O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou, em entrevista à revista “Crusoé”, nesta sexta-feira (29), que “Jair Bolsonaro abandonou o discurso de campanha, firmou alianças que disse que não faria e deu de ombros para o combate à corrupção”.
Em seu twitter, o ex-ministro também criticou as ações do chamado “gabinete do ódio”, uma espécie de fábrica de fake news contra a honra de desafetos do presidente. “Campanhas difamatórias contra adversários, ameaças e notícias falsas não têm a ver com liberdade de expressão”, disse Moro.
Ele condenou também os ataques feitos por aliados do governo às instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. “Um debate que não pode tirar o foco do que importa agora: defender o estado de direito e a vida. Meu respeito à democracia, ao Judiciário e às famílias de vítimas da Covid”, afirmou o ex-ministro.
Moro também criticou a postura do governo em relação às últimas decisões do Supremo Tribunal Federal, que impediram a nomeação de Alexandre Ramagem para a chefia da PF e autorizaram o inquérito que investiga as acusações feitas por ele contra o presidente da República.
“Não tem nenhum motivo para o Planalto se insurgir e o Planalto sabe disso. O problema é que o Planalto não consegue entender esses limites, que ele não é um Poder soberano. É claro que, eventualmente, pode-se criticar algumas decisões judiciais, mas tem que respeitar a atuação das Cortes de Justiça”, avaliou.
“No que se refere à agenda anticorrupção, de fortalecimento das instituições e aprimoramento da lei para tanto, sim (o governo se afastou), e já faz algum tempo. No que se refere às alianças políticas, o discurso do presidente também era muito claro no sentido de que ele não faria alianças políticas com o centrão, e ele está fazendo. E a culpa por isso não pode ser posta em mim, dizendo: ‘Olha, foi preciso fazer aliança com o centrão por causa da saída do Moro. Não, isso precedeu à minha saída. Começou antes, pelo receio do presidente de sofrer um impeachment. A motivação principal da aliança é essa”, avaliou Moro.
Ele também foi questionado se, ao não se empenhar pelo pacote anticrime e pela manutenção da prisão em segunda instância, o presidente queria proteger o filho Flávio Bolsonaro, que é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro pela prática de rachadinha. “Isso me chamou atenção porque é incoerente com o discurso. Assim como são incoerentes com o discurso as alianças recentes que o presidente tem feito com personagens do nosso mundo partidário que não se destacam exatamente pela imagem de probidade. Acho isso um tanto peculiar, porque o discurso para os eleitores é um, e a prática é outra bastante diferente”.
Ele ainda criticou a “agressividade” e o “estímulo à violência” no Executivo. “Não posso mentir. Eu me sentia desconfortável em vários aspectos do governo: pela agressividade contra a imprensa, pelo estímulo à violência, ao ódio e, mais recentemente, pela descoordenação completa em relação ao combate ao coronavírus. Eu sempre defendi o isolamento”, falou.
Moro informou ainda que o Palácio do Planalto tinha interesse na soltura de Lula. “O que se dizia no Planalto era que a soltura do Lula era bom politicamente para o presidente. Isso foi dito. Eu sou um homem de Justiça, um homem de lei, e não acho que um cálculo político pode ser envolvido nisso”, disse Moro.