
O número não é exato, mas amedronta e revolta.
59 milhões de brasileiros ingressaram em 2021 com a notícia de que a partir de janeiro já não mais receberão os R$ 300 do auxílio emergencial pagos até dezembro de 2020, depois que foram solapados à metade pela sovinice de Guedes e cia.
Foi o presente de Natal de Bolsonaro a esses homens e mulheres que, por conta da pandemia, recrudescida já no final do ano que se encerrou, não tinham, como continuam não tendo, condições de auferir uma renda mínima capaz de prover o sustento de suas famílias.
Pensou-se num programa mais abrangente que o Bolsa Família com o pomposo nome de Bolsa Cidadã, mas nada disso saiu das pranchetas dos técnicos do Ministério da Economia que, sob Guedes, estão muito mais preocupados com a saúde financeira do Tesouro (mais exatamente: dos bancos privados e demais arapucas financeiras) do que com a saúde física e mental dos brasileiros, afinal, o que importa é a “responsabilidade fiscal” com o orçamento da República. A social, que se dane!
A primeira poderia ser facilmente contornada com a extensão do estado de calamidade, hoje restrita aos decretos estaduais de alcance limitado na capacidade de socorrer os mais necessitados. Já, a segunda, é a que menos importa para um governo clamorosamente insensível à situação dos mais pobres que não terão o que comer a partir deste mês, conforme assinalaram vários analistas.
O que farão esses brasileiros no despertar do ano novo, que de novo nada será para eles?
Encontrarão os empregos prometidos desde a infortunada ‘reforma’ trabalhista que ficaram dramaticamente escassos sob Guedes e Bolsonaro?
Buscarão abrigo nos ‘contratos’ intermitentes que fazem, hoje, do trabalhador um verdadeiro escravo?
Terão espaço para se tornarem empreendedores ou autônomos em uma economia sob forte retração, dominada pelo apetite ilimitado de bancos e grandes corporações, nacionais e estrangeiras, aos quais o governo nega qualquer tipo de controle, inclusive sobre os preços em geral, que corroem o bolso dos mais pobres, de bens e serviços absolutamente indispensáveis à sobrevivência humana?
Infelizmente, esses milhões de brasileiros dificilmente serão contemplados por alguma dessas opções, o que provocará, inescapavelmente, a explosão dos índices já bastante alarmantes de desemprego e de desigualdade social.
Estará o país diante de uma perversa conjugação de fatores cujas consequências são imprevisíveis: falta de emprego formal e trabalho informal (bicos), fim do auxílio emergencial e retorno impetuoso da carestia.
Nem mesmo o BEM – Benefício de Manutenção de Emprego e Renda, que preservou muitas empresas, ainda que às custas da redução de jornada e de salário de seus funcionários, será renovado, em que pese o alerta de inúmeros segmentos econômicos e centrais sindicais do impacto negativo da medida para o setor produtivo, os empregos e a renda dos trabalhadores.
Como se fosse pouco, Bolsonaro acaba de vetar dispositivos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) subtraindo do orçamento do ano que se inicia os recursos até então destinados à defesa da saúde pública, da educação e dos programas sociais, entre outras áreas – um verdadeiro escárnio!
Trata-se de um cenário rigorosamente explosivo do ponto de vista econômico e social.
Como essa explosão se manifestará, é difícil prever, podendo, inclusive, ser silenciosa. Mas uma coisa é certa, ela acontecerá! e os mais humildes e desprotegidos serão ainda mais afetados pelo descaso e a omissão governamentais, em pleno agravamento da crise sanitária, não tendo a quem recorrer, sequer, para alimentar seus filhos, comprar o gás de cozinha, pagar a conta de luz ou a tarifa do ônibus.
Não bastou a negação da Covid-19, da ciência e da vacina, que resultou na morte, até agora, de quase 200 mil brasileiros.
Não bastou a sabotagem ao emprego e à renda dos trabalhadores.
Não bastou o extermínio de centenas de milhares de pequenas, médias e, até, grandes empresas nacionais.
Assim como não bastou os frequentes atentados à democracia, às instituições republicanas e aos direitos do povo.
Nada disso foi suficiente.
A impulsão sádica, traço da personalidade de Bolsonaro e seus acólitos, não tem limites, configurando-se como genocida – da vida, do emprego, da renda, das empresas, enfim, da esperança de milhões de brasileiros.
Agora, que o autoproclamado ungido da divindade, ao lado do sucumbente Trump, chegou ao poder, esses brasileiros terão que passar por um calvário de sacrifício.
Nenhum outro governo em nossa história ousou tanto.
Esquecem, todavia, que não faltará, do outro lado, ousadia em dobro para que o tombo dessa escória ocorra o mais rapidamente possível, pois o bolsonarismo transformou-se em nosso país no pior e mais desprezível dos dogmas, pela negação e repulsa que traz, em seu âmago, ao Brasil, sua história, seu povo e suas conquistas civilizatórias.
MAC