O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) exonerou o chefe do Centro de Operações Aéreas, Joaquim Olímpio Augusto Morelli. O servidor multou Bolsonaro em 2012, deputado federal na época, em R$ 10 mil por pescar em área ambiental protegida.
O Centro de Operações Aéreas é subordinado à Diretoria de Proteção Ambiental, sendo Joaquim Morelli o único entre nove funcionários do mesmo nível hierárquico dessa diretoria a ser exonerado pelo novo governo.
Concursado, Morelli é o fiscal que assina o auto de infração e o relatório do flagrante de Bolsonaro. Também é o autor da foto na qual o Bolsonaro aparece de sunga branca sobre o bote inflável, dentro da Estação Ecológica de Tamoios, categoria de área protegida que não permite a presença humana, em Angra dos Reis (RJ).
Na ocasião Bolsonaro usou seu espaço na Câmara para reclamar por Morelli cumprir com os deveres de sua função.
“Fui abordado por um barco do Ibama. A primeira coisa que falou pra mim foi, que estava com duas pessoas da região, é: ‘sai!’. Como se fosse um cachorro”, discursou Bolsonaro, em março de 2012. “Esse cidadão aqui, repito o nome dele, José Augusto Morelli, falou: ‘Sai! Aqui, ninguém pode pescar, seja deputado ou não seja, porque o decreto que vocês votam tem de ser respeitado’.”, reclamou Bolsonaro.
“Eu fui obrigado a responder no mesmo tom, adjetivando o senhor Morelli e dizendo que não votamos o decreto”, disse.
Para demonstrar seu apreço às leis de proteção ambiental, Bolsonaro declarou: “Eu vou pescar no Carnaval lá. E não venham com ignorância porque o bicho vai pegar”. Porém, não voltou a pescar no local.
No ano seguinte, em retaliação, Bolsonaro apresentou na Câmara um projeto de lei, um dos poucos em seus quase 30 anos como parlamentar, para desarmar todos os fiscais do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em operações de campo, em contradição ao seu discurso “armas para todos”. O projeto acabou arquivado.
Desde a campanha eleitoral no ano passado, Bolsonaro apresenta críticas ao que chama de “indústria da multa” do Ibama.
Em dezembro, a superintendência do órgão no Rio de Janeiro anulou a multa, e o processo voltou à estaca zero, porém, a decisão está sendo investigada pelo Ministério Público Federal.
Já para o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o fato de ele estar com uma vara de pesca na mão em área protegida não era evidência suficiente para a autuação. Salles argumentou em dezembro que “ele foi multado porque estava com uma vara de pesca. O fiscal presumiu que ele estava pescando. Então, veja bem, o exemplo que você deu já mostra como a questão ideológica permeia a atuação estatal nesses casos”, afirmou, em dezembro.
Segundo reportagem da Folha, Morelli foi chamado para ser informado de sua demissão em 25 de janeiro, dia do desastre em Brumadinho (MG). O presidente do Ibama, Eduardo Bim, adiou a exoneração, pois a função de Morelli é a responsável pela operação das seis aeronaves do Ibama que atuaram durante a crise.
Morelli assumiu a coordenação das operações aéreas em 2017 após, um acidente com um avião fretado pelo Exército que matou três servidores do órgão. Dentre outras tarefas, Morelli tinha como função aprimorar os protocolos de segurança de operações aéreas. Ele ainda não tem uma nova função no órgão.
A saída de Morelli se dá em outro momento de crise. Três aeronaves do Ibama estão em Roraima para controlar focos de incêndio no estado, que atravessa um período de seca agudo.
O novo diretor de Proteção Ambiental é o major da PM de São Paulo, Olivaldi Azevedo que visitou em fevereiro um plantio de soja feito ilegalmente em uma área embargada em julho do ano passado pelo próprio Ibama, na Terra Indígena Utiariti (MT), junto com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,
.