“Nós vamos viver uma situação absolutamente de destruição no primeiro trimestre do ano que vem. A situação, hoje, é muito grave e o governo está me parecendo insensível”, afirmou o presidente da Abrasel
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, denunciou nesta quarta-feira (23) que a situação do setor de bares e restaurantes “é de desespero, cenário ao qual o governo federal é insensível”.
Solmucci afirmou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está “se apropriando indevidamente de um dinheiro” que foi liberado para ajudar empresas e preservar empregos na pandemia, “que poderia salvar o setor”. “É uma coisa horrorosa o que o governo está fazendo”, disse. Guedes não respondeu às críticas.
“Chegamos agora em dezembro sem pagar o 13º salário. Desde novembro, nós temos que pagar duas parcelas do Simples Nacional. Os empréstimos que foram tomados, em geral, tiveram carência de seis meses, e todos já venceram. Teremos que pagar os aluguéis voltando com pagamento integral e ainda arcar com a garantia de emprego”, sentenciou.
“Nós vamos viver uma situação absolutamente de destruição no primeiro trimestre do ano que vem. A situação, hoje, é muito grave e o governo está me parecendo insensível. Temos conversado, eles ouvem e não se movimentam”, relatou o presidente da Abrasel à Folha de S. Paulo.
Ele explicou que o governo não deu nenhum apoio financeiro específico ao setor de bares e restaurantes, e afirmou que os R$ 16 bilhões que restam dos R$ 51 bilhões do programa emergencial de Manutenção do Emprego, que o governo está retirando das empresas para fazer superávit, poderia ser usado, por exemplo, para ajudar no pagamento do 13º salário dos trabalhadores, que o setor não conseguiu pagar neste mês.
“Não houve um auxílio específico para bares e restaurantes no Brasil, diferentemente do que aconteceu na Europa. A decisão do governo, em um primeiro momento, foi de acudir a todos. O ministro Paulo Guedes me disse que em um segundo momento haveria um apoio específico, que nunca chegou. O acerto nosso foi a medida provisória 936 (MP 936), que permitiu a redução de jornada com o governo pagando uma parte e a suspensão do contrato de trabalho com o governo pagando integralmente. Só que essa redução tem como limite 31 de dezembro”, explicou o empresário.
“O governo tinha R$ 51 bilhões para isso [ajudar as empresas]. Gastou R$ 35 bilhões e está poupando R$ 16 bilhões para fazer superávit. Com esses R$ 16 bilhões que eles estão guardando no bolso poderiam ter pago o 13º salário proporcional. Nós teríamos muito menos problemas agora em dezembro se o governo federal deixasse de fazer esse superávit não previsto, porque esse dinheiro foi aprovado no Congresso. O ministro Paulo Guedes está se apropriando indevidamente de um dinheiro que poderia salvar o setor. É uma coisa horrorosa o que o governo está fazendo”.
“O governo tinha R$ 51 bilhões para isso [ajudar as empresas]. Gastou R$ 35 bilhões e está poupando R$ 16 bilhões para fazer superávit. Com esses R$ 16 bilhões que eles estão guardando no bolso poderiam ter pago o 13º salário proporcional”
“O segundo problema começou de forma bem intencionada. Essa mesma lei previa que a quantidade de meses que você usasse o benefício deveria ser a quantidade de meses que você teria que dar de estabilidade ao funcionário. Limitou-se a 240 dias, só que nós chegamos ao final do período proibidos de funcionar plenamente. Como é que a gente vai garantir oito meses de estabilidade para o funcionário? A conta não fecha. Isso está virando quebradeira de negócio, ação na Justiça. Está virando um desespero”, asseverou Paulo Solmucci.
O Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda surgiu com a Medida Provisória (MP) 936/2020, convertida na Lei 14.020, de 2020, previu a redução de jornada e de salário, além da suspensão do contrato e o pagamento do benefício emergencial de R$ 600 a empregados com contrato de trabalho, para que os postos de trabalho pudessem ser mantidos frente à pandemia da Covid-19.