aguardando vaga. As duas regiões têm também demanda reprimida por leitos de enfermaria. Em Chapecó, 38 pessoas estavam nessa fila de espera. Em Joinville, cinco.
Até agora, pelo menos sete pessoas morreram na fila de espera por um leito de UTI em Santa Catarina. Entre elas, a técnica em enfermagem Zeni Bueno Pereira, que atuava na linha de frente do combate ao coronavírus em Itajaí. Ela morreu no Hospital Santo Antônio, em Itapema, aguardando a liberação de uma vaga de UTI.
Profissionais de saúde que trabalham nos hospitais do Estado têm relatado uma explosão na necessidade de internações. Em entrevista, o superintendente de Regulação na Secretaria de Estado da Saúde, Ramon Tartari, confirmou que os pacientes que chegam às UTIs em SC são mais jovens, sem comorbidades, e em estado mais grave do que ocorria em outros momentos da pandemia.
A internação provisória de pacientes graves, fora do ambiente de UTI, é a solução possível, mas arriscada, já que está longe de ser a ideal. A médica anestesiologista Karin Schemes, do Hospital Caridade, em Florianópolis, explica que as unidades de terapia intensiva são ambientes muito bem controlados – o que é fundamental para pacientes em estado grave.
“Os pacientes de Covid são extremamente graves. Quando está entubado, é monitorado na UTI o volume de ar que entra e sai, as curvas de ventilação, piora e melhora. Tem monitores na central de enfermagem, e mesmo quando o profissional não está dentro do quarto, visualiza a situação minuto a minuto. A ventilação é feita por aparelhos, e todo aparelho é sujeito a falhas. Se parou, entupiu, desconectou, isso é visto de forma imediata. Isso não ocorre nas enfermarias e ambientes fora da UTI”, disse.
Santa Catarina somou neste domingo (28) 7.358 mortes causadas pelo novo coronavírus. Segundo o boletim divulgado no fim desta tarde pela Secretaria de Estado da Saúde, o estado tem recorde de internados em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). São 940 pacientes espalhados pelas sete regiões catarinenses. No sábado, eram 926 pessoas, contando as redes pública e privada.
Desde março de 2020, 670.603 pessoas se infectaram com o vírus em Santa Catarina. Mais de 1 mil novos casos foram acrescentados ao boletim do governo em 24 horas.
Santa Catarina aumentou em 160% a disponibilidade de leitos de UTI desde o início da pandemia, mas as vagas são insuficientes para um momento de progressão descontrolada das contaminações. Os especialistas recomendam a redução na circulação de pessoas como única forma de frear a pressão sobre o sistema de saúde.
O Estado adotou ‘restrição intermitente’, válida por dois finais de semana. Neste sábado, no entanto, apesar da situação de calamidade na saúde pública e privada do Estado, houve flagrantes de pessoas e empresas, como a Havan desrespeitando as regras.
PARANÁ
O estado do Paraná também se encontra em situação crítica. O estado chegou a 11.581 o número de pessoas mortas por Covid-19, conforme boletim publicado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) no último domingo (28). Ao todo, são 642.425 casos confirmados desde o início da pandemia.
O relatório apontou 34 novas mortes e 3.675 novos diagnósticos em relação aos dados divulgados no boletim de sábado.
O estado tem, ao todo, 3.587 pessoas internadas com Covid-19 ou suspeita da doença, número recorde desde o início da pandemia. Apenas considerando os leitos do SUS para pacientes com coronavírus ou suspeita, a ocupação atual é a seguinte: 96% dos 1.301 leitos de UTI adulta; 74% dos 1.908 leitos de enfermaria adulta; 36% dos 22 leitos de UTI pediátrica e; 38% dos 34 leitos de enfermaria pediátrica.
Todas as macrorregiões do Paraná estão com mais de 93% de ocupação nos leitos de UTI Covid-19 do SUS para adultos, sendo: Noroeste: 94%; Norte: 93%; Leste: 97% e; Oeste: 98%.
Uma das maiores cidades do estado, Cascavel recorreu a uma situação complexa para lidar com a crise. O Hospital de Retaguarda de Cascavel, no oeste do Paraná, recebeu nove bombas de infusão emprestadas do zoológico da cidade, no domingo (28), de acordo com a direção da instituição. Os equipamentos serão usados para tratar pacientes com suspeita ou diagnóstico de Covid-19.
A macrorregião oeste, que abrange hospitais que ficam na região de Cascavel, registrou taxa de ocupação de 98% nos leitos de UTI para adultos no SUS, no domingo, de acordo com a Sesa.
O diretor-geral do Hospital de Retaguarda, Lísias Tomé, disse que os equipamentos podem ser usados em humanos, pois funcionam no mesmo sistema. As bombas de infusão são usadas para auxiliar na aplicação de medicamentos.
“A indústria nos deu um prazo mínimo de 15 dias para entregar as bombas de infusão. Não podemos esperar e não tenho mais como pegar dos hospitais, eles também precisam”, afirmou.
Além disso, o diretor-geral afirmou que os profissionais de saúde estudam se é possível utilizar os ventiladores do zoológico em humanos. A prefeitura de Cascavel informou que os equipamentos já estão sendo utilizados.
Na tarde desta segunda-feira, a Prefeitura de Cascavel divulgou um vídeo que mostra a atual situação do Hospital de Retaguarda e da UPA Brasília.
As unidades estão lotadas, sendo que os leitos são escassos nestas e outras unidades de saúde de Cascavel.
O prefeito Leonaldo Paranhos, juntamente com o secretário de saúde, Thiago Stefanello estiveram nas dependências na unidade para mostrar a real situação à população cascavelense.
A situação é grave e exige muita cautela, pois o hospital, conforme o último boletim, está com 100% dos leitos de UTI ocupados.
“Essa é a realidade que nós estamos há um ano falando. Nós estamos vivendo o pior momento, nossas equipes não estão suportando mais, está no limite”, disse o prefeito.
Thiago Stefanello disse que não há mais capacidade operacional, e que o momento é de reflexão e conscientização de todos.
FALTA DE OXIGÊNIO
A cidade de Cianorte vive também um colapso pela falta de oxigênio, já vista em outras regiões brasileiras. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) local teve que pedir oxigênio emprestado de hospitais da região para manter o socorro aos pacientes internados na UTI neste final de semana.
Cianorte é uma das poucas cidades do Paraná que optaram por não cumprir na íntegra o decreto do governador Carlos Massa Ratinho Junior que impõe, entre outras medidas, o fechamento do comércio pelo menos até o próximo dia 8 como forma de conter o avanço da Covid-19 no Estado, cujos números negativos só vêm aumentando.
Dois cilindros cheios, com 10 metros cúbicos cada, foram emprestados pela Santa Casa de Campo Mourão, o que garantiria o atendimento até esta segunda-feira, quando o fornecedor contratado afirma ter condições de repor o estoque por mais alguns dias.
Fevereiro é o segundo pior mês em número de mortes desde o início da pandemia
O Brasil registrou, em fevereiro, 30.484 mortes pela Covid-19, segundo dados apurados pelas secretarias de Saúde do país, junto ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Mesmo com dias a menos e últimos dias durante um fim de semana – o que afeta os registros das mortes –, fevereiro teve o segundo número mais alto de mortes desde o início da pandemia, e o maior desde julho.
Três estados tiveram recordes de mortes: Minas Gerais e Rondônia, pelo segundo mês consecutivo, e Roraima, que ultrapassou os registros de mortes vistos em julho. O colapso no sistema de saúde, antes restrito ao Amazonas, agora atinge várias partes do país.
As médias móveis diárias calculadas pelo consórcio de imprensa estão acima de mil mortes por dia há 39 dias. No dia 25, o Brasil registrou o recorde de mortes em 24h desde o início da pandemia: 1.582 pessoas morreram.
O dado referente às mortes de fevereiro foi calculado subtraindo-se as mortes totais até janeiro (224.534) do total de mortes até 28 de fevereiro (255.018). Os números dos meses anteriores foram determinados com a mesma metodologia.