Após conseguir aprovar a entrega da Eletrobrás, o governo Bolsonaro pretende intensificar o golpe à soberania nacional apressando a entrega dos Correios. A ideia, de acordo com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), é colocar o projeto de privatização da estatal entre os dias 12 e 15 de julho, antes do recesso legislativo do meio do ano.
A entrega dos Correios encontra resistência entre parlamentares, economistas, e entidades representativas dos trabalhadores que seguem mobilizados contra a privatização da estatal.
Para o economista e professor da Universidade de Brasília (UNB), José Luiz Oreiro, nos últimos 20 anos mais de 800 empresas voltaram ao controle estatal em diversos países. “O Brasil está embarcando em uma agenda ultrapassada, privatizando empresas de setores estratégicos e que são sensíveis, como o de geração de energia”, disse.
Oreiro explica que a agenda de privatizações do governo é puramente ideológica e padece de estudos específicos que demonstrem algum benefício para a sociedade brasileira com as privatizações.
Para o economista, a privatização dos Correios é uma “maluquice”, haja vista que o mercado brasileiro já é aberto e outras empresas competem para a entrega de encomendas.
“A experiência da privatização dos serviços postais de Portugal deve ser levada em conta. Os portugueses avaliam o setor postal como caro e ruim. Os Correios no Brasil são monopolistas na entrega de cartas. Mas há competição nos outros setores. Os parlamentares deveriam discutir esse tema com calma porque isso pode trazer prejuízos para os brasileiros”, explicou Oreiro.
Os trabalhadores dos Correios também denunciam que a privatização só trará prejuízos ao país. A Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap) afirma que a privatização irá prejudicar o atendimento das regiões periféricas das grandes cidades e dos pequenos municípios, onde hoje as empresas privadas que disputam o mercado já não atuam. Dos cerca de 5500 municípios, as empresas do setor privado atuam em apenas 300 das mais lucrativas e contratam os serviços da estatal para entregas nas demais regiões.
“E tudo porque a ótica do lucro, que caracteriza a atuação da iniciativa privada, não se aplica ao serviço postal, especialmente em grandes países com assimetrias profundas como o Brasil”, declarou a entidade em nota.
A Adcap afirma, ainda, que a qualidade do serviço postal brasileiro está com indicadores acima de 90% e que poderia estar num patamar acima de 97% se o governo tivesse plano de reposição de quadros das vagas abertas com sucessivos programas de demissão incentivada.
Nos últimos anos, o governo promoveu diversos planos de demissões e desligamentos que provocaram uma redução considerável no quadro de servidores da estatal. Em 2011 eram cerca de 127 mil trabalhadores e hoje não chega a 100 mil, além do fechamento de centenas de unidades de atendimento pelo país.