Precisa teve um aumento de 6.000% nos contratos a partir do início do governo. Belcher intermediou a vacina mais cara de todas, US$ 17 por dose
Alvo da CPI da Covid, a Precisa Medicamentos conseguiu a representação da Covaxin, a vacina produzida pela empresa indiana Bharat Biotech, em janeiro deste ano quando uma delegação brasileira de empresários esteve naquele país para negociar a compra da vacina por empresas privadas. Nesta época, ou seja, em 8 de janeiro, Bolsonaro se comunica com o primeiro-ministro da Índia e fala sobre a Covaxin.
Francisco Maximiano, dono da empresa, chefiou a delegação ligada à Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC). Telegrama sigiloso do Ministério das Relações Exteriores afirma que o empresário foi recebido na embaixada brasileira em Nova Délhi. A partir de então, ela passou a representar a empresa indiana no Brasil.
Já em outubro do ano passado, o filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), escancarou as portas do BNDES ao dono da Precisa. Ele intermediou uma reunião de Francisco Maximiano com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, para liberar financiamentos. A empresa até então tinha apenas um contrato, de R$ 27,4 milhões, para fornecer preservativos femininos ao Ministério da Saúde, conseguido no governo Temer.
Após a posse de Bolsonaro os contratos da Precisa com o governo cresceram 6.000%. Quando a família Bolsonaro se aproximou do dono da Precisa ele já era investigado por ter recebido R$ 20 milhões do Ministério da Saúde por medicamentos de alto custo que nunca entregou. O negócio, porém, foi feito por uma outra empresa em nome de Francisco Maxmiano, a Global Saúde.
Além do crescimento exponencial da Precisa sob a gestão Bolsonaro, chamou a atenção do mercado o fato atípico de uma empresa que não vendia imunizantes – até então todos os contratos eram sobre preservativos – entrar nesse negócio de uma hora para outra. Nesse caso, a Precisa fechou em fevereiro último o contrato que prevê o envio de 20 milhões de doses da Covaxin, produzido pelo laboratório indiano Bharat Biotech, ao Brasil. O contrato tem o valor de R$ 1,6 bilhão.
Das seis vacinas compradas até agora pelo governo brasileiro, apenas a indiana foi negociada por meio de uma empresa intermediária que não vai produzir as doses. O valor da dose também é o mais alto até agora (US$ 15 por unidade). Além disso, negociações conduzidas algumas semanas antes, previam o preço de US$ 10 por dose, mas o contrato acabou sendo fechado a US$ 15 por dose.
No caso da Belcher, uma empresa com sede em Maringá, reduto eleitoral do deputado Ricardo Barros, e que negociou a vacina chinesa Convidecia com o Ministério da Saúde, foram 12 contratos a partir de 2020. A empresa virou alvo da CPI após tentar vender vacinas a um preço mais alto que o de todos os outros imunizantes já comprados até agora pelo governo federal.
A vacina Convidecia foi oferecida ao governo pela empresa Belcher com o preço final de US$ 17 por cada dose, valor acima do imunizante indiano Covaxin, o mais caro até agora oferecido ao Ministério da Saúde (US$15). Diante das denúncias de irregularidades e das denúncias feitas pelos irmãos Miranda, a fabricante chinesa rompeu unilateralmente com a representação da Belcher no Brasil.