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Após mais de dois anos sem carnaval, as escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo voltam a tomar as avenidas com a maior festa popular do país. A superação de uma das piores crises já enfrentadas e a importância da cultura popular como resistência marcaram o primeiro dia de desfiles deste final de semana.
Na Sapucaí, a Unidos de Viradouro, campeã carioca no último carnaval, em 2020, fez um paralelo entre o carnaval de 1919, logo após a gripe espanhola, com o atual momento de contexto de pandemia de Covid-19. O samba-enredo “Não Há Tristeza Que Possa Suportar Tanta Alegria” faz referência a um trecho de uma canção de baile do pré-carnaval de 1919 e demonstra um sentimento de esperança que não pode ser contido pelos reveses da crise sanitária, agravada pelo governo Bolsonaro.
Já a Salgueiro, terceira escola a desfilar na Sapucaí, trouxe como temática a resistência do negro e de sua cultura, elencando representações de territórios onde a cultura popular teve um importante papel de resistência do povo no Rio de Janeiro. Entre as representações estavam a Gamboa e Santo Cristo, praça XI – onde ficava a casa da famosa Tia Ciata, berço do samba-, a Pequena África, e claro, o próprio Morro do Salgueiro.
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A Mangueira também foi destaque, homenageando três grandes nomes do samba: Cartola, Jamelão e Delegado, o mestre dos mestres-sala do carnaval. O sambista Nelson Sargento, falecido em maio do ano passado aos 96 anos, também foi homenageado no carro abre-alas. Em um dos carros, rosas subiam a cada vez que Cartola entoava “As Rosas Não Falam”, um de seus maiores clássicos.
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Assim como a Salgueiro, a Beija-flor também trouxe a cultura negra como temática. Com o samba-enredo “Empretecer o pensamento é ouvir da voz da Beija-Flor”, a escola celebrou a riqueza da cultura negra e a história não contada pelos colonizadores europeus. Durante o desfile, a escola exaltou a luta, as conquistas, as artes e a intelectualidade de pessoas negras, incluindo personalidades da própria escola.
Na comissão de frente, a escola denunciou a violência que ceifa vidas, lembrando o assassinato de George Floyd, em 2020, surgida dos dizeres “vidas negras importam”, escritos na areia. Telões exibiam nomes de pessoas assassinadas recentemente no Brasil, como Moïse Kabagambe, congolês brutamente assassinado em um quiosque no Rio de Janeiro.
A São Clemente homenageou Paulo Gustavo, humorista que foi vítima da Covid-19 em maio de 2021. No desfile, a mãe do humorista foi um dos destaques, além da partição de amigos e colegas como os humoristas Fábio Porchat e Marcelo Adnet.
A FESTA NO ANHEMBI
Em São Paulo, a Acadêmicos do Tucuruvi abriu os desfiles, na sexta-feira (22), com o enredo “Carnavais… De Lá Para Cá, o que Mudou? Daqui Pra Lá, o Que Será?”. A escola trouxe no tema depoimentos de pessoas que vivem e trabalham no carnaval há muitos anos, e promove uma reflexão sobre a festa ao longo da história e sua permanência no futuro da cultura popular brasileira.
A comissão de frente, nomeada de “A Força da Nossa Raiz Ninguém pode Calar”, ilustrou a ancestralidade do carnaval, fazendo um resumo de todo o enredo que a escola apresenta na avenida. A escola trouxe, ainda, as bandeiras das 14 escolas do grupo especial, para simbolizar a força coletiva da festa popular. “Sou resistência” foi uma das mensagens estampadas pela escola, destacando a resistência do povo negro.
Segunda escola a atravessar o Anhembi, a Colorado do Brás homenageou a escritora Carolina Maria de Jesus com o enredo “Carolina – A Cinderela Negra do Canindé”, que cantou a história da ex-catadora de papelão e autora do livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada” (1960), que narra sua vida na favela do Canindé, onde a catadora viveu e foi “descoberta” pelo jornalista Audálio Dantas.
Vera Eunice, filha da escritora, desfilou ao lado do presidente Antônio Carlos Borges e do carnavalesco André Machado. A escola narrou diferentes momentos da vida de Carolina de Jesus. A comissão de frente, por exemplo, trouxe o embate entre a “elite literária” e a “ralé”, lembrando do preconceito de escritores após a publicação de “Quarto de despejo”.
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A Dragões da Real fechou o primeiro dia de desfiles das escolas do grupo. A escola homenageou um dos principais sambistas de São Paulo, o cantor e compositor Adoniran Barbosa (1912-1982), e pôde contar com participação do grupo Demônios da Garoa, grandes intérpretes das canções de Adoniram.
Músicas de Adoniran foram lembradas na letra do samba e no desfile, como Tiro ao Álvaro, Trem das Onze e Saudosa Maloca, representadas nas diferentes alas. A Dragões homenageou, ainda, algumas das escolas de samba mais tradicionais de São Paulo, entre elas, a Vai-vai, Nenê de Vila Matilde, Camisa Verde e Branco, Unidos do Peruche e Unidos de Vila Maria. Antes de entrar na avenida, os componentes da escola aqueceram os tambores cantando algumas músicas de Adoniran.
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