Na reunião gravada, Bolsonaro disse que se não pudesse trocar o superintendente da PF do Rio de Janeiro, poderia trocar o diretor-geral e o próprio ministro da Justiça
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu um prazo de 72 horas para o Planalto entregar o vídeo da reunião ministerial ocorrida dia 22 de abril na sede do governo. O ministro da AGU, José Levi Mello do Amaral Junior, pediu reconsideração da decisão com o argumento de que, na reunião, “foram tratados assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado, inclusive de relações exteriores, entre outros”.
Nela, segundo depoimento de Sérgio Moro, Jair Bolsonaro cobrou a substituição do superintendente da PF no Rio de Janeiro e do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, além de relatórios de inteligência e informação da PF. Dois dias após a reunião, Moro anuncia sua saída do governo e denuncia a intenção do presidente de interferir politicamente na Polícia Federal.
O ex-ministro apresentou provas da pressão de Bolsonaro divulgando troca de mensagens entre os dois. Nela ficam claras as intenções de Bolsonaro. Essas provas foram entregues à PF durante seu depoimento. Com a intenção de desmentir seu ex-ministro, Bolsonaro também mostrou a mesma troca de mensagens e acabou reforçando a fala de Moro.
No depoimento, Moro informou da existência de um vídeo oficial com a gravação da reunião em que o presidente cobrou mudança na direção da PF e relatórios de inteligência do órgão. Na mesma reunião, segundo Moro, Bosonaro disse que, se não pudesse trocar o superintendente da PF do Rio de Janeiro, poderia trocar o diretor-geral e o próprio ministro da Justiça. Moro informou no depoimento que Bolsonaro havia enviado para seu celular a seguinte mensagem : “você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio”.
Preocupado com a integridade das provas, o ministro Celso de Mello alertou os integrantes do governo para que não promovam alteração no material. “As autoridades destinatárias de tais ofícios deverão preservar a integridade do conteúdo de referida gravação ambiental (com sinais de áudio e de vídeo), em ordem a impedir que os elementos nela contidos possam ser alterados, modificados ou, até mesmo, suprimidos, eis que mencionada gravação constitui material probatório destinado a instruir, a pedido do Senhor Procurador-Geral da República, procedimento de natureza criminal”, determinou o magistrado.
MORO DIVULGOU RECURSO DO PLANALTO
A intenção do ministro é confirmar a afirmação do ex-ministro de que Bolsonaro teria cobrado, nesse encontro, a substituição do diretor-geral da PF e do superintendente da corporação no Rio de Janeiro, além de relatórios de inteligência e informação da Polícia Federal.
Bolsonaro já havia se referido ao mesmo vídeo, ameaçando divulgá-lo contra Moro. Mas, dois dias depois da ameaça, voltou atrás e disse, na entrada do Palácio do Alvorada, que foi aconselhado a não revelar o vídeo da reunião. A reação de integrantes do governo ao pedido de Celso de Mello foi solicitar, através da Advocacia Geral da União (AGU), que o ministro do STF reveja a decisão na qual mandou o governo entregar o vídeo.
Foram oficiados pelo STF, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, o chefe da Secretaria especial de Comunicação, Fabio Wajngarten, e o chefe da Assessoria Especial do presidente, Célio Júnior.
Eles passaram a alegar que a reunião não teria sido toda gravada. No vídeo citado por Moro, da reunião ministerial do dia 22, Bolsonaro teria ameaçado o ministro de demissão por não dar informações sobre a PF. Na mesma reunião, Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, explica que aquele tipo de informação não poderia ser dada.
Sérgio Moro revelou, tanto no discurso de saída do governo, quanto no depoimento à PF, que o que Bolsonaro queria – o acesso a relatórios sigilosos de inquéritos da PF – não é permitido pela legislação brasileira.
Bolsonaro insiste em dizer aos jornalistas na entrada do Palácio da Alvorada, residência oficial, que não pediu nada “ilegal” a Moro.
“Ele [Moro] disse que eu pedi em uma reunião de ministros. Uma reunião de ministros. A gente ia pedir algo ilegal? Não peço ilegal nem individualmente, que dirá em forma coletiva”, afirmou Bolsonaro. Se a afirmação do presidente for verdadeira, não há porque o vídeo não ser entregue ao STF.
O epsiódio da recusa de entrega do vídeo por parte do governo levou o jornalista Merval Pereira, da TV Globo, a compará-lo aos fatos que levaram ao impeachment do ex-presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon: “se confirmada a hipótese de o vídeo ter sido apagado, fica claro que há alguma coisa a esconder e aí configura-se um crime óbvio”, diz ele. “Foi assim que terminou o caso Nixon, no Watergate, quando parte da gravação foi deletada pela secretária do então presidente americano”, lembrou.
No sentido de pressionar a corte, na manhã desta quinta-feira (07), Bolsonaro participou, junto com sua equipe econômica e empresários, de reunião com o presidente do STF, ministro Dias Tofolli, na sede do Supremo. Aguarda-se para as próximas horas uma decisão do ministro Celso de Mello sobre a alegação do governo de que não pode entregar o vídeo.