O vice-presidente disse, também, em entrevista a “O Globo”, que não há espaço para “levantes” em 2022 e que Eduardo Pazuello perdeu espaço dentro do Exército
O general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, afirmou nesta sexta-feira (17), em entrevista à jornalista Malu Gaspar, do Globo, que está havendo “um avanço dos desmatadores em cima das terras públicas”. Ele disse que a União é responsável por fiscalizar isso.
“Hoje, é em torno de 25 municípios da Amazônia onde se concentram quase 90% do desmatamento ilegal. Solicitamos ao presidente da República autorização para uma nova operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) de modo que a gente consiga deter esse avanço da ilegalidade”, disse Mourão.
Ele informou que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, “está ocupado em se defender em relação aos problemas que está enfrentando”. “Então, ele não tem comparecido às últimas reuniões”, apontou Mourão, ressaltando que “as agências de fiscalização têm de comparecer. Já herdamos nossas agências com problemas de falta de pessoal. Esse é um assunto que tem de ser enfrentado. Não podemos continuar com metade do efetivo de dez anos atrás”.
“Além disso”, prosseguiu o militar, “dessa metade, 70% está sentada no ar-condicionado. É preciso que haja uma recuperação da capacidade operacional dessas agências. Senão, vamos ter de continuar a empregar as Forças Armadas numa atividade que não é a missão principal delas e, consequentemente, sem ter maior eficácia”.
Sobre a situação do general Eduardo Pazuello, que transgrediu o Código Disciplinar do Exército ao comparecer a um comício político de Bolsonaro no Rio de Janeiro, Mourão voltou a dizer que “as Forças Armadas, em particular o Exército, não estão envolvidas na política. Apesar de nós termos alguns companheiros que ocupam cargos políticos no governo, na imensa maioria, são todos da reserva”.
“Acho que Pazuello é o único da ativa hoje, e ele ocupa um cargo comissionado, não político. Todas as unidades estão na mão e na perna de seus comandantes e trabalhando de acordo com suas tarefas. Não vejo nenhum problema para o comandante Paulo Sérgio”, observou.
“O Pazuello completa o prazo de permanência no generalato em julho de 2022. Eu acredito que no momento em que terminar a CPI (ele irá para a reserva). Ainda existe a possibilidade dele voltar a depor. Acredito que essa seja a preocupação dele. Em mais um ou dois meses, talvez ele vá para a reserva. Pazuello perdeu o lugar dele dentro do Exército. Não há mais função pra ele”, acrescentou.
“Não é nem por conta do episódio. Ele é o oficial de intendência mais antigo dentro do Exército. Então, ele deveria ocupar o cargo de sub-secretário de Economia e Finanças, que já está ocupado por outro general. Então, não tem lugar para ele”, disse Mourão.
Sobre a tentativa de politização das PMs, Mourão disse que “existe uma análise que vem sendo feita na qual se procura dizer ‘o (então presidente Donald) Trump fez aquilo (invasão ao Congresso) nos Estados Unidos, vai ter uma milícia aqui que vai (fazer o mesmo)’. Você não pode comparar a sociedade americana com a brasileira”.
“É óbvio que você encontra um número significativo de policiais simpáticos ao nosso governo e, em particular, ao presidente Bolsonaro, mas você também tem policiais que são simpáticos à esquerda, ao PT, seja lá quem for”, destacou. Mourão afirmou também que não há espaço para levantes em 2022.
“Em absoluto! Não tem espaço. Quando a gente procura um modelo histórico e quer transpor para o presente, tem de olhar quais são as causas profundas, as causas imediatas e aquilo que pode ser o pavio que incendeia e deflagra o processo. E o processo brasileiro é outro, totalmente diferente. Então, eu não temo nada disso daí”, apontou o general, descartando a possibilidade dos militares endossarem aventuras contra a democracia.