Senadores dizem ter recebido sinalizações de ministros de tribunais superiores de que a quebra de sigilo do servidor será reveladora. Servidor inseriu documento falso nos sistemas do tribunal, que Bolsonaro usou para tentar desacreditar as mortes por Covid-19 em 2020
A direção da CPI da Covid-19 do Senado decidiu, na quinta-feira (17), adiar o depoimento do auditor do TCU (Tribunal de Contas da União), Alexandre Figueiredo Marques após receber sinalizações de ministros de tribunais superiores de Brasília de que seria melhor aguardar o resultado das quebras de sigilo do servidor.
Senadores da comissão relataram terem recebido indicações de integrantes do TCU e do STF (Supremo Tribunal Federal) de que o sigilo telemático de Marques, já quebrado pela CPI, deve revelar troca de mensagens entre o auditor e pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro.
Marques foi afastado do cargo de auditor após ser apontado como o responsável por elaborar análise que levou Bolsonaro a divulgar notícia falsa de que o TCU questionava o número de mortes por Covid-19 no Brasil.
O pai do servidor, vale lembrar, foi colega de turma do Exército do presidente da República.
A CPI, instalada no Senado, em meados de abril tem o propósito de investigar as ações, omissões e inações do governo do presidente Jair Bolsonaro na gestão da pandemia do novo coronavírus.
DICA
Diante da “dica” de integrantes do TCU e do STF, senadores avaliaram que seria melhor ouvir o auditor apenas quando a comissão tiver em mão o que chamam de “batom na cueca” revelado pela quebra de sigilo telemático. Dessa forma, poderão confrontar Marques com as provas.
A direção da CPI também quer aguardar informações sobre o processo disciplinar interno conduzido pela Corregedoria do TCU para apurar a conduta do auditor. Senadores pretendem pedir à Corte de Contas o compartilhamento das investigações com a comissão.
Diante de todo esse contexto, integrantes da CPI consideram que a decisão do ministro do Supremo Gilmar Mendes, que autorizou o auditor a ficar em silêncio no depoimento que ocorreria na quinta-feira acabou vindo a calhar. A nova data para oitiva ainda não foi marcada.
PROCESSO DISCIPLINAR
A presidente do TCU, ministra Ana Arraes, pediu à PF (Polícia Federal) investigação sobre o caso.
“Com meus cordiais cumprimentos, solicito os bons préstimos de Vossa Senhoria no sentido de promover a abertura de inquérito policial para apurar eventuais ilícitos penais praticados pelo Auditor Federal de Controle Externo deste Tribunal Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques”, escreveu Ana Arraes em ofício enviado ao diretor-geral da PF, Paulo Maiurino.
O auditor foi afastado por 60 dias e responde a processo administrativo-disciplinar que tramita em sigilo.
ENTENDA
O texto de Marques, que foi inserido nos sistemas internos do TCU sem fazer parte de nenhum processo específico, aponta suposta “supernotificação” de mortes por Covid-19 no Brasil.
No dia 7 de junho, Bolsonaro usou esse “documento” para declarar a apoiadores que “em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid”, disse o presidente.
Ele ainda disse que a fonte dessa notícia, dada em “primeira mão”, segundo as palavras do próprio presidente, era o TCU. No dia seguinte, a Corte divulgou comunicado negando que era responsável por essas alegações.
“O TCU esclarece que não há informações em relatórios do tribunal que apontem que ‘em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid’, conforme afirmação do presidente Jair Bolsonaro”, escreveu na nota.
Representantes da instituição também reforçaram que não tinham nada a ver com as supostas alegações de exageros nos registros da pandemia.
“O TCU não é o autor de documento que circula na imprensa e nas redes sociais intitulado ‘Da possível supernotificação de óbitos causados por Covid-19 no Brasil’”.
M. V.
Com informações do portal Metrópoles