O general Roberto Peternelli, deputado federal pelo PSL-SP, criticou na terça-feira (25) o uso de sua imagem no cartaz de convocação do ato que quer fechar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).
“As Forças Armadas pertencem ao Estado e não são partidárias. Ninguém me pediu para usar minha imagem”, disse o general em entrevista ao portal Terra. Ele alertou o presidente que a palavra de ordem “Fora Maia e Alcolumbre!” “é imprópria”. “Esse tipo de manifestação não é bom para nenhum lado”, destacou.
O general fez ver ao presidente que isso é tão impróprio quanto o “Fora Bolsonaro!”, que surge como consequência natural do embate. “Atrito entre o Executivo e o Legislativo não contribui para o País. Temos de focar no que é bom para o Brasil e buscar o consenso para aprovar as reformas”, afirmou. Esse tipo de comportamento “não permite a criação de consenso necessário ao País”, acrescentou o general.
O posicionamento crítico do general Peternelli vai no mesmo sentido do general Alberto Santos Cruz, um dos mais ilustres oficiais das nossas Forças Armadas, que postou uma mensagem firme denunciando que o uso de imagem dos militares era uma montagem irresponsável.
“Exército Brasileiro – instituição de Estado, defesa da pátria e garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. Confundir o Exército com alguns assuntos temporários de governo, partidos políticos e pessoas é usar de má fé, mentir, enganar a população”, afirmou o general Santos Cruz, numa clara postura crítica a Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que recentemente disse que o Congresso está “chantageando o governo”.
A foto que o general Peternelli desautorizou mostra ele fardado ao lado das imagens de outros militares – Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional; Hamilton Mourão, vice-presidente e Mário Araújo, secretário de Segurança de Minas Gerais – em uma montagem distribuída pelas redes sociais, junto de um texto que pede a saída de Rodrigo Maia e David Alcolumbre, presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
A convocação do ato contra o Congresso e o STF provocou uma reação muito grande de vários setores da sociedade. Uma reunião de emergência da oposição foi convocada diante da ameaça representada pela iniciativa bolsonarista.
Tudo começou quando Augusto Heleno atacou o Congresso Nacional, enquanto esperava Jair Bolsonaro para a cerimônia de hasteamento da bandeira, em frente ao Palácio da Alvorada um pouco antes do carnaval. Em conversa com os ministros Paulo Guedes (Economia) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Heleno foi flagrado em áudio dizendo aos colegas: “Nós não podemos aceitar esses caras chantageando a gente o tempo todo”. “Foda-se”, disse ele.
O ataque de Heleno ao Congresso não tem a menor justificativa já que o próprio Jair Bolsonaro tinha feito um acordo com o Congresso sobre o orçamento deste ano. Pelo acordo, o veto do presidente ao “orçamento impositivo” seria derrubado apenas parcialmente. O acordo foi no sentido de que os parlamentares derrubassem apenas parcialmente o veto presidencial ao Orçamento impositivo, que obriga o Executivo a gastar o que está previsto no texto orçamentário, incluindo o empenho de 687 milhões de reais em emendas de comissões temáticas da Câmara e do Senado.
Pelo acordo feito com os presidentes da Câmara e do Senado, o governo enviaria um projeto de lei para retirar das emendas de relator e devolver aos ministérios 11 bilhões de reais de verbas discricionárias, mas deixaria 20 bilhões de reais para as emendas. Com isso, os parlamentares derrubariam apenas uma parte do veto, o que tiraria a obrigatoriedade de pagamento das emendas em 90 dias e crime de responsabilidade no caso de não pagamento.
O governo terminou por não cumprir sua parte do acordo. O Planalto insiste em voltar atrás e quer decidir sozinho onde aplicar os recursos da União. Como a prioridade do governo não é a sociedade e nem o crescimento econômico, mas sim o pagamento de juros dá dívida, os parlamentares reagiram ao rompimento do acordo anunciando que vão derrubar integralmente o veto.
Augusto Heleno mente ao dizer que essa justa reação dos parlamentares à intransigência do governo é chantagem. Ele disse, na reunião, que o governo não pode ceder às chantagens dos parlamentares e que Bolsonaro deveria convocar o povo para protestar. Essa foi a senha para que se iniciasse a insanidade de convocar o ato para fechar o Congresso e o STF.