Programa visa testagem de 2 milhões de pessoas e já começa na segunda-feira (18). “Serão cerca de 27 mil testes por milhão de habitantes do estado de SP”, explica o governador João Doria
São Paulo dará nesta semana um passo decisivo no sentido de se obter um controle mais efetivo da pandemia da Covid-19. O governo de São Paulo anunciou na sexta-feira (15) um novo programa de testagem em massa para coronavírus.
Serão 2 milhões de testes rápidos disponibilizados a partir de sábado no Instituto Butantã, segundo informou João Doria, governador do estado, em entrevista coletiva na sexta-feira (15).
Especialistas consideram essencial a testagem ampla da população para viabilizar estratégias mais eficazes de controle da pandemia. Todos os países que tiveram sucesso em conter as ondas da doença o fizeram por meio de estratégias de testagem ampla seguida de rastreamento e isolamento daqueles que tiveram contato com o infectado. A equipe de Nelson Teich, ex-ministro da Saúde, trabalhava junto com estados e municípios, numa estratégia baseada na testagem ampliada. Sua demissão do cargo, entretanto, acabou prejudicando as iniciativas neste sentido.
A capital de São Paulo inicia o programa também na segunda-feira. O programa custou R$ 114 milhões em investimentos e os testes começam priorizando as forças de segurança, como Polícia Militar, Polícia Científica, Bombeiros. “Depois o foco são os profissionais de saúde do estado e dos municípios”, disse o governador. Célia Parnes, secretária de Desenvolvimento Social, acrescentou que a primeira fase da testagem vai abranger também 10 instituições públicas de longa permanência para 600 idosos.
O teste identifica em 15 minutos os anticorpos no sangue e com isso será possível mapear a quantidade de pessoas que pegaram o vírus mesmo que sejam assintomáticas, o que permite calcular o quão espalhado está o vírus no estado.
Segundo o governo, com os 1,3 milhão testes RT-PCR e mais 2 milhões de testes rápidos, o estado de São Paulo chegará, nos próximos três meses, a um nível de testagem similar ao que países como Itália e Espanha apresentam. “Serão cerca de 27 mil testes por milhão de habitantes do estado de SP”, explica.
O governador João Doria reiterou que a equipe de coordenação de saúde do governo estuda a situação do coronavírus no estado diariamente e, por enquanto, o lockdown está descartado. “O protocolo existe e está pronto, mas não será aplicado nesse momento”, diz.
O secretário de estado da Saúde de São Paulo, José Henrique Germann, avaliou que o desafio maior do poder público será garantir o isolamento das pessoas identificadas como portadoras do vírus. “São muitas pessoas que vivem no mesmo domicílio”, disse, lembrando que o aumento de casos na periferia da capital paulista está ligado à aglomeração dentro das próprias moradias. Comunidades da capital, como a Brasilândia, por exemplo, com alta densidade habitacional e alta incidência da doença, deverá enfrentar o problema do isolamento com apoio decisivo do governo.
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantã, explicou as fases do programa. “Na fase 1 serão introduzidos os testes rápidos, começando pela Polícia Militar. Começamos em 20 unidades do município de SP em policiais e suas famílias e o objetivo é em 20 dias fazer 145 mil exames”, explica. “A fase dois enquadra a ampliação dos testes RT-PCR, considerado o padrão-ouro no diagnóstico da Covid-19, em pacientes graves e depois em pacientes sintomáticos leves”, acrescentou.
“Na segunda-feira (18), os municípios já receberão uma norma técnica para iniciar os testes inclusive em pacientes sintomáticos leves, que até então não estavam sendo atendidos, mas agora tem uma sistemática para serem atendidos”, complementou Covas.
Além de propiciar medidas mais dirigidas de isolamento social, o resultado do teste rápido, que sai em 15 minutos, vai servir também para as autoridades identificarem em que ponto da curva epidemiológica o estado de São Paulo se encontra, não apenas pelos casos confirmados da doença, mas também pelo número de pessoas que já tiveram contato com o vírus e foram imunizadas.
“O teste vai ser feito de acordo com as estatísticas e estratégias que o Instituto Butantan tem. O que significa isso? Você vai testar uma amostragem da população e, através dessa amostragem, é que você identifica o percentual da população já adquiriu o vírus e, consequentemente, já pode se considerar imunizada”, afirmou o vice-governador Rodrigo Garcia.
“Esperamos zerar a fila, nos próximos dias. Nós vamos abrir o dia 25 sem nenhum teste na fila, com todos os testes que foram realizados já notificados e já informados no sistema do Ministério da Saúde. A partir daí os testes continuam sem nenhum represamento e entraremos com a segunda estratégia dos testes”, afirmou Garcia.
Mesmo com todas as dificuldades criadas por Bolsonaro, o Ministério da Saúde enviou testes aos estados e municípios. A equipe técnica do ministério recomenda que profissionais de saúde e segurança pública, idosos, portadores de condições de risco para complicações da Covid-19 e a população economicamente ativa também sejam progressivamente incluídos na rotina de testagem.
O Ministério da Saúde já distribuiu 2 milhões de testes rápidos e mais 7 milhões serão distribuídos até o fim de maio em todo o país, segundo o órgão. Só em São Paulo, serão necessários 5 milhões de testes, que serão adquiridos pelo governo paulista.
SÉRGIO CRUZ
Leia mais