O representante indiano na reunião da OMC denuncia que o governo Bolsonaro votou – junto com os países ricos – contra a liberação de patentes para permitir a produção de genéricos de vacinas Covid-19. Segundo a Índia, isso leva à falta de vacinas no momento em que a pandemia segue ceifando milhares de vidas todos os dias
A Índia responsabilizou o Brasil e os países desenvolvidos pela deficiência mundial em vacinas para o amplo combate à pandemia causada pelo novo coronavírus. A informação foi veiculada pelo colunista Jamil Chade, do portal UOL, em matéria publicada nesta terça-feira (19).
O repúdio indiano se deu na reunião fechada do mesmo dia 19, da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra (Suíça). No encontro, o representante do governo indiano declarou que “o pior dos pesadelos está acontecendo”, pois simplesmente “não há vacinas para todos” porque a proposta apresentada pela Índia e pela África do Sul, de que fármacos e tecnologias usadas na produção específica de vacinas contra o Covid-19 fossem liberados – durante a pandemia – de patentes (propriedade intelectual), permitindo assim o fabrico de imunizantes genéricos.
Segundo o indiano, o “resultado seria permitir que a produção dos imunizantes pudesse ocorrer em laboratórios distribuídos pelo mundo”. Ele insiste que é exatamente a falta de produção de versões genéricas da vacina contra o Coronavírus, que dificulta o abastecimento global de imunizantes para o combate à doença.
A posição comandada por Bolsonaro de atacar a posição da Índia e da África do Sul, que recebeu o apoio de mais de 100 países em desenvolvimento estaria ‘justificada’ pelo interesse de se aliar à posição norte-americano para que o Brasil fosse convidado a ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conforme prometido e nunca cumprido por Trump.
Nas reuniões realizadas em meados de setembro de 2020, quando a proposta de liberalização das patentes foi apresentada, o Itamaraty não esboçava qualquer interesse em defender propostas dessa natureza, mesmo com a pandemia já ceifando centenas de milhares de vidas no Brasil e no mundo. Ao contrário, a postura que mantinha era a de ataques dirigidos a Índia, anulando qualquer possibilidade de acordo com a ideia dos indianos. ]
Hoje essa postura foi diferente, o Brasil não teve a coragem de se aliar aos indianos, mas um silêncio sepulcral se instalou por parte do governo brasileiro, que foi interpretado como abatimento, pois o governo brasileiro que chegou a alardear que as 2 milhões de doses de vacina da AstraZeneca, a Covishield, produzida pelo Instituto Serum, estaria no Brasil ainda no domingo.
Chegou a fretar um avião da Azul, devidamente paramentado com um adesivo gigante afirmando em letras garrafais: ‘Vacinação Brasil Imunizado – Somos uma só nação”.
Mas o voo não decolou em direção à Índia, nem no domingo, nem nos dias seguintes. Bolsonaro chegou a implorar ao presidente da Índia, Nahendra Modi, para salvá-lo da desdita, sem resultado algum. Aliás, ao que tudo indica o resultado foi pior.
Agora a Índia, que antes dizia não enviar a Covishield ao Brasil por ter que priorizar os seus cidadãos, já fala em exportar, sim, a Covishield mas deixando o Brasil de fora.
O anúncio deste dia 19 fala em envio ao Butão, Bangladesh, Maldivas, Ilhas Seychelles, Nepal e Mianmar. Diz ainda que, assim que liberado por suas agências reguladoras, também deve fazer remessas ao Afeganistão, Ilhas Maurício e Sri Lanka.
Quanto ao Brasil, ao contrário do alardeado por Pazuello, não há data marcada.