Decisão ocorreu após Costa Neto liberar Estados, como Pernambuco, a terem autonomia e atuarem como acharem melhor nas eleições de 2022, sem o compromisso de apoiarem Bolsonaro
Em nota lacônica, assinada pelo presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, o PL anunciou o adiamento da filiação de Bolsonaro (Sem partido) ao partido e o cancelamento da data de 22 de novembro que estava marcada para acontecer o ato.
“Após intensa troca de mensagens na madrugada deste domingo, 14, com o Presidente Jair Bolsonaro, decidimos, de comum acordo, pelo adiamento da anunciada cerimônia de filiação”. E completou: “Portanto, a data de 22 de novembro foi cancelada, não havendo, ainda, uma nova data para o compromisso de filiação.”
Assim, por meio da nota, Costa Neto informou ao partido que a filiação foi cancelada, “sine die”, isto é, sem nova data agendada.
O PL, com o PP (Progressistas), partido liderado pelo senador licenciado, ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), formam o chamado “núcleo duro” do Centrão.
DO GRUPO DE DEPUTADOS PARA O MUNDO
A nota foi publicada no grupo de deputados federais do PL.
A decisão ocorreu após Costa Neto liberar Estados, como Pernambuco, a terem autonomia e atuarem como acharem melhor nas eleições de 2022, sem o compromisso de apoiarem Bolsonaro.
Neste domingo, Bolsonaro já havia dito que considera difícil a filiação dele ao PL ocorrer no próximo dia 22, como estava previsto.
Segundo Bolsonaro, divergências em composições estaduais na eleição do ano que vem colocam em dúvida a migração para o partido.
ESDRÚXULAS METÁFORAS
“O casamento tem que ser perfeito. Se não for 100%, que seja 99%. Se até lá nós afinarmos pode ser, mas eu acho difícil essa data, 22. Tenho conversado com ele [Valdemar Costa Neto], estamos de comum acordo que podemos atrasar um pouco esse casamento, para que ele não comece sendo muito igual aos outros”, afirmou Bolsonaro, que fez as declarações durante visita à Dubai Air Show, feira aérea no emirado do Golfo Pérsico.
Bolsonaro gosta dessas analogias ou metáforas relacionadas a casamento. Ele sempre faz essa relação da política com casamento entre pessoas. É algo, pode-se dizer assim, meio brega, mas parece que desse modo ele dialoga com o eleitor mais engajado dele.
Não dá para esperar nada mais elaborado de Bolsonaro, que é intelectualmente e politicamente limitadíssimo.
Um dos grandes entraves à filiação, de acordo com Bolsonaro, é a situação de São Paulo, onde o PL tem a intenção de apoiar a candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB) ao governo do Estado. Em SP, Bolsonaro quer o PL sob o controle de seu filho, Eduardo Bolsonaro, mas isso parece impossível para Valdemar Costa Neto, presidente nacional da legenda.
Os bolsonaristas descartam essa hipótese, já que Garcia terá o apoio do atual governador, João Doria (PSDB), um dos principais adversários do presidente da República, no Estado, e na própria disputa presidencial, pois Doria poderá ser o candidato do partido ao Planalto.
“A gente não vai aceitar em São Paulo o PL apoiar alguém do PSDB. Não tenho candidato em São Paulo ainda, talvez o Tarcísio aceite esse desafio. Seria muito bom para São Paulo e para o Brasil, mas temos muita coisa a afinar ainda”, afirmou o sem partido.
DESAGREGADOR E INCOMPETENTE
Eleito presidente pelo PSL em 2018, Bolsonaro deixou o partido em 2019 em meio a divergências com a cúpula da legenda. Na ocasião, chegou a articular a criação de nova sigla, a Aliança Pelo Brasil, que não passou da fase de coleta de assinaturas.
Bolsonaro foi incapaz na Presidência da República de articular a criação de partido para “chamar de seu”. Agora, está às voltas para capturar uma sigla e tentar a reeleição em 2022.
Depois de meses de indefinição sobre o futuro partido de Bolsonaro, o PL anunciou nesta semana que o presidente entraria para a sigla. Mas, agora, o desfecho terá que esperar mais um pouco.
M. V.
Ameaça de debandada de parlamentares no Nordeste com a entrada de Bolsonaro no PL
Além desses problemas que levaram ao cancelamento da filiação, Bolsonaro provocou uma ameaça de debandada no Nordeste, caso entrrasse na sigla.
Após o anúncio da filiação de Jair Bolsonaro ao PL, a cúpula do partido estava enfrentado muita dor de cabeça para tentar conter uma debandada de parlamentares e filiados dos seus quadros em estados do Nordeste.
Na sexta-feira (12), por exemplo, o presidente nacional da sigla teve que divulgar uma nota oficial em que afirma que as decisões sobre coligações nas eleições de 2022 em Pernambuco serão tomadas pela direção estadual do partido.
A nota foi interpretada como uma manobra para evitar a saída de quadros que desejam fazer alianças com candidatos de oposição a Bolsonaro.
Entretanto, os problemas criados pela adesão do presidente ao partido ameaçavam se espraiar.
O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL/AM), sinalizou que deve mudar de partido. Um dos principais nomes no partido, atualmente, ele declarou ao site Congresso em Foco que só definirá o seu destino político depois que retornar ao Brasil, na semana que vem, depois de participar da COP-26 em Glasgow, na Escócia.
Mas adiantou que a decisão de não subir no mesmo palanque que o presidente Jair Bolsonaro já está tomada.
“Tem uma decisão que eu já tomei há um tempo e que vou reafirmar, porque ela é imutável, ela é inegociável: eu não estarei no palanque do presidente Bolsonaro”, disse.