O jornal Folha de S. Paulo e o Grupo Globo denunciaram nesta segunda-feira (25) as agressões crescentes e a falta de segurança para seus profissionais na cobertura jornalística do Palácio da Alvorada, em Brasília. A Band informou que tira os repórteres nesta terça-feira (26).
Seguidores de Bolsonaro, cada vez em menor número mas também cada vez mais raivosos, são levados a ficar lado a lado com os jornalistas. Apenas uma grade fica entre os dois grupos. Eles têm insultado de forma cada vez mais agressiva os profissionais de imprensa, de todos os veículos, que estão ali trabalhando.
Os dois órgãos de imprensa informaram que suspenderam as atividades jornalísticas no local por conta das ameaças que seus repórteres têm recebido. “Como a animosidade dos militantes tem sido crescente, e sem que haja providências por parte das autoridades para proteger os jornalistas, o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo comunicou a decisão, por carta, ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno”, disse o Grupo Globo.
A Folha também comunicou a decisão. Nesta segunda-feira (25), apoiadores de Jair Bolsonaro hostilizaram jornalistas, numa prática que tem sido recorrente diariamente na porta da residência oficial. Pouco antes dessas agressões verbais, o presidente, ao passar perto dos repórteres, criticou a imprensa. “No dia que vocês tiverem compromisso com a verdade, eu falo com vocês de novo”, disse. Alguns simpatizantes dele apoiaram respondendo “Isso aí”.
Segundo a Folha de S. Paulo, uma mulher passou pela fila dos jornalistas repetindo: “Ó o lixo, ó o lixo, ó o lixo”. “Escória! Lixos! Ratos! Ratazanas! Bolsonaro até 2050! Imprensa podre! Comunistas”, berrou a mulher, enquanto outros gritavam repetidamente “mídia lixo”. “Sem vergonha. Vocês não mostram a realidade!”, disse outra mulher. “Eu não sei como vocês conseguem dormir à noite. Vocês não representam a população brasileira! Mídia comunista, comprada! Cambada de safados!”, gritou um homem.
A Folha disse que questionou sobre o episódio desta segunda o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança do Alvorada, e a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom). Não houve resposta até a divulgação da reportagem. “O jornal pretende retomar a cobertura no local somente depois das garantias de segurança aos profissionais por parte do Palácio do Planalto”, diz o jornal.
Há duas semanas, jornalistas e repórteres fotográficos foram agredidos na manifestação golpista em que Bolsonaro participou em frente ao Palácio do Planalto. O fotógrafo do Estadão, Dida Sampaio, foi agredido com socos e pontapés.
Jornalistas da Folha e da TV Globo foram hostilizados, sem que Bolsonaro fizesse qualquer condenação contra a violência. Alegou que não pôde controlar a sua claque raivosa. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) vem protestando com veemência contra os termos desrespeitosos com que o presidente Jair Bolsonaro se dirige aos jornalistas no Alvorada.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) afirmou que os episódios representam um cerceamento à atividade jornalística. “Ao cassar a palavra e ameaçar jornalistas, Bolsonaro tenta impedir que as questões de interesse público sejam tratadas. Apesar das ameaças, a verdadeira imprensa e os jornalistas comprometidos com a sua nobre profissão não se intimidarão. Continuarão a tratar os assuntos que julgarem pertinentes e de interesse da sociedade”, disse Paulo Jerônimo Sousa, presidente da ABI.