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A Associação Nacional dos Servidores do IBGE (AssIBGE) divulgou nota pública, na sexta-feira (23), em que denuncia que o corte no orçamento do Censo Demográfico realizado pelo Governo Federal, além de inviabilizar o Censo este ano, também atinge os preparativos para que ele possa acontecer em 2022.
A sabotagem para a realização do Censo – que desde o ano passado vem sendo denunciada como uma ação dirigida do governo federal no sentido de esconder os dados da atual crise do país – reduziu a verba inicial para a realização do Censo de R$ 3,4 bilhões para R$ 53 milhões, o que inviabiliza até mesmo a preparação para que a pesquisa seja realizada.
Conforme a associação dos servidores, “vamos precisar de dados detalhados sobre um país mergulhado na maior crise sanitária e econômica dos últimos anos. Sem um Censo completo, o Brasil não enxergará suas necessidades”.
Assim como a AssIBGE, diversas autoridades na área, como ex-presidentes do IBGE, geógrafos e estatísticos, avaliam que a não realização do Censo, que já é grave em qualquer época, assume uma gravidade muito maior em se tratando do momento que estamos vivendo.
Em uma nota publicada ainda em 2020, quando o Censo que era para ter sido realizado naquele ano foi adiado, a AssIBGE considerou como uma operação “esconde números” o tratamento de Bolsonaro e sua equipe de ministros à produção de estatísticas e ao conhecimento em geral.
“Significa a ocultação de informações fundamentais para o conhecimento da realidade brasileira e de sua população, no momento que estamos atravessando gravíssima crise econômica e sanitária. Qual o impacto da Covid-19 nos municípios brasileiros? E na mortalidade? E para a fecundidade?”, questionou a associação.
De acordo com a entidade, “com o valor designado para o Censo em 2021 depois do corte feito, não serão realizadas etapas centrais para a realização do Censo em 2022. Precisamos agir com urgência, necessitamos garantir orçamento de pelo menos 239 milhões em 2021 para não comprometermos o Censo que precisa ir para as ruas no próximo ano”, diz a entidade.
A entidade denunciou que o adiamento do “o resultado só sairá depois das eleições para Presidente”. “Um verdadeiro apagão estatístico. Dessa forma, dados concretos também sairiam de cena nos debates sobre o projeto de país”.
Para o ex-presidente do IBGE, Paulo Rabello de Castro, o corte no Censo é uma “catástrofe”. “Muita gente não percebe, mas é a contagem da população por município, por estado, que qualifica a quantidade de representantes nas câmaras municipais, nas assembleias legislativas e no Congresso Nacional. Ela estabiliza as participações de acordo com o tamanho das respectivas populações. E não é só isso. O Censo Demográfico também revela a qualidade das habitações, as taxas de emprego ou desemprego da população, as características dos domicílios e das famílias, pautando todas as políticas públicas”, disse em entrevista ao Jornal da Manhã, no sábado (24).
Para o também ex-presidente do Instituto, Eduardo Pereira Nunes, a intenção do ministro da Economia Paulo Guedes sempre foi cortar recursos do Censo Demográfico. Ele lembra a fala do ministro na posse da ex-presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, quando o ministro já anunciava as suas intenções quando afirmou: “quem muito pergunta, ouve o que não quer. Então, é melhor cortar recursos do Censo, eu não vou dar dinheiro para fazer o Censo'”.
O Censo não mede apenas o tamanho da população brasileira, mas traz informações sobre frequência à escola e à universidade (e quais disciplinas estão sendo cursadas), emprego, saneamento, sustento da família, raça, mortalidade, tipo de moradia, coleta de lixo e fornecimento de energia elétrica, entre outros detalhamentos de todos os municípios brasileiros.
A realização do Censo este ano também revelaria dados da pandemia, como a informação que, segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, já vem sendo estimada por especialistas, de que esse ano, “pela primeira vez na história do país, o número de mortes vai superar o número de nascimentos”.
Essas informações servem para embasar políticas públicas, distribuição de recursos e as próprias pesquisas realizadas pelo IBGE a partir de universos menores (as chamadas amostras de população), que também ficam prejudicadas sem as informações do Censo.
Como afirma José Eustáquio, a realização do censo é “essencial, em especial nesse momento da pandemia, para termos a exata noção da realidade”.