As incertezas geradas pelo desgoverno de Bolsonaro e Paulo Guedes durante a pandemia levaram a expectativa da população para o aumento da inflação às alturas. De acordo com levantamento de dezembro do Datafolha, 72% dos entrevistados esperam ainda mais carestia no ano que vem.
No mês passado, a inflação do país medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 4,31% puxada pelo aumento nos preços dos alimentos. Em agosto desse ano, quando 62% dos entrevistados esperavam aumento nos preços de acordo com o Datafolha, o IPCA estava em 2,44%.
O IPCA-15 – uma “prévia da inflação” oficial – divulgado na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou alta de 1,06% em dezembro e fechou o ano de 2020 com aumento de 4,23%. O resultado é o maior acumulado no ano desde 2016. Em 2019, o acumulado do IPCA-15 foi de 3,91%.
O aumento do preço dos alimentos, que explodiu em meados de 2020, continuou puxando a alta da inflação e pesando no bolso do consumidor na virada do ano. O grupo Alimentação e Bebidas encerrou o ano com alta acumulada de 14,36%, a maior para um ano desde 2002, quando registrou 18,11%.
De acordo com o IPA (índice de preços no atacado da Fundação Getúlio Vargas – FGV), alimentos acumulam no ano um crescimento de 23%. O arroz, que estampou manchetes recentemente, subiu quase 120% no atacado e 62% no varejo.
A combinação da omissão do governo Bolsonaro – que não fez nada para controlar os preços dos produtos e serviços essenciais durante a crise sanitária – com o desemprego recorde e a iminência do fim do auxílio emergencial, fará com que o alimento chegue com ainda mais dificuldade na mesa das famílias.
Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), para famílias com renda domiciliar mensal menor que R$ 1.650,50, a inflação acumulada em 12 meses está em 5,80%. Entre as famílias com ganho maior que R$ 16.509,66, o indicador está em 2,69%. Essa diferença se dá porque quem tem renda menor, compromete maior parte do orçamento com alimentos e produtos essenciais, justamente onde se concentra a inflação.
Além do índice oficial da inflação, pesa sobre famílias a disparada nos meses de pandemia do IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) – indicador usado para o reajuste dos alugueis. O aumento foi de quase 25% nos últimos 12 meses – período em que, além do desemprego, os trabalhadores sentiram o achatamento das suas rendas por conta de redução de salários ou suspensão de contratos.