A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), que chefiou a pasta entre 2003 e 2008, criticou a postura do governo federal na conferência das Nações Unidas sobre o clima, que chegou ao fim nesta sexta-feira (12) em Glasgow, na Escócia.
“O governo brasileiro chega à COP-26 como desacreditado, como pária ambiental, sem nenhuma credibilidade para nada do que diz, porque diz e não faz. E chega nessa situação de chantagista quando não é necessário. O Brasil não pode se colocar como se estivesse fazendo um favor ao mundo”, disse.
Segundo Marina, essa posição de chantagista do governo é responsável pelo Fundo Amazônia estar parado.
“O governo não faz uso pelo seguinte motivo: quer usar o dinheiro para promover ações que causam mais desmatamento, como fazer regularização fundiária de áreas que foram griladas usando terras públicas, exploração de madeira, criação de gado e assim por diante. Ele não quer dinheiro para preservar, ele quer dinheiro para desmatar mais, para queimar mais. Essa é a realidade, porque se ele quisesse fazer o dever de casa, usava o Fundo Amazônia”, assinalou.
“Hoje, o pavilhão do governo brasileiro é uma cidade fantasma, porque é oco, não tem proposta, não tem prática nem credibilidade. Quem quer passar perto daquela assombração que representa o governo Bolsonaro?”, questionou.
Em entrevista publicada na DW Brasil, a fundadora do partido Rede Sustentabilidade afirmou que, caso houvesse preocupação real do governo Jair Bolsonaro com a preservação ambiental, o Fundo Amazônia não teria sido esvaziado.
A líder ambientalista também criticou uma declaração confusa do atual ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, na COP-26 que repercutiu mal. Enquanto elogiava um programa criado no governo do presidente Michel Temer, cuja verba sequer saiu do papel, Leite afirmou ser preciso reconhecer que “onde há muita floresta, há muita pobreza”.
“Só para ele ter uma ideia, a cadeia produtiva do açaí, produto da biodiversidade, já produz mais receita e empregos para o Estado do Pará do que a Vale. A empresa gera 20 mil empregos, enquanto o açaí é responsável por mais de 300 mil”, comparou a ex-ministra.
“Imagine o que pode ser feito quando a gente conseguir os investimentos maiores para a indústria do cupuaçu, do bacuri, para a indústria dos sistemas agroflorestais, de tantas oleaginosas, de tantas resinas e óleos que existem na Amazônia”, avaliou.
“A agricultura de baixo carbono tem 1% dos R$ 260 bilhões que vão para o Plano Safra. É isso que ele não diz, e porque é um negacionista convicto”, completou.
Marina lembrou ainda que o protagonismo exercido historicamente pelo Brasil nos fóruns ambientais internacionais foi conquistado pela apresentação de resultados.
“Nós fizemos com recursos próprios, no passado, o Plano de Ação para Prevenção e o Controle do Desmatamento da Amazônia Legal, que deu a maior contribuição individual de um país para a redução de CO2 do mundo até hoje, evitando lançar na atmosfera mais de 5 bilhões de toneladas de CO2”, disse.
A ex-ministra frisou que a postura do governo Bolsonaro na COP-26 é de chantagista e criticou a falta de investimentos nos produtos da biodiversidade brasileira.
“Eu digo que na COP nós temos dois trilhos: o trilho desmoralizado, chantagista, desacreditado do governo, e o trilho altamente mobilizado, coerente, da sociedade civil e de uma pequena parte de empresas, porque tem muitos que falam, mas não fazem”, afirmou.