“Não foi apenas negligência”, disse o governador, no programa do jornalista Osvaldo Bertolino
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), afirmou que a política praticada por Bolsonaro na pandemia “não foi apenas negligência”, foi uma “política objetivamente genocida, que dolosamente foi aplicada”.
O governador fez esta declaração durante participação no programa Roda de Conversa, no canal do jornalista e escritor Osvaldo Bertolino, no YouTube e Facebook. O título do encontro, realizado na segunda-feira (5), foi “O Brasil do futuro”.
O programa teve ainda a participação do ex-deputado federal constituinte e analista político Luiz Salomão. Além de Bertolino, Jorge Gregory, jornalista e professor universitário, e Luiz Manfredini, jornalista e escritor, foram os entrevistadores de Flávio Dino.
Respondendo a uma pergunta de Jorge Gregory sobre a CPI da Pandemia, Flávio Dino disse que a comissão tem que cumprir duas tarefas: investigar a “política objetivamente genocida que dolosamente foi aplicada” e a apuração das máfias corruptas no Ministério da Saúde.
Para Flávio Dino, a ação de Bolsonaro na pandemia foi um “planejamento”. “Houve omissões, ações, fruto desse planejamento assentado na ideia da imunidade coletiva obtida pela contaminação das pessoas. E isto acabou abrindo espaço, ou abrindo mercado, para toda a sorte de oportunistas. Como a “estratégia” – entre aspas – não deu certo aí se implantaram as máfias. Máfia da cloroquina é uma delas. Depois a máfia das vacinas”, disse Dino, referindo-se às denúncias de corrupção que a CPI está investigando.
“Isso para mim está muito claro, não foi apenas negligência, era um planejamento, estranho planejamento, mas planejamento que foi executado, inclusive”, frisou o governador.
“O segundo eixo, o das máfias deve ser objeto da CPI, que deve investigar os dois eixos”, disse.
Para Flávio Dino, tudo isso aconteceu obedecendo ao comando de Bolsonaro.
O governador do Maranhão considera que a CPI da Pandemia está fazendo um grande papel. “A CPI tem hoje um papel insubstituível no nosso país”, assinalou.
“A CPI tem um grande papel, sem dúvida, de apurar o que aconteceu no passado, fazer o encadeamento fático dessas omissões e ações que resultaram nessa tragédia dos indicadores sanitários e também certamente a CPI corrige o futuro”, observou o governador.
Ele acrescentou que como não há ainda “um cenário objetivo de saída da pandemia”, é muito importante que “a CPI possa, inclusive, pressionar para que medidas corretas sejam adotadas, uma vez que nós temos ainda uma taxa diária muito assustadora de óbitos e casos”.
Ao questionamento do jornalista Osvaldo Bertolino sobre o descontrole de Bolsonaro com as apurações da comissão, Flávio Dino concordou que as revelações da CPI, associadas à deterioração do apoio popular a Bolsonaro, como mostrou a pesquisa da CNT/MDA divulgada na segunda-feira (5), têm deixado Bolsonaro em desespero adotando “uma linha abertamente golpista, cada vez mais agressiva. Ele tem feito chantagens seguidas contra o Supremo tribunal Federal e o próprio Tribunal Superior Eleitoral”.
“Se isso não for crime de responsabilidade, eu não sei mais como conceituá-lo, porque é algo, inclusive reiterado, reincidência na linguagem do Direito Penal”. “Fruto exatamente desse descontrole emocional do presidente da República”.
Veja na íntegra:
Flávio Dino ainda comentou sobre os ataques de Bolsonaro contra os governadores, especialmente contra os que integram o Consórcio do Nordeste.
“Os governadores tiveram uma atitude de modo geral de muito compromisso, muita seriedade, no enfrentamento da pandemia. E Bolsonaro quis obrigar, coagir, os governadores a seguirem os seus pressupostos tresloucados no que se refere à pandemia. Então isso gerou desde o ano passado essa situação de intolerância, até quase de violência do bolsonarismo contra os governadores”, analisou.
O governador enfatizou o papel dos governadores no enfrentamento ao golpismo bolsonarista. “Uma das forças de contenção do golpismo tem sido a atuação dos governadores, como contraponto, mostrando na prática como fazer, e mostrando práticas melhores do que as do governo federal”.
“Na verdade, Bolsonaro não tem relação próxima com nenhum governador do país, porque a bem da verdade ele é uma pessoa bem autoritária. Basta ver o que ele faz com a equipe dele. Ele demite ministro toda hora. Como ele não pode demitir governador, ele briga. Então é realmente uma personalidade ditatorial”, destacou.
O jornalista e escritor Luiz Manfredini perguntou até quando o centrão ficará ao lado de Bolsonaro e ele respondeu que a “história mostra que esse aglomerado que se convencionou chamar de centrão é muito heterogêneo”.
“Hoje ele está por ali aprovando as matérias de interesse do governo, mas não é algo que tenha organicidade. É algo assim sem rosto, sem face, sem ideário, algo que se aglomera. Com posições diferentes desse bloco”, continuou.
“Eu acredito que essa deterioração [popular] de Bolsonaro, a meu ver irreversível, levará a que, até o final do ano, muita gente desembarque do bolsonarismo”, avaliou.
O governador do Maranhão também disse que a situação econômica do país está muito mais deteriorada hoje com o governo Bolsonaro.
“Perdemos nossa capacidade de influenciar outras nações, a nossa participação em patentes e pesquisas é muito pequena. Então temos em muitos sentidos uma plantation”. “É verdade que é uma plantation do século 21, não uma plantation clássica, porque agrega tecnologia, é um agronegócio, um agrobusiness, de alta tecnologia, mas uma plantation do século 21”, disse Flávio Dino.
O ex-deputado Luiz Salomão reforçou a fala de Flávio Dino sobre as carências econômicas no Brasil de hoje, destacando que o país está se desindustrializando e voltando a uma economia com base em produtos primários. Ele defendeu que é fundamental a luta para o Brasil se reindustrializar.