Valor vai a R$ 4 bilhões. “Caiu a máscara”, diz vice-presidente da Câmara. Milícia digital do Planalto não sabe o que faz. Estava em campanha para o veto total e para colocar nos outros a culpa pelo escândalo
Acaba de cair a máscara de Bolsonaro no episódio da votação que triplicou o fundão eleitoral para as próximas eleições. Ele tinha acusado o vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), de ter sido o responsável pela manobra que viabilizou o escandaloso aumento.
O deputado rebateu afirmando que quem articulou a elevação do fundo eleitoral foi a base governista e que estava em andamento um “acordão” do presidente para garantir o aumento do fundo.
A LDO foi aprovada no Congresso em 15 de julho, antes do recesso parlamentar. Em seu parecer, o relator, deputado Juscelino Filho (DEM-MA), incluiu um dispositivo prevendo que, além de ser composto por uma parte das emendas de bancada estaduais, o fundo receberá 25% dos recursos que a Justiça Eleitoral teve em 2021 e terá em 2022. Segundo técnicos da Câmara, a redação permite que o fundo tenha montante de R$ 5,7 bilhões em 2022.
Quando estourou o escândalo, a milícia digital de Bolsonaro partiu para o ataque à oposição repercutindo a fala do “chefe” contra o vice-presidente da Câmara. Tentaram colar a proposta na oposição, como se ela tivesse defendido o aumento. O plano era creditar a Bolsonaro o veto ao projeto.
A máscara caiu. O veto total era mentira. Mesmo tendo anunciado, ele voltou atrás nesta segunda-feira (26) e comunicou a seguidores no Alvorada que vai fixar o valor em R$ 4 bilhões. “Vou deixar claro uma coisa. Vai ser vetado o excesso do que a lei garante. A lei é quase R$ 4 bilhões, o fundo. O extra de R$ 2 bilhões vai ser vetado. Se eu vetar o que está na lei, estou incurso na lei de responsabilidade”, disse. “Espero não apanhar do pessoal como sempre”, completou.
Essa foi a forma que o demagogo encontrou para justificar às suas bases que fechou o acordão para levar a fundo para o valor de R$ 4 bilhões. Um aumento de mais de 100%.
Na mesma hora, o deputado Marcelo Ramos destacou que, enquanto Bolsonaro o atacava, estava sendo costurado o acordo. Agora admitido pelo próprio presidente. “A verdade sempre aparece! Bolsonaro quer mais que dobrar o valor do fundo eleitoral que hoje é de 1,7 bi e ele quer passar para 4 bi. A máscara de quem sempre quis aumentar o fundo eleitoral começa a cair!”, assinalou Ramos.
“A manobra e o acordão que denunciei na semana passada [de que o governo articulava para que o texto permita o aumento a pelo menos R$ 4 bilhões] agora não são mais especulações, são palavras do presidente! Cumpra sua palavra e veta tudo, Bolsonaro!”, disse o vice-presidente da Câmara. Segundo Ramos, se não houver o veto total ao fundão eleitoral, Bolsonaro estará dando um “golpe” em seus eleitores.
Sabedor de que a sua demagogia foi amplamente desmascarada com a divulgação do acordo, Bolsonaro reclamou das críticas que já começa a receber, vindas daqueles que ainda acreditavam em suas palavras. “Se começar a bater muito, vão ter que escolher no segundo turno Lula ou Ciro”, ameaçou.
Na conversa, Bolsonaro tentou ainda desviar o assunto e voltou a dizer, sem nenhuma prova, que houve fraude nas eleições de 2014. “Vamos ter o voto democrático ou não no ano que vem? Vamos ter eleições democráticas? Não consigo entender porque os caras são contra uma maneira de terminar as eleições e ninguém reclamar. Está na cara que querem fraudar, de novo”, disse Bolsonaro. “A maneira como o Barroso está se posicionando está esquisito. Ninguém consegue entender o porquê ele [Barroso] é contra”, completou.
Esse discurso, típico de quem vislumbra uma derrota nas urnas, não passa de choro, e também não é nenhuma novidade.
Ele, mais uma vez, só faz macaquear o seu guru, Donald Trump, o “salvador da Humanidade” do bolsonarismo, que também alardeou, um ano antes, que as eleições americanas seriam fraudadas. O fariseu perdeu nas urnas. Mesmo tendo ordenado a invasão do Capitólio, o guru de Bolsonaro teve que sair de fininho, assim como seu discípulo terá que fazer por aqui. Isso se a CPI – com seus desdobramentos – não tirá-lo antes.