“Não é proibido você ter uma opção política, o que é proibido, é inaceitável, é a agressão do ser humano ao ser humano, como meu irmão recebeu naquele momento. Isso tem que ser condenado”, acrescentou Donizete, que é apoiador Bolsonaro
O irmão de Marcelo Arruda, Luiz Donizete, disse que o assassinato cometido por um bolsonarista foi, sem dúvidas, “um ato político” e clamou por paz e união entre os brasileiros.
“Aquele camarada [Jorge Guaranho] chegou lá e só teve aquela reação maldita porque viu um movimento [político] diferente do dele. E qual é o problema de o Marcelo ter um movimento diferente de qualquer outra pessoa?”, disse Donizete.
A família de Marcelo Arruda realizou, no domingo (17), um ato pedindo justiça, durante o qual Luiz Donizete condenou o que ele chamou de “ato insano” contra seu irmão. Estavam presentes no ato o pré-candidato a governador Roberto Requião (PT) e a presidente nacional do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann.
“Não é proibido você ter uma opção política, o que é proibido, é inaceitável, é a agressão do ser humano ao ser humano, como meu irmão recebeu naquele momento. Isso tem que ser condenado”, acrescentou Luiz Donizete.
“Não abram mão de condenar quem comete ato insano, como o que aconteceu com Marcelo”, conclamou.
“Marcelo era um cidadão das forças policiais, mas tinha no coração dele a paz e, naquele momento lá, inclusive, tinha pessoas de opções políticas adversas do Marcelo e nem por isso deixaram de ir lá” afirmou.
Seu irmão, Marcelo Arruda, era dirigente do PT de Foz de Iguaçu (PR) e foi assassinado pelo bolsonarista Jorge Guaranho durante sua festa de aniversário de 50 anos. Jorge Guaranho, o assassino, gritou “aqui é Bolsonaro” antes de cometer o homicídio.
Luiz Donizete é apoiador de Bolsonaro e, junto com outro irmão, o João, recebeu uma ligação do chefe do Executivo, que queria usá-los para dizer que não houve nenhuma motivação política no assassinato.
Bolsonaro ainda os convidou para uma entrevista coletiva, onde deveriam defender que não houve nada de política no homicídio.
Donizete, porém, disse claramente que o assassinato foi um “ato político”, diferente do que aponta Bolsonaro. Luiz acredita que “a gente tem que ter um Brasil único, de brasileiros, que queiramos viver em paz”.
“Independentemente de lado A ou B, [temos que] condenar todo e qualquer ato de violência, seja ele de qual lado for. Isso a gente não pode abrir mão”, afirmou.
“Se a gente continuar nessa toada, não vamos ter um Brasil com calma para que a gente possa viver aqui com decência, que a gente possa fazer o que quiser independente da linha política”.
“Não é porque ele [Marcelo] tinha um lado político, de repente, diferente do meu que o amor de família, de cidadãos, de nós brasileiros, tem que ser diferente”, pontuou.
“Hoje é a minha família, a nossa família, que está com essa dor. Amanhã será outra família. Esse momento vai passar, a política vai se acalmar e a gente vai guardar para sempre aquela dor no peito, no coração, que eu estou sentindo nesse momento em relação ao meu irmão”, acrescentou.
Luiz Donizete reafirmou que atos como o que tirou a vida do seu irmão devem ser condenados veementemente. “É isso que devemos fazer, condenar todo o ato que seja de ignorância e de ataque”.
O ex-senador e ex-governador, Roberto Requião (PT), pré-candidato ao governo do Paraná, expressou sua revolta com o assassinato de Marcelo. “Estou tomado pela indignação com o que aconteceu com o companheiro Marcelo Arruda. Estou horrorizado com tudo que aconteceu”, enfatizou o ex-governador.
“O fato ocorrido aqui foi inspirado pelo comportamento irracional e intolerável do presidente da República, que simula a violência e influencia de forma clara uma minoria de pessoas”, destacou Requião.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, pediu que atos como esse não sejam “normalizados”.
“Não podemos deixar normalizar crimes e assassinatos como esse, sob pena de transformarmos um processo político, eleitoral, em um banho de sangue da população brasileira. O caso do Marcelo não é um caso isolado, não é uma briga de vizinho, que já seria trágica, mas não é”, disse Gleisi,
VIGILANTE
A vigilante do local onde acontecia a festa de aniversário, Daniele Lima, disse que Guaranho gritou “aqui é Bolsonaro” quando passou de carro em frente ao salão para provocar a briga e também quando voltou lá para cometer o assassinato.
Ela prestou depoimento à Polícia Civil do Paraná, que mesmo assim disse que não viu motivação política para o crime.
Jair Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão, deram declarações no sentido de fingir que o assassinato aconteceu por uma briga de bêbados, dessas que “ocorrem todo final de semana nas nossas cidades”.
A policial civil, Pâmela Silva, a viúva de Marcelo, que também era policial, declarou ao UOL que, apesar de ter posição política divergente, seu marido sempre respeitou os irmãos e eles sempre conversavam. Luiz, inclusive, foi quem providenciou o local para a comemoração do aniversário, e só não esteve presente porque precisou resolver “uma emergência” em outra cidade. A cunhada de Marcelo, esposa de Luiz, contudo, participou da festa.
Ela expressou sua surpresa pelo contato dos irmãos do seu marido com Bolsonaro.
No ato realizado no domingo, Pámela pediu justiça e aprofundamento das investigações do crime.
“Eu não desejo a ninguém essa dor que estamos sentindo. Não sei como vai ser daqui para frente com os meus filhos. O Pedro tem 45 dias e não vai ter nem a chance de ter convivido com o pai. Eu só peço por justiça pelo nome do Marcelo, pela história que ele teve, e pela família do Marcelo, que não pode ser desvinculada do nome do Marcelo. É uma família humilde, mas muito unida e com muito amor”, disse Pâmela.
SEGURANÇA
O segurança da Itaipu Binacional, Claudinei Coco Esquarcini, que é responsável pela instalação e manutenção dos sistema de monitoramento da Associação Recreativa e Esportiva da Segurança Física (Aresf), local onde ocorreu o crime contra Marcelo, se jogou do alto de uma ponte no município de Medianeira (PR) no domingo (17). O corpo foi encontrado e a causa mortis é “violenta – queda de plano elevado”, segundo o obituário.
Guaranho, que assassinou Marcelo Arruda, teria visto a festa temática de Lula e do PT por meio de imagens da câmara de monitoramento.
A defesa da família de Marcelo Arruda entrou com uma petição nesta segunda-feira (18) junto à Justiça da 3ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu solicitando a apreensão do celular de Esquarcini, que foi citado pelo presidente da Aresf, Antonio Marcos de Souza, em depoimento à Polícia Civil.