Estrutura terá capacidade de produzir um milhão de doses da vacina ao dia; 11 estados confirmaram intenção de compra do imunizante
O governo de São Paulo anunciou, na tarde desta quinta-feira (10), que o Instituto Butantan iniciou o envase da vacina CoronaVac, desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac. O envase representa a primeira etapa do processamento final da vacina, onde é feita a transferência da vacina a granel para os frascos que serão destinados ao processo de vacinação.
A produção local teve início na noite de quarta-feira (9), na fábrica do Instituto na zona oeste da capital paulista.
“É um momento histórico que orgulha todos nós, brasileiros. O Butantan mais uma vez sai à frente e começa a produzir uma vacina que vai salvar milhões de brasileiros. Para fazer a quantidade que a urgência nos impõe, a fábrica que funcionava em escalas passará a funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana”, afirmou o governador de São Paulo, João Doria, durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira.
“Com isso, a capacidade de produção da vacina chegará a um milhão de doses por dia. Não é só São Paulo que tem pressa, é o povo brasileiro”, complementou.
A capacidade de envase diário planejado para a vacina do Butantan contra a COVID-19 é entre 600 mil a um milhão de doses. O primeiro lote terá aproximadamente 300 mil doses. Até janeiro, 40 milhões de doses da vacina deverão ser produzidos no local.
No mesmo complexo são envasados anualmente 80 milhões de doses da vacina contra a gripe, além de 13 tipos diferentes de soros que são usados na rede pública de saúde. A Coronavac tem composição semelhante a outros imunizantes produzidos pelo Butantan, o que facilita e agiliza o processo de envase.
Neste primeiro momento, somente a etapa final da fabricação (envase e rotulagem) será feita no Brasil. A matéria prima da vacina é produzida pelo Sinovac na China. O primeiro lote com 600 litros do ingrediente ativo do imunizante chegou ao Brasil na última semana, o que permitirá a produção de um milhão de doses da CoronaVac.
Novas remessas devem chegar entre dezembro e janeiro. Serão 6 milhões de doses prontas e insumos para a produção de outras 40 milhões.
Segundo o governo de São Paulo, os resultados de eficácia da vacina ainda não foram apresentados à Anvisa e a previsão é de que eles sejam divulgados até o próximo dia 15 de dezembro.
ESTADOS INTERESSADOS
Na coletiva desta quinta-feira, Doria afirmou que outros 11 estados formalizaram a solicitação para compra da CoronaVac. Ainda de acordo com o governador, mais de 900 cidades manifestaram interesse na vacina. O governo paulista pretende fornecer 4 das 46 milhões de doses para vacinar profissionais da área da saúde de outras regiões do país.
“Hoje 12 estados do país, incluindo São Paulo, já formalizaram a solicitação para a vacina do Butantan. E 912 municípios de todo o Brasil também já demonstraram interesse da mesma forma, formalmente, para obter a vacina do Instituto Butantan para a imunização dos seus trabalhadores de saúde”, informou.
Os Estados que negociam com São Paulo a compra da CoronaVac são: Acre, Pará, Maranhão, Roraima, Piauí, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Sul.
Nesta quinta-feira (10), o Instituto Butantan deverá firmar um protocolo de intenções com a Federação Catarinense de Municípios (Fecam) para fornecimento de doses da CoronaVac.
O diretor do Instituto, Dimas Covas, afirmou que o órgão tem capacidade para fornecer as doses para os demais estados e vacinar a população de SP conforme cronograma anunciado para a primeira fase de imunização. Segundo o plano apresentado pelo estado, os profissionais de saúde, indígenas, população quilombola e pessoas acima de 60 anos terão prioridade na imunização.
O início da vacinação em São Paulo está programado para 25 de janeiro, data do aniversário da capital.
“Com relação a volumes, o plano estadual, juntamente com essas 4 milhões de doses, totalizam, de janeiro a março, 23 milhões de doses. Nós temos 46 milhões. Então, nós estamos trabalhando essa primeira fase já prevendo a segunda fase e, eventualmente, a terceira fase. Temos, já em negociação, por autorização do governador, mais 15 milhões de doses e devemos formalizar muito brevemente. Do ponto de vista quantitativo e de capacidade de produção, estamos plenamente aptos para atender essa primeira fase da vacinação”, informou Dimas Covas.
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Segundo Covas, se o Ministério da Saúde formalizar o interesse na vacina, as doses, então, deverão ser disponibilizadas para o Programa Nacional de Imunizações (PNI) para serem distribuídas pelo governo federal a Estados e municípios, como costuma acontecer em todas as campanhas de vacinação.
“Não tem sentido qualquer outra alternativa”, afirmou. “Basta me ligar e eu prontamente colocarei as vacinas à disposição do Ministério da Saúde”, disse o diretor do Butantan.
“Por que iniciar a vacinação em março, como foi anunciado pelo ministério, se podemos iniciar em janeiro, de forma segura e eficiente?”, complementou Doria, fazendo referência ao calendário de imunização apresentado na semana anterior.
O governador afirmou que ainda não recebeu nenhuma comunicação formal da pasta sobre um eventual interesse do governo federal na compra da vacina do Butantan. “Desejamos uma manifestação clara, escrita, de que a Coronavac fará parte do Programa Nacional de Imunização”, afirmou Doria.
Na terça-feira (8), os governadores dos estados brasileiros cobraram do Ministério da Saúde uma definição do plano de imunização e a compra da CoronaVac e demais vacinas que tiverem sua eficácia comprovada.
Segundo o cronograma apresentado pelo governo federal, a vacinação contra o coronavírus só teria início no mês de março. A data tardia foi duramente criticada pelos governadores que enfrentam a pandemia e vêem a morte de mais de 700 pessoas diariamente.
Na quarta-feira, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que a vacina poderá ser incorporada ao plano caso haja o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
REGISTRO
Covas disse que o Instituto Butantan usará dois caminhos possíveis para registro da CoronaVac na Anvisa. “Brevemente teremos os resultados da fase 3 (eficácia). Submeteremos tanto pelo rito normal quanto pelo uso emergencial”, afirmou.
O diretor do Butantan não descartou a possibilidade de pedir liberação excepcional a partir da aprovação do imunizante em outras agências regulatórias com base na lei federal 13.979, que autoriza a importação de produtos e insumos sem registro no País, desde que tenham licença nos Estados Unidos, Europa, Japão ou China.
“Paralelamente (à submissão na Anvisa), os resultados serão submetidos à agência chinesa. É possível que lá saia muito rapidamente, ainda neste ano. Isso nos remete a outra lei. Isso acontecendo, a Anvisa tem que se manifestar em 72 horas. Esse é o caminho alternativo. O ideal seria pelo rito normal ou uso emergencial”, explicou.
Ele também disse ter oferecido 100 milhões de doses da Coronavac ao Ministério da Saúde para serem entregues até maio, além de 40 milhões a outros países. E afirmou ter já recebido manifestações de interesse de vários países da América Latina, como Argentina, Peru e Uruguai.