No encontro desta segunda-feira (10), o grupo Derrubando Muros entregou ao ex-presidente manifesto em defesa da democracia
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, respectivamente, candidatos ao Planalto e a vice-presidente, pela Frente Ampla Democrática, receberam, nesta segunda-feira (10), o apoio de dezenas de personalidades da sociedade civil, entre jornalistas, economistas, empresários, cientistas políticos e lideranças políticas, entre outros.
No encontro, em São Paulo, o ex-presidente disse que todos pertencem à geração que pode tirar o país do atraso.
Ao proferir discurso, Lula agradeceu o apoio e disse que está otimista na vitória após a caminhada em Minas Gerais no último sábado (8), onde reuniu milhares de pessoas.
“Aquilo me lembrou muito o comício das Diretas Já. Na época, o Tancredo Neves falava assim: ‘o que a gente vai fazer com esse povo?’ Era muita gente! E como eu estava num dia de sorte, quando eu chego no palanque, quem estava lá? Chico Buarque. E aquilo foi a realização total do evento”, contou.
A reunião, em São Paulo, contou com nomes como Aloysio Nunes, Zeca Martins, André Lara Resende, Priscila Cruz, Randolfe Rodrigues, José Aníbal, Eduardo Gianetti, Marcus Barão, Miguel Lago, Natalie Unterstell, Pimenta da Veiga, Neca Setúbal, Philip Yang, Tereza Campello e Marina Silva.
DEFESA DA DEMOCRACIA
O ex-presidente observou que a democracia brasileira não vive bom momento justamente pela ação política e social de Jair Bolsonaro (PL) ser “negacionista da política”. Lula, ao contrário, defendeu o diálogo como forma de melhorar o Brasil, e garantiu que irá tirar o país do atraso e do mapa da fome mais uma vez.
“Nós estamos enfrentando um cidadão que quer aumentar o número de ministros da Suprema Corte para ter o controle sobre ela. Eu nunca indiquei ministros para me ajudar, e sim para que eles cumpram o papel do Supremo”, afirmou.
“Essa não é uma eleição fácil, nós não estamos dentro de um processo democrático normal. Eu perdi duas eleições para o Fernando Henrique Cardoso e fui pra casa chorar. Mas este cidadão é anormal, ele não teve nenhuma formação civilizatória e pensa no Brasil para ele, Suprema Corte, Forças Armadas, Congresso, ele acha que tudo é dele. Mas a gente vai recuperar esse país, nós vamos fazer a sociedade exercer a democracia”, alertou.
SONHO SINGELO
Por fim, Lula disse que tem como sonho que as pessoas tenham uma casa digna, façam no mínimo três refeições por dia, além de melhorar a educação, criando mais oportunidades para todos.
“Não me fale que investir em educação é gasto, educação é investimento. Nós somos a geração que podemos tirar o país do atraso. Vou precisar de vocês não só como eleitores, mas como condutores para tirar esse país do atoleiro que nos colocaram”, completou.
PLURALIDADE
Alckmin aproveitou a ocasião para comparar Lula com Mário Covas, por seu espírito democrático e história de luta pelos mais pobres. “O Brasil é o país da pluralidade e nossa campanha traduz isso. Como Franco Montoro dizia, essa é a lógica do segundo turno [fazer alianças]”, disse.
“Agora são 20 dias de campanha, aqui são todos formadores de opinião, e nós temos que acelerar, nos unir, lutar e vencer. Quem vai defender a democracia se não os democratas?”, questionou.
Presidente histórico do PSDB, José Aníbal (SP) também declarou voto em Lula neste segundo turno e recordou que o próprio Covas apoiou Lula contra o Fernando Collor — e o tempo provou que aquele foi um posicionamento correto.
“O Brasil não pode sacrificar mais uma geração, seria um desastre. A educação não pode ser discurso, tem que ser uma ação forte. Eu sei que o Lula, que viveu isso pessoalmente, conseguiu uma posição no mercado de trabalho. Eu nasci em Rondônia, e cada vez que eu vejo o que acontece na Amazônia é de chorar”, lamentou.
SUPLENTE DO FLÁVIO BOLSONARO
O empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também compareceu ao evento político. Ele, como os demais, declarou “apoio amplo, geral e irrestrito” à chapa da Frente Ampla Democrática, representada por Lula e Alckmin.
Marinho apoiou Bolsonaro na campanha de 2018 e se elegeu como suplente na chapa de Flávio Bolsonaro, filho do atual presidente.
“Quem conhece Bolsonaro como eu conheço vota no Lula. Tenho que pagar uma penitência por 2018. Minha mulher costuma dizer que eu precisaria subir a escada da (igreja) Penha (no Rio) 50 vezes para pagar essa penitência. Como eu não tenho essa disposição toda, eu achei que agora não é mais o momento de ficar no voto nulo, no voto em branco. Precisa ter lado. Meu lado agora é apoiar o Lula”, disse Marinho, na saída do evento.
Marinho estava acompanhado da filha, a cantora Giulia Be, e do namorado dela Conor Kennedy, sobrinho-neto do ex-presidente americano John F. Kennedy (1917-1963). Marinho agora está filiado ao PSDB.
Também esteve presente o humorista, ex-Casseta, Marcelo Madureira, que votou em Bolsonaro na eleição de 2018. “Embora, sim, já fiz sim críticas ao PT, hoje faz-se necessário unir forças para que o governo Bolsonaro não permaneça em 2023”, escreveu. “Justamente por isso e por defender a democracia, votarei no Lula neste segundo turno”, disse.
MANIFESTO
O encontro serviu também para que o grupo Derrubando Muros entregasse para a campanha de Lula manifesto intitulado Agenda Inadiável, que foi elaborada nos últimos três anos por uma centena de intelectuais.
O documento de 75 páginas apresenta “propostas de políticas públicas para um Brasil democrático com justiça, prosperidade e esperança” em diversas áreas, como educação, saúde, segurança pública, economia, geopolítica e meio ambiente.
O grupo, que dialogou com diversas candidaturas nesta corrida eleitoral, também declarou apoio à Lula no segundo turno por considerar Bolsonaro inimigo da democracia.
“O bolsonarismo tornou o Brasil uma vergonha internacional. Potencializou a perda de centenas de milhares de vidas. Solapou as estruturas públicas da educação, do meio ambiente, da ciência. O Brasil simpático e musical foi substituído pela imagem das motociatas agressivas, das matas em chamas e pelos insultos do presidente da República”, está escrito em trecho do manifesto.
M. V.