Jornalista e cientista político Dermi Azevedo faleceu nesta quarta-feira
Exemplo de serenidade e abnegação em defesa dos direitos humanos, o jornalista e cientista político Dermi Azevedo faleceu na manhã desta quarta-feira (1) no Hospital do Ipiranga em São Paulo, vítima de um infarto fulminante. Ele convivia há anos com a Doença de Parkinson.
Nascido em 1949 no Jardim do Seridó, no Rio Grande do Norte, foi criado em Currais Novos, cidade que adotou como sua. Foi autor de reportagens na América Latina, África e Europa, tendo sido por duas vezes diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
Foi presidente do Diretório Acadêmico D. Hélder Câmara, da então Escola de Serviço Social de Natal. Em 1968, com outros líderes estudantis potiguares, participou do 30º Congresso da UNE, onde viveu sua primeira prisão política. Retornou a Natal e, diante da impossibilidade de permanecer em seu Estado, regressou ao Sudeste do país exilando-se depois no Chile em 1970 e 1971. Voltou ao Brasil e foi novamente preso em 1974, por duas vezes.
Em sua extensa trajetória, cobriu o Sinodo Mundial dos Bispos, no Vaticano, por ocasião dos 25 anos do Concílio Vaticano II. Foi um dos fundadores, em 1982, do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, do qual foi Secretário Nacional de Comunicação e Políticas Públicas. Foi fundador e primeiro presidente da Cooperativa dos Jornalistas de Natal, ex-presidente da Comissão Justiça e Paz, da Arquidiocese de Natal e ex-professor e Coordenador do Curso de Comunicação Social da Universidade Metodista de Piracicaba.
Sua vivência de tortura da ditadura está contada no documentário “Atordoado, eu permaneço atento”, filme vencedor da Mostra Provocações, uma das categorias competitivas do 8º Curta Brasília – Festival Internacional de Curta-Metragem.
PERFIL MILITANTE
O filme traça um perfil da militância de Dermi, levado ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) em 14 de janeiro de 1974, depois de agentes encontrarem em sua casa no bairro do Campo Belo, em São Paulo, o livro “Educação Moral e Cívica e Escalada Fascista no Brasil”, coordenado pela educadora Maria Nilde Mascellani.
A obra trazia uma análise da disciplina Educação Moral e Cívica, imposta pelo regime em todos os currículos escolares do país. A irritação com o jornalista se devia a informação de que o estudo havia sido enviado ao Conselho Mundial de Igrejas, com sede em Genebra, na Suíça, para ser divulgado mundialmente.
Era a segunda detenção de Dermi. A primeira ocorreu em 1968, no Congresso da União Nacional de Estudantes (UNE), em Ibiúna, quando era líder estudantil. Além das agressões na própria carne, o que o dilacerou e que o marcou profundamente pela vida toda, recordou a jornalista Mônica Manir, “é a violência com o que os agentes da repressão trataram seu primogênito, Carlos Alexandre Azevedo — o Cacá — na segunda prisão”. “A mãe de Cacá, a pedagoga Darcy Andozia, também tinha sido encarcerada. O bebê de apenas 1 ano e 8 meses havia ficado em casa com a babá. Porque chorava de fome, a criança recebeu um soco na boca. Com os lábios sangrando, também foi ‘conduzida’ ao DOPS, onde teria levado choques elétricos, segundo relato de outros presos”, descreve.
Quando foi entregue aos avós maternos, em São Bernardo do Campo, Cacá foi jogado ao chão. “Tudo isso o marcou profundamente”, contava Dermi. O filho desenvolveu fobia social. Em 2013, aos 40 anos, suicidou-se com uma overdose de medicamentos.
Dermi casou-se novamente em 2011 com a pedagoga Elis Regina Brito Almeida, que agregou o sobrenome Azevedo. É cofundador do Núcleo Maximiliano Kobe, voltado à defesa dos direitos humanos e da justiça social e, com este compromisso, lançou em 2018 o livro “Nenhum Direito a Menos: Direitos Humanos – Teoria e Prática”. Cinco anos antes, havia lançado “Travessias Torturadas”, um registro autobiográfico e político do período entre 1964/1985.