“A iniciativa foi da Flordelis, ela foi a mentora. Os demais indiciados agiram de acordo com ela, mas ela foi a mentora”, considerou o delegado Allan Duarte
O delegado Allan Duarte afirmou, nesta terça-feira (12), durante o julgamento do assassinato do pastor Anderson do Carmo, que a ex-deputada Flordelis foi a mentora da morte do marido. Ele estava à frente da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) durante as investigações da morte do pastor.
Nesta terça aconteceu mais uma etapa do julgamento. Os acusados Adriano dos Santos Rodrigues (filho biológico), Carlos Ubiraci Francisco da Silva (filho afetivo), Marcos Siqueira Costa (ex-policial militar) e Andrea Santos Maia (mulher de Marcos Siqueira) começaram a ser julgados.
Ao ser perguntado pela juíza Nearis dos Santos Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, para esclarecimento dos jurados, sobre o envolvimento dos julgados ali presentes, o delegado foi enfático ao afirmar que eles apenas colaboraram para que o crime acontecesse. “A iniciativa foi da Flordelis, ela foi a mentora. Os demais indiciados agiram de acordo com ela, mas ela foi a mentora”.
O delegado ainda negou que a tese de que Anderson do Carmo agredia a ex-deputada federal seja verídica. “Não ficou comprovado que Anderson promovia violência doméstica contra Flordelis. Há notícia que dele que promovia agressão contra crianças da casa, mas nada foi comprovado”, disse sobre os depoimentos que ouviu na época.
Sobre a ida do pastor Anderson do Carmo e Flordelis a uma casa de swing no dia do crime, o delegado afirmou que “não ficou comprovado que eles teriam ido à casa de swing. Considerei isso um dado satélite. No dia do fato houve notícia de que eles teriam ido à casa de troca de casais, mas não considerei porque tinha que determinar a autoria e participações. Ficou em segundo plano”, disse ele que também afirmou não ter ficado comprovado que Anderson do Carmo promovia alguma violência sexual na casa da família.
A delegada Bárbara Lomba Bueno, que era titular da delegacia de homicídio de Niterói na época do crime, também negou informações que sustentasse que houve abuso. “Essa informação de abuso não foi confirmada. Ninguém falou isso. Tinha relação consentida entre as pessoas, mas ninguém falou em abuso.”
Segundo a delegada, a motivação para o assassinato foi o poder que o pastor tinha acumulado sobre o esquema chefiado pelo casal.
Ela afirmou que o pastor exercia controle sobre diversos aspectos da vida de Flordelis, sobretudo o financeiro e que essa dinâmica aumentou após a ex-deputada ter sido eleita, em 2018. Ela teve a quinta maior votação do estado, na época, mais de 196 mil votos.
“Quando ele consegue elegê-la, o poder dele se multiplica, cresce muito. Embora ele não tivesse posição formal dentro do gabinete, ele era o articulador político. Dizia onde ela tinha que sentar e para quem ela tinha que olhar”, disse a delegada.
“A Flordelis em certo momento já não tinha controle exclusivo sobre as coisas dela, só talvez sobre a remuneração como deputada, mas ela já não tinha controle sobre a própria vida financeira.”
Segundo a delegada, o núcleo da família que se voltou contra Anderson entendia que o que eles tinham havia sido construído graças à imagem de Flordelis. O poder, porém, estava concentrado nas mãos de Anderson.
“Já havia descontentamento antes da eleição por causa do modo como o Anderson mandava nas coisas”, diz a delegada. “Quando ela vira deputada, há uma decisão que a atuação de Anderson tinha que ser interrompida, mas não pela separação.”
ESCANDALIZAR O NOME DE DEUS
Segundo Bueno a decisão de matar o pastor foi tomada porque Flordelis considerava que se separar poderia manchar sua imagem e a da família tradicional que ela tentava sustentar.
Em uma troca de mensagens reveladas na investigação, Flordelis chega a dizer: “Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus'”, escreveu ela.
Uma das estratégias da defesa de Flordelis é tentar desconstruir a imagem de Anderson, dizendo que a pastora e suas filhas foram vítimas de abusos sexuais, emocionais e patrimoniais.
Devido ao grande número de réus, a sessão precisou ser desmembrada e Flordelis só será julgada no dia 9 de maio. O julgamento é presidido pela juíza Nearis dos Santos Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói e os crimes que serão julgados são: homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, uso de documento falso, associação criminosa armada e falsidade ideológica.
Flordelis foi presa em agosto de 2021, dois dias após ter seu mandato cassado, e sempre negou participação no crime.