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Calcula-se em R$ 3 bilhões liberados nos últimos dias pelo Planalto somente em emendas entregues seletivamente em troca de votos
O senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato confeccionado dentro do script do “toma lá dá cá” de verbas públicas e distribuição de cargos na administração federal, oferecidos pelo governo Bolsonaro em troca de votos, foi eleito presidente do Senado, por 57 dos 78 votantes, derrotando a senadora Simone Tebet (MDB-MS), candidata articulada pela oposição e um grupo independente de senadores, que obteve 21 votos.
Rodrigo Pacheco manteve durante o seu discurso uma imagem, construída por ele durante a campanha, de um suposto distanciamento do Planalto, apesar de ter sido decisiva a atuação truculenta do governo federal, principalmente de seus cofres públicos, para a composição do bloco de dez partidos que lançou sua candidatura.
Assim como foi fundamental também a ação de distribuição de cargos e verbas do Planalto para a retirada do apoio oficial do MDB à candidatura de Simone Tebet.
DISCURSO EQUILIBRADO
Como havia prometido a alguns partidos, Pacheco discursou em defesa “intransigente do estado democrático de direito e da garantia do devido processo legal nos casos envolvendo parlamentares”. Alguns senadores são particularmente sensíveis a estes temas jurídicos. “A defesa do federalismo, da autonomia de cada um dos entes federais deve ser a tônica de um presidente do Senado”, também apontou o senador mineiro. O discurso conciliador de Pacheco colide com a de Bolsonaro e o confronto permanente com que lida os demais poderes.
Ao fim e ao cabo, Pacheco fez um discurso distinto do Planalto. Embora tenha recebido ostensivo apoio do presidente, destacou em seu discurso que pretende pautar sua atuação pela independência da Casa, com diálogo coletivo para definir a agenda de votações e o mais importante, respeito à oposição. Isto é, o novo presidente sinalizou que não deverá impor a pauta do Planalto ao Senado.
Já a senadora da oposição, e única mulher disputando o cargo da presidente do Senado, afirmou, em seu discurso, que o país vive uma das crises mais graves de sua história e que “nuvens negras se formam no horizonte político do país”, fazendo com que o Senado tenha que estar “preparado para enfrentar a turbulência que se aproxima”. “O nosso barco tem a bandeira da independência institucional”, afirmou a Simone Tebet.
Ela defendeu que o parlamento aprove algum tipo de continuidade do auxílio emergencial, já que, segundo a parlamentar, sem essa ajuda, milhões de brasileiros entrarão em situação de extrema vulnerabilidade. “Esta situação acabará abrindo uma crise social sem precedentes no país”, advertiu a senadora.
Tebet alertou também para a necessidade de que o Senado participe ativamente da “luta em prol da ciência e contra o obscurantismo que atualmente toma conta do governo, principalmente no que se refere ao combate à pandemia de Covid-19”.
PRÁTICAS ANTIGAS PARA GANHAR CONTENDA
A maneira de agir de Bolsonaro em seu plano de anexar o Senado Federal foi a mesma usada na Câmara dos Deputados. Ele chafurdou-se naquilo que demagogicamente dizia ser contra antes da eleição, ou seja, se utilizou da orgia de cargos e subornos com verbas públicas em troca de adesão aos planos nefastos de seu governo. Calcula-se em R$ 3 bilhões liberados por ele nos últimos dias somente em emendas entregues seletivamente em troca de votos nas casas legislativas.
Aparentemente, o Planalto ganha a batalha que se trava entre um Senado altivo e independente ou uma casa submissa aos interesses menores do governo, expressa nas candidaturas de Simone Tebet e Rodrigo Pacheco. Mas, o que, na verdade, vem à tona com este processo, é a fragilidade do atual grupo palaciano. É fato que, em outros momentos, a prática de subornos em troca de apoio e votos, levou, mais cedo do que tarde, à inviabilização de quem se pensava todo poderoso no Planalto.
A necessidade de utilizar desse expediente porco em sua relação com o parlamento não é um sintoma de força. Ele é o resultado da volta de Bolsonaro aos esquemas de “rachadinhas” que praticou durante seus 28 anos de baixo clero. É certo que, agora, as “rachaduras” provocadas por ele nos cofres públicos são bem maiores do que os pequenos golpes que dava no erário na condição de deputado federal. É também o que restou a ele depois que a sociedade barrou energicamente suas intenções fascistas de destruir pela força a democracia brasileira.
Durante a sessão preparatória para a eleição da mesa do Senado, dois senadores que disputavam a presidência da Casa, o senador Major Olímpio (PSL-SP) e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), anunciaram, durante seus discursos, que retirariam suas respectivas candidaturas em apoio à candidata da oposição, Simone Tebet. Logo após o discurso da senadora emedebista, outro candidato ao cargo, o senador Lasier Martins (Podemos-RS), abriu mão de sua candidatura em apoio à Simone.
Na terça-feira (2), o Senado reúne-se novamente para eleger os demais cargos da Mesa Diretora: 1º e 2º vice-presidentes, 1º, 2º, 3º e 4º secretários e seus respectivos suplentes. Na quarta (3), abre-se oficialmente o ano legislativo ou político do Brasil.
PERFIL
O senador tem 44 anos, é advogado e foi o mais jovem conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil, entre 2013 e 2015. Cumpriu mandato como deputado federal por Minas Gerais (2015-2019) e foi presidente da CCJ (Comissão e Constituição e Justiça) da Câmara. No Senado, também atuou como vice-presidente da CTFC (Comissão de Transparência e Governança).
SÉRGIO CRUZ, com a colaboração de MARCOS VERLAINE