Disse que Alexandre Moraes chegou ao topo da estrutura do Poder Judiciário por “amizade” com o ex-presidente Michel Temer
Jair Bolsonaro revelou sua extrema irritação com os limites impostos pelo Supremo Tribunal Federal e atacou nesta quinta-feira (30) o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que suspendeu no dia anterior a nomeação de Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal.
Ele disse que a decisão de Moraes foi “política” e agrediu o magistrado dizendo que ele chegou ao topo da estrutura do Poder Judiciário por “amizade” com o ex-presidente Michel Temer (MDB).
A decisão de barrar o nome de Ramagem, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi tomada liminarmente pelo ministro Alexandre de Mores, atendendo à ação feita pelo PDT, que viu na ação de Bolsonaro um desvio de finalidade.
“Como é que o senhor Alexandre de Moraes foi para o Supremo? Amizade com o senhor Michel Temer. Ou não foi?”, questionou nesta manhã, atingindo por tabela, com sua fala, o Senado da República, já que o órgão sabatinou e aprovou o nome de Moraes para o Supremo Tribunal Federal.
“Se não pode estar na PF, não pode estar na Abin também. No meu entender, uma decisão política, política. E ontem [quarta] comecei o pronunciamento falando da Constituição. Eu respeito a Constituição e tudo tem um limite”, afirmou o presidente.
Realmente, essa é uma questão a ser analisada. Alexandre Ramagem, inicialmente havia sido nomeado para uma assessoria no Palácio do Planalto. Gustavo Bebianno, ex-ministro do governo Bolsonaro, contou, durante entrevista o programa Roda Vida, da TV Cultura de SP, pouco antes de morrer, que Carlos Bolsonaro não confiava na Abin e queria criar uma “agência paralela”.
Logo em seguida à saída do general Santos Cruz – que posicionara-se contra a ideia do vereador – do ministério, Bolsonaro nomeou Alexandre Ramagem, amigo íntimo de Carlos, para a direção da Abin. A indicação não passou por nenhum órgão legislativo.
“Agora, eu pergunto ao senhor Alexandre de Moraes: o senhor vai tirar o Ramagem da Abin? É tão importante quanto o diretor-geral da Polícia Federal. Se ele não pode ir para a PF, ele não pode ficar na Abin. Senhor Alexandre de Moraes, aguardo de vossa excelência uma canetada para tirar o Ramagem da Agência Brasileira de Inteligência. Para ser coerente”, provocou. A ação do PDT questionou a indicação para a PF por conta das denúncias de Moro de que Bolsonaro queria interferir em inquéritos conduzidos pelo STF e a Polícia Federal.
O nome escolhido por ele para a PF foi chefe da segurança do então candidato a presidente, Jair Bolsonaro, tornou-se amigo íntimo do filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, coordenador do chamado “Gabinete do Ódio”, estrutura de espionagem e ataques a adversários políticos que funciona dentro do Palácio do Planalto. Ele foi colocado na Abin por Bolsonaro. Sua nomeação para a PF ocorreu no bojo da saída do ex-juiz Sérgio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que denunciou diversas tentativas de interferência de Bolsonaro nas ações da Polícia Federal. Moro pediu demissão quando Bolsonaro anunciou, sem consultá-lo, a troca do comando da PF.
Na manhã desta quinta-feira, Bolsonaro voltou a desautorizar, pela segunda vez, a Advocacia Geral da União, que anunciou através de nota que não iria recorrer da decisão de Moraes. “Vai recorrer. Conversei ontem com o Jorge [Oliveira, ministro da Secretaria-Geral], conversei também com outros ministros. E vai recorrer. Lamento agora que não tem tempo. Agora demora semanas, meses. Eu espero que seja tão rápida quanto a liminar”, afirmou o presidente.
Ele havia sido desaconselhado a enfrentar o STF. “Ontem quase tivemos uma crise institucional. Quase, faltou pouco”, disse, numa ameaça velada de que não respeitaria a decisão do Supremo.
Explicaram ao presidente que a atitude seria inútil do ponto de vista prático, já que, diante da liminar do ministro Moraes, todos os atos de Ramagem na Policia Federal ficariam invalidados do ponto de vista legal. O delegado tomaria posse mas ficaria impedido de tomar qualquer ação. Fora o estrago institucional que um ataque dessa monta iria causar.
“Não engoli essa”, afirmou ele nesta quinta-feira. Depois das afirmações de Bolsonaro, a artilharia da milícia digital apontou em direção ao ministro do Supremo. Foram divulgadas imagens antigas de Alexandre de Moraes com Moro e com integrantes do PSDB.
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