Antério Mânica, ex-prefeito de Unaí (MG), condenado a 64 anos de prisão pelo assassinato de quatro pessoas, em 2004, anunciou o apoio a Jair Bolsonaro (PL). O crime ficou conhecido como “Chacina de Unaí”. Ele recorre da sentença em liberdade.
O apoio de Mânica amplia a lista de criminosos que apoiam a candidatura de Bolsonaro à presidência. Como é o caso do ex-goleiro Bruno, condenado por matar e executar a mãe de seu filho, Elisa Samúdio; Guilherme de Pádua, que matou a atriz Daniela Perez; a pastora Flordelis, mandante da execução do seu marido, Anderson do Carmo; dentre outros.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, Mânica diz que deixou de apoiar o prefeito de Unaí, José Gomes Branquinho (PSDB), depois de ele se recusar a apoiar Bolsonaro. “Unaí é a capital agrícola do estado de Minas Gerais. Precisamos do agro. E sabemos que nosso prefeito não concorda com isso. Ele não é do agro. Com a atitude de não apoiar Bolsonaro e Zema, ele dificulta as coisas”, disse o ex-prefeito.
PROVAS ABUNDANTES
O Ministério Público Federal (MPF) acusou Antério de ser um dos mandantes do quádruplo assassinato, que ficou conhecido como Chacina de Unaí. O crime ocorreu em 28 de janeiro de 2004, na zona rural daquele município, quando três fiscais do trabalho e o motorista do Ministério do Trabalho que os conduzia foram assassinados em uma emboscada.
Antério Mânica havia sido condenado a 100 anos de prisão, em outubro de 2015, pelo Tribunal do Júri da Justiça Federal de Minas Gerais, que o considerou culpado do crime de quádruplo homicídio, triplamente qualificado por motivo torpe, mediante paga e sem possibilidade de defesa das vítimas.
Cerca de três anos depois, em novembro de 2018, ao analisar recurso interposto pela defesa do réu, a Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) anulou a condenação e determinou a realização de novo julgamento. Em placar de 2×1, os desembargadores acataram a alegação da defesa de insuficiência de provas.
Para o MPF, no entanto, há provas suficientes que demonstram o envolvimento de Antério Mânica na chacina. No dia anterior ao crime, um veículo Marea azul, igual ao da esposa do ex-prefeito, foi visto durante encontro entre os executores e os intermediários em um posto de abastecimento. O fato foi confirmado pelo réu Willian Gomes, motorista da quadrilha e condenado a 56 anos de prisão pela sua participação nos assassinatos. Em depoimento prestado à Polícia Federal, ele confirmou a presença do veículo e disse ainda que dentro dele se encontrava um homem muito “bravo”, que gritava que era para “matar todo mundo”.
Além disso, foram identificadas ligações realizadas da fazenda do réu para a cidade de Formosa (GO), onde morava um dos pistoleiros.
A defesa de Antério Mânica tentou demonstrar que existiam vários carros do mesmo modelo e cor na cidade, e que o automóvel que estava no encontro poderia pertencer a qualquer pessoa.
O MPF, no entanto, desmontou essa tese ao apresentar documentos do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran), confirmando que o único carro com aquelas características, na cidade, pertencia à esposa do acusado.
Outra prova importante foi uma testemunha do MPF que disse ter visto, no dia anterior ao crime, na Huma Cereais, de propriedade de Hugo Pimenta, uma reunião relâmpago entre os envolvidos – entre eles Antério Mânica – e que todos estavam satisfeitos. A testemunha descreveu minuciosamente os fatos, inclusive o veículo em que cada um deles estava.
O MPF também apresentou como prova a posição de liderança que Antério Mânica tinha sobre os irmãos e as investidas que já havia feito sobre as fiscalizações dos auditores em sua fazenda. Ele chegou a ligar para a Delegacia do Trabalho na cidade para reclamar que os fiscais estavam “incomodando” e ameaçavam seus interesses políticos na região.
Em diligências realizadas à época na cidade de Unaí, MPF e Polícia Federal ouviram diversas testemunhas e descobriram que a esposa do réu havia comentado que seu marido, depois da chacina, a proibiu de andar no Marea, de colocar nele adesivo da sua campanha para prefeito, e ainda deixou o carro coberto com lona preta.