Os biomas da Amazônia e Cerrado apresentam situações opostas com relação ao desmatamento. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os alertas de desmatamento bateram recorde no Cerrado, o segundo maior bioma do país. Já na Amazônia, os alertas chegaram ao menor índice em quatro anos.
Os dados foram divulgados pelas ministras Luciana Santos e Marina Silva, respectivamente do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), com base nos dados de alertas de desmatamento do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) para a Amazônia e o Cerrado.
Luciana Santos, ressaltou o papel da ciência e do Inpe no combate ao desmatamento e nos planos de mitigação e adaptação às mudanças do clima.
“Não há saída para o combate à destruição da Amazônia e do Cerrado e para os planos de mitigação e adaptação às mudanças do clima sem ciência. Quero reiterar que o MCTI é a favor da ciência aberta e tem compromisso com a divulgação transparente dos dados produzidos pelo INPE, que são fundamentais para as políticas de combate ao desmatamento e de preservação dos biomas e são, portanto, estratégicos para o país”, disse a ministra.
A ministra Marina Silva enalteceu a parceria com o MCTI e a importância de fazer política pública com base em evidências científicas. “Estamos sustentados por muita ciência. Os dados do DETER nos auxiliam a interferir na hora em que a criminalidade ocorre e poder fazer a diferença. O Inpe faz ciência com ética e técnica”, afirmou.
“Quando se vê o aumento das operações, das multas, dos embargos, das apreensões, e a retirada de gado de áreas embargadas, isso cria um círculo virtuoso em que não há mais expectativa de impunidade. Cada um que comete crime pensa duas vezes antes de praticá-lo, sabe que está sendo monitorado por satélite e que vai ter ação dos órgãos de fiscalização”, disse Marina. “A queda do desmatamento na Amazônia ocorreu em vários Estados, é uma queda consistente.”
No Cerrado, de janeiro a julho, os avisos do Deter aumentaram 21%. Entre agosto de 2022 e julho deste ano, mais de 6.300 quilômetros quadrados foram desmatados, a maior parte deles na região do Matopiba, que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
No caso da Amazônia, os alertas de desmate entre janeiro e julho deste ano caíram 42,5%. Uma mudança forte de sinal já que, no semestre anterior, a tendência era de aceleração do desmatamento. Entre agosto de 2022 e julho deste ano, o Deter emitiu alertas para uma área de 7.952 quilômetros quadrados.
A queda dos índices de desmatamento da Amazônia foi registrada em todos os estados do bioma.
Uma diferença importante entre esses dois biomas, segundo explicaram os especialistas, é a reserva legal. Na Amazônia a área que deve ser preservada é de 80% da propriedade. No Cerrado, ao contrário, apenas 20% devem ser mantidos em pé. Por isso, o desmatamento do Cerrado é, em grande parte, autorizado, o que impede autuações por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, informou que o governo trabalha para lançar em outubro um plano para combater o desmatamento no Cerrado.
Ainda, a Polícia Federal (PF) prendeu em flagrante um suspeito de ser o maior devastador da Amazônia já investigado. A prisão do empresário Bruno Heller ocorreu em Novo Progresso, no sudoeste do Pará, nesta quinta-feira (3), na operação “Retomada”, que também ocorre em Mato Grosso e investiga registros fraudulentos de terras para desmatamento. O nome do preso ainda não foi divulgado pela PF.
Além disso, a Justiça determinou o bloqueio de 16 fazendas, 10 mil cabeças de gado e R$ 116 milhões, pertencentes ao grupo criminoso do qual ele é apontado como chefe.
Na coletiva houve o anúncio de que o Inpe, que completa 62 anos nesta quinta, lançará em breve o Deter para o Pantanal. A ministra do MCTI, Luciana Santos, afirmou que o instituto também terá dados de desmatamento para outros países amazônicos, que se reunirão em Belém na Cúpula da Amazônia nos próximos dias 7, 8 e 9.
“A agenda climática é transversal e urgente, une governos, sociedade civil, centros de pesquisa e setor produtivo”, disse Luciana. “O que vimos no governo anterior foi negacionismo e falta de compromisso com agendas vitais para o Brasil.”
Veja os dados na íntegra:
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/