Quando se pensa que já se viu e ouviu de tudo nesses tempos de governo bolsonarista, eis que surge o deputado estadual Delegado Jacovós, do Partido Liberal (PL), legenda à qual pertence Jair Bolsonaro, afirmando que leva arma à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) para intimidar colegas para que votem a favor de projetos do seu interesse.
A afirmação aconteceu durante convenção realizada pela legenda no Paraná, na quarta-feira (3). Ao fazer uso do microfone, Jacovós disse que tinha uma “dobradinha” com outro deputado da extrema direita, Missionário Ricardo Arruda (PL). “Todos os projetos e pautas conservadores que ele apresentava quem que era o relator? Delegado Jacovós. E eu consegui passar tudo na comissão de justiça. Porque lá eu levo uma .40 e o pessoal fica com medo e aprova tudo.”
Veja o vídeo divulgado pelo Jornal Plural:
Em 2018, Jacovós foi eleito deputado estadual com 61.310 votos. A principal bandeira dele foi o tema armamento.
É um contrassenso, mas Jacavós é exatamente membro da CCJ, que analisa constitucionalidade, legalidade, juridicidade, adequação regimental e caráter estrutural das proposições da Alep. A CCJ é a comissão mais importante da Assembleia.
Em nota, a Assembleia afirmou que é proibido o porte de arma de qualquer espécie nos edifícios da Casa e áreas comuns, salvo para os policiais integrantes do Gabinete Militar. De acordo com a direção da Alep, é permitido que os deputados que tenham posse de arma entrem nas dependências da Casa com o armamento, “mas é vedado a qualquer deputado entrar no plenário ou em reunião de comissões portando arma”.
A Alep reiterou que qualquer declaração em contrário é de inteira responsabilidade do deputado.
Como é próprio dos valentões que só se sustentam quando portam uma arma de fogo – e após a repercussão das declarações – o delegado negou e afirmou em nota que nunca portou armas nas dependências da Assembleia. “Com relação ao vídeo publicado na matéria, este parlamentar declara que tratou-se, apenas, de um momento de descontração em razão da dificuldade na aprovação de pautas conservadoras, tanto no Estado como na Federação”, diz o texto.
Não é a primeira vez que o deputado recua de suas declarações. No ano passado, no Dia Internacional da Mulher, ele compartilhou, no Facebook a frase transfóbica; “diga não à pirataria”. Quem “ilustrava” o posicionamento era a cantora Pabllo Vittar.
E continua: “É que tem gente que insiste em achar que podem tentar se equiparar à criação divina chamada MULHER. Óbvio que não é preconceito! Se tem alguém que prefere a pirataria, problema seu!! Eu respeito!! E faça bom proveito. Mas acho que as mulheres são únicas e insubstituíveis!! Então também respeite a minha opinião (sic)”.
No dia seguinte, a Frente Trans Paraná fez uma denúncia ao Ministério Público de Apucarana e enviou um ofício à Assembleia Legislativa do Paraná. O documento enviado ao MP argumenta que o post do deputado é “cruel” e “adoecedor”; diz que ele “vai contra a decisão do Supremo Tribunal Federal, na lei que equipara homofobia e transfobia ao racismo” e ainda chama a atenção para o fato de que pirataria é crime no Brasil.
Questionando, o delegado deputado disse que respeita “todos os gêneros” e que “meu post já esclarecia que não havia nenhum preconceito; tenho até amigos que são trans; em respeito a esses amigos o post foi retirado!! Reafirmo meu respeito a todos os segmentos da sociedade!”
JOSI SOUSA