Principal gasto das famílias com saúde se destina ao serviço privado, que incluem despesas com médicos e planos de saúde, respondendo por 67,5% do total das despesas de saúde das famílias
O porcentual de gastos do governo brasileiro com a saúde da população é um dos mais baixos do planeta. Segundo a pesquisa Conta-Satélite de Saúde, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quinta-feira (13), as despesas com o consumo final de bens e serviços de saúde no Brasil atingiram R$ 711,4 bilhões em 2019, correspondendo a 9,6% do PIB. Desse total, apenas R$ 283,6 bilhões, o que corresponde a 3,8% do PIB, foram despesas de consumo do governo.
A participação das famílias e dessas instituições nos gastos com a saúde vem crescendo desde 2011, enquanto a do governo, que havia crescido entre 2013 e 2016, permaneceu estável após uma queda em 2017.
“A análise é feita do ponto de vista de quem paga, embora as famílias sejam os beneficiários finais desses serviços de saúde. Entre 2011 e 2019, há uma curva ascendente na participação das famílias e instituições nas despesas de consumo relativas à saúde. Por outro lado, há uma queda na participação do governo nesse tipo de gasto. Então o aumento do consumo de bens e serviços de saúde em relação ao PIB é explicado pelo crescimento da participação das famílias”, explica a analista da pesquisa, Tassia Holguin.
O porcentual de gastos do governo brasileiro só é maior que o do México, cuja administração investe 2,7% do seu PIB em saúde. Em primeiro lugar está a Alemanha (9,9%), seguido por França e Japão (9,3% do PIB), Reino Unido (8,0%), Canadá (7,6%), Suíça (7,5%), Austrália (6,5%), média dos países selecionados da Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE (6,5%), Colômbia (6,0%), Portugal (5,8%), Chile(5,7%), Grécia (4,7%), Brasil (3,8%) e México (2,7%).
Entre 2010 e 2019, as despesas com bens e serviços de saúde no Brasil aumentaram de 8,0% do PIB para 9,6% do PIB. Mas quem bancou este aumento foi o povo. As despesas de famílias e instituições sem fins de lucro a serviços das famílias saíram de R$ 169.8 bilhões, em 2010, para R$ 427,8 bilhões (5,8% do PIB) em 2019.
Em 2019, na Colômbia, as despesas das famílias corresponderam a 1,7% do PIB. Na Alemanha, França e Japão, 1,8% do PIB.
Segundo o IBGE, em 2019, a despesa per capita com o consumo de bens e serviços de saúde de famílias e instituições sem fins de lucro a serviço das famílias alcançou R$ 2.035,60, enquanto as despesas de consumo per capita do governo foram de R$ 1.349,60.
GASTOS COM MEDICAMENTOS CORRESPONDEM A 29,3% DAS DESPESAS DAS FAMÍLIAS COM SAÚDE
O principal gasto das famílias com saúde foi com serviços de saúde privada, que incluem despesas com médicos e planos de saúde, por exemplo. Essa despesa respondeu por 67,5% do total das despesas de consumo final de saúde das famílias em 2019. “As despesas com serviços de saúde privada incluem os valores pagos a planos e seguros de saúde, inclusive pelos empregadores, além de serviços hospitalares, ambulatoriais e de apoio diagnóstico privados e serviços sociais privados”, segundo o instituto.
Já os gastos com medicamentos, que em 2019 totalizaram R$ 122,7 bilhões, corresponderam a 29,3% das despesas com saúde das famílias em 2019.
Em 2019, a despesa per capita com o consumo de bens e serviços de saúde de famílias e instituições sem fins de lucro a serviço das famílias alcançou R$ 2.035,6, enquanto as despesas de consumo per capita do governo foram de R$ 1.349,6.
Na escala comparativa das despesas per capita com saúde, as despesas brasileiras per capita com saúde são mais elevadas que a de outros países latino-americanos, como Colômbia e México. Mas, ficam “abaixo da média observada nos países da OCDE, que despendem o equivalente a 2,9 vezes o gasto brasileiro”, diz o IBGE. Nesta análise, o instituto utilizou a paridade de poder de compra entre os países (em US$ PPP) que permite comparar a capacidade de consumo de produtos de saúde dos brasileiros relativamente a de outros países.
De acordo com o instituto ainda, as atividades relacionadas à saúde ganharam participação no total de postos de trabalho no país, passando de 5,3% das ocupações, em 2010, para 7,4%, em 2019. No entanto, neste período, a Saúde privada foi a atividade relacionada que teve o maior crescimento em número de ocupações, 62,9%. Em seguida, Saúde pública (48,5%) e Fabricação de instrumentos e material médico, odontológico e óptico (25,9%).