“Vamos unir a Bolívia”, conclamou o presidente eleito. Ao substituir Evo por Arce, o MAS conquista a vitória nas eleições presidenciais e resgata a maioria que obtivera em várias eleições. Luis Arce já havia afirmado que o desrespeito à decisão do referendo popular fora um erro político do ex-presidente e que abriu espaço à tomada do poder pela extrema direita
“Recuperamos a democracia”, afirmou o candidato do Movimento ao Socialismo, Luis Arce, quando as sondagens de boca de urna lhe davam mais de 20% de vantagem sobre o segundo colocado, Carlos Mesa.
Diante dos números e do andar da contagem dos votos, a presidente de fato da Bolívia, Jeanine Áñez, apoiadora dos candidatos do regime que se estabeleceu com sua autoproclamação como presidente, reconheceu a vitória de Arce: “Ainda não temos o cômputo oficial, mas com os dados com os quais contamos, o Sr. Arce e o Sr. Choquehuanca venceram a eleição. Felicito aos vencedores e peço que governem pensando na Bolívia e na democracia”.
O candidato Carlos Mesa também reconheceu que “houve um claro vencedor nas eleições deste domingo, que foi Luis Arce”. Pela lei eleitoral boliviana, vence no primeiro turno o candidato que obtiver mais de 40% dos votos e ao menos 10% de vantagem sobre segundo colocado. Ou alcançar mais de 50%, como o candidato do MAS conseguiu agora.
As sondagens oferecem o seguinte resultado: Arce (52,2%), Mesa (31,5%), Fernando Camacho, (14,1%), Hyun Chung (1,6%) e Feliciano Mamani (0,4%).
“Todos nós bolivianos demos um passo importante: recuperamos a democracia, sobretudo recuperamos a esperança”, afirmou o ex-ministro da Economia na sede de sua campanha, em La Paz, assim que a sondagem apontou sua vitória.
UNIDADE NACIONAL
Arce acrescentou que tanto ele, como seu vice, David Choquehuanca, têm o compromisso de governar para todos os bolivianos.
“Vamos construir um governo de unidade nacional, vamos construir a unidade de nosso país. Em toda esta jornada estamos recuperando a certeza, que é muito importante, no povo boliviano para podermos desenvolver todo tipo de atividades econômicas”, destacou Arce.
RESPEITAR REFERENDOS
Em entrevista ao jornal O Globo em agosto, quando perguntado sobre as lições que o MAS aprendeu com o erro de Evo ao candidatar-se a mais uma reeleição após o referendo ter dito não, o candidato Arce declarou que “entendemos que a candidatura a uma nova reeleição por parte de Evo estava no marco legal constitucional, mas reconhecemos que ela gerou no país uma linha política muito dura, que abriu espaço ao golpe de Estado de novembro.
A lição aprendida é que é preciso respeitar o que digam os referendos e o que diga o povo boliviano, mas também esperamos que assim façam os partidos que vão estar na disputa eleitoral”.
RETOMAR CRESCIMENTO
Ao declarar a vitória, Arce apresentou os seis compromissos para a retomada do crescimento econômico da Bolívia.
1. A industrialização com substituição de importações com base em créditos, empréstimos e incentivos fiscais. “Serão utilizadas todas as ferramentas que permitam impulsionar as indústrias que substituam produtos importados, dinamizem o mercado e utilizem maior quantidade de insumos nacionais.
2. Combustíveis ecológicos – programa para desenvolver o diesel ecológico de segunda geração para elevar a redução da importação e melhorar a balança de pagamento. As empresas que cuidarão da coleta, transporte e processamento serão estimuladas a gerar empregos.
3. Geração de emprego. “Serão dados incentivos às empresas privadas que criem e mantenham postos de trabalho, em especial de mulheres e jovens”.
4. Fortalecimento da atividade agropecuária. “Objetivo é garantir a segurança alimentar com soberania. Vamos impulsionar a produção de alimentos, fundamentalmente aqueles que ainda são importados”. Também se impulsionará a indústria de fertilizantes.
5. Plano diretor de industrialização do lítio. “Impulso a 41 indústrias conexas a esse mineral e a exploração das jazidas”.
6. Gestão fiscal responsável. “O ponto central deste eixo é a renegociação do pagamento de juros e capital da dívida externa com a finalidade de orientar estes recursos para a reconstrução da economia mediante o investimento público, motor da economia”.
“Temos que agradecer a toda a militância, compartilhamos esta campanha com muitas organizações, desde o militante das fileiras até o nosso chefe de campanha em nível nacional. É preciso agradecer a todos os que contribuíram, aportaram e à comunidade internacional por seguirem e pelo acompanhamento; aos observadores que fizeram a gentileza de escutar nossas preocupações pela forma como se estava levando a cabo o processo eleitoral”, assinalou.
O presidente da OEA, Luis Almagro, também reconheceu a vitória de Arce: “O povo se expressou nas urnas” e desejou sucesso ao presidente eleito: “Êxito em seus trabalhos futuros. Através da democracia saberão forjar um futuro brilhante para seu país”.
APURAÇÃO LENTA
De acordo com projeções das empresas Jubileo e Tu voto cuenta, Luis Arce sai vitorioso em cinco dos nove departamentos (Estados).
O partido de Carlos Mesa ganhou em três departamentos, enquanto que o Creemos de Camacho, de extrema direita, só conseguiu ser o primeiro colocado em Santa Cruz, com 44,3%, mas mesmo aí, Arce conseguiu 36,9% e Mesa 17,5%.
Como já haviam adiantado algumas pesquisas, Arce obteve uma grande vitória em La Paz com 67% dos votos, em Oruro com 66%, em Potosí com 56,6%, em Cochabamba com 60,3%.
Até o meio dia de segunda-feira, a contagem de votos do Tribunal Supremo Eleitoral tinha 7,66% das atas computadas, marcando uma grande lentidão no processo.
Segundo esses dados preliminares, o Senado ficaria composto por 19 senadores do MAS (a metade mais um) 13 para CC e quatro para Creemos, segundo o jornal boliviano Página Siete.