“O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias”, denunciou o chefe do Executivo brasileiro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou neste sábado (16) do encerramento do Fórum Social do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), no Rio de Janeiro. Ele recebeu do fórum do documento final aprovada na plenária final do encontro que contou com a participação de entidades da sociedade brasileira e de outros países integrantes do G20.
O presidente destacou que os interesses dos chamados mercados – leia-se monopólios financeiros – estão relegando ao segundo plano as necessidades da sociedade, dos trabalhadores e das pessoas comuns. “Para chegar ao coração dos cidadãos comuns, os governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a voz dos mercados” e a voz das ruas, disse Lula. “Para que o extremismo não gere retrocessos e ameace direitos”, acrescentou.
Lula voltou a criticar as políticas neoliberais, que ainda estão sendo aplicadas em várias partes do mundo e também no Brasil, onde o mercado financeiro, assim como a equipe econômica de seu governo estão empenhados em restringir o acesso dos pobres ao orçamento com cortes de verbas sociais e investimentos públicos.
“O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias”, denunciou o chefe do Executivo brasileiro. Ele também lembrou que “este ano foram gastos US$ 2,7 trilhões em armas enquanto 700 milhões de pessoas vão dormir sem ter o que comer”.
Ele cobrou que mais recursos sejam destinados ao combate à fome e ao bem estar das pessoas. “O G20 precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas. Precisa ouvir a juventude, que enfrentará as consequências das tarefas que deixarmos inacabadas”, destacou o presidente.
O documento aprovado pelo Fórum Social do G20 defendeu a “taxação progressiva dos super-ricos”, destacou que a democracia “está em risco quando forças da extrema direita promovem desinformação” e cobrou uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, com maior participação de países do Sul Global.
Assista o encerramento do Fórum Social do G20
Presidente Lula participa da Sessão de encerramento do G20 Social https://t.co/X5xZ5Cgwvc
— Lula (@LulaOficial) November 16, 2024
Leia aqui o discurso de Lula
Este é um momento histórico para mim e um momento histórico para o G20.
Ao longo deste ano, o grupo ganhou um terceiro pilar, que se somou aos pilares político e financeiro: o pilar social, construído por vocês.
Aqui tomam forma a expressão e a vontade coletiva, motivadas pela busca de um mundo mais democrático, justo e diverso.
De forma inédita, os grupos de engajamento puderam interagir com os chanceleres e com os ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais das maiores economias do planeta.
Tive a satisfação de dialogar pessoalmente com os representantes de cada grupo.
Nos últimos dias, pela primeira vez na trajetória do G20, a sociedade civil de várias partes do mundo, em suas mais diversas formas de organização, se reuniu para formular e apresentar suas demandas à Cúpula de Líderes.
Nos dezesseis anos desde a primeira Cúpula, o G20 se consolidou como o principal fórum de cooperação econômica mundial e como importante espaço de concertação política.
Mas a economia e a política internacional não são monopólio de especialistas e nem de burocratas.
Elas não estão só nos escritórios da Bolsa de Nova York ou da de São Paulo, nem só nos gabinetes de Washington, Pequim, Bruxelas ou Brasília.
Elas fazem parte do dia a dia de cada um de nós, alargando ou estreitando as nossas possibilidades.
Os membros do G20 têm o poder e a responsabilidade de fazer a diferença para muita gente.
Para as mulheres, ao fomentarem o empreendedorismo e a autonomia econômica feminina, como fez o Grupo de Trabalho sobre Empoderamento.
Para os povos tradicionais e indígenas, ao promoverem os produtos da biodiversidade, como fez a Iniciativa sobre a Bioeconomia.
Para os afrodescendentes, ao adotarem o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 18 sobre igualdade racial, como fez o Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento.
Para o planeta, ao incentivarem a ambição climática em linha com o objetivo de limitar o aquecimento global a um grau e meio, como fez a Força-Tarefa do Clima.
Nada disso teria sido possível sem a contribuição de todos vocês que estão aqui hoje.
A presidência brasileira não teria avançado nas três prioridades que escolheu se não fosse a participação decisiva das organizações e movimentos que integram o G20 Social.
A mobilização permanente de vocês será fundamental:
• para impulsionar os trabalhos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e avançar na tributação dos super-ricos;
• para garantir o cumprimento das metas de triplicar o uso de energias renováveis e antecipar a neutralidade de emissões;
• e para levar adiante nosso Chamado à Ação pela Reforma da Governança Global, assegurando instituições multilaterais mais representativas.
A presidência brasileira do G20 deixará um legado robusto de realizações, mas ainda há muito por fazer para melhorar a vida das pessoas.
Para chegar ao coração dos cidadãos comuns, os Governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a “voz dos mercados” e a “voz das ruas”.
O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias.
O G20 precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas.
Precisa ouvir a juventude, que enfrentará as consequências das tarefas que deixarmos inacabadas.
Precisa preservar o espaço público, para que o extremismo não gere retrocessos nem ameace direitos.
Precisa se comprometer com a paz, para que rivalidades geopolíticas e conflitos não nos desviem do caminho do desenvolvimento sustentável.
Vou levar as recomendações contidas na declaração final que vocês me entregaram aos demais líderes do G20 e trabalhar com a África do Sul para que elas sejam consideradas nas discussões do grupo.
Espero que esse pilar social do G20 continue nos próximos anos, abrindo cada vez mais nossas discussões para o engajamento da cidadania.
Essa cerimônia de encerramento marca o começo de uma nova etapa, que exigirá um trabalho contínuo durante os 365 dias do ano e não só às vésperas das reuniões de líderes.
Também conto com a força de vontade e o dinamismo da sociedade civil para dois outros eventos que o Brasil sediará no próximo ano: a Cúpula do BRICS e a COP 30.
Nós vamos seguir construindo, juntos, um mundo justo e um planeta sustentável.
Muito obrigado.