
Os EUA estão restabelecendo uma nova Inquisição, similar à infame da Europa medieval, e todos os que discordam dos Estados Unidos são rotulados de “hereges”, afirmou o jornal chinês em língua inglesa, Global Times, porta-voz oficioso de Pequim.
O GT condena a campanha de demonização e ‘cancelamento’ de tudo que é russo, usando como pretexto a crise na Ucrânia, provocada pela expansão da Otan.
E – aponta a publicação – “os EUA também querem amarrar e queimar os ‘hereges’ [os que não embarcam nesse discurso de ódio] tentando transformar em seus pilares a opinião pública internacional”.
Tentando pressionar oschineses, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, teve a petulância de acusar a China de estar “do lado errado da história” no conflito Rússia-Ucrânia. E foi imediatamente chaleirado pelo primeiro-ministro britânico Boris Johnson e seu homólogo australiano Scott Morrison.
“Não cabe a Washington decidir quem está ‘do lado errado da história’”, observa com propriedade o GT.
“Os EUA não podem forçar o rótulo que pertence a si mesmo a outrém”. O jornal salienta que foi o EUA “quem desencadeou o conflito” e que continua sendo “a maior mão escondida por trás da cortina, que fez a crise Rússia-Ucrânia chegar até onde está hoje”.
No entanto, “para a decepção dos EUA e seus subalternos” – acrescenta- “não podem encobrir o fato de que ainda são a minoria na comunidade internacional”. “Mais de 100 países não estão envolvidos na imposição de sanções contra a Rússia”.
O jornal também cita registro da Associated Press sobre o “silêncio da África”, quanto às pressões de Washington para adesões às sanções contra a Rússia.
“A atitude dos grandes países não ocidentais, incluindo Índia, Brasil e África do Sul, compartilham uma atitude semelhante à da China – esperando facilitar o diálogo pela paz e conter o conflito o mais rápido possível. Por quê? Porque todos com a mente sóbria podem ver que sanções extremas não ajudarão a resolver a crise. Pelo contrário, eles apenas adicionarão combustível ao fogo”.
Agora – assinala o jornal – Washington “quer pressionar a China a ‘condenar’ a Rússia para criar uma cisão nas relações China-Rússia”. “Em outras palavras, os EUA cavaram um buraco e imaginam que a China terá que pular nele”.
Para o GT, “esse bullying de espertinhos é muito ‘americano’”. “Mas há uma diferença fundamental entre a lógica da China e a dos EUA. A China sempre decidiu sua posição e política com base nos méritos do próprio assunto”, acrescenta.
A China – destacou – não tem interesse próprio na questão da Ucrânia e está fazendo “esforços reais para aliviar a crise humanitária enquanto pede paz e promove negociações”, o que contrasta fortemente com as operações inflamadas de Washington “de enviar armas e impor sanções extremas”.
Como expressão dessa atmosfera de santa inquisição, o GT registra que na semana passada, durante uma entrevista de 9 minutos com a CBS, o embaixador chinês nos EUA Qin Gang foi interrompido 23 vezes pelo apresentador. No mesmo programa naquele dia, o secretário do Pentágono, Lloyd Austin, e o líder republicano do Senado dos EUA, Mitch McConnell, nunca foram interrompidos pelo apresentador. O que o jornal considerou “um reflexo do clima político em Washington, onde qualquer voz dissidente é considerada ‘herética’”.