Vídeo registra militares norte-americanos e ingleses ensinando ucranianos a manejar munição de urânio depletado, material que causou disseminação de câncer no Iraque
O portal Declassified UK divulgou esta semana um vídeo em que soldados estadunidenses e ingleses ensinam a artilheiros e comandantes ucranianos a utilizarem munição com urânio depletado para o tanque Challenger 2. Apesar de ter radioatividade reduzida, a utilização desta arma – como foi comprovada nos bombardeios realizados pelos Estados Unidos contra a Iugolávia e o Iraque – é uma “bomba suja”, pois dissemina o câncer. Foram detectados tumores malignos inclusive em crianças nas regiões onde este tipo de armamento foi lançado.
O Desclassified UK, especializado em investigação de crimes estatais encobertos “está surgindo a primeira filmagem de tripulações ucranianas de tanques sendo treinadas no uso da controversa arma durante um curso no Reino Unido”. No vídeo, réplicas de projéteis de urânio foram colocadas sobre uma mesa em frente aos militares do regime de Kiev, que ouvem atentamente as orientações e os cuidados para o manuseio.
De acordo com a publicação britânica, a simples presença do orientador norte-americano na sessão de treinamento expõe o grau de comprometimento de Washington com mais este crime que o governo de Zelensky está prestes a cometer e, portanto, deve agravar ainda mais as tensões.
Enquanto a Casa Branca alega não estar abastecendo a Ucrânia com o dispositivo radioativo, a vice-ministra da Defesa britânica, Annabel Goldie, reconheceu já estar fornecendo as munições com urânio depletado.
Diante da denúncia da Desclassified UK, o embaixador da Rússia em Washington, Anatoly Antonov, afirmou que os países ocidentais, sob o comando dos EUA, decidiram abastecer Kiev com munições radioativas, ameaçando o mundo com um confronto nuclear.
O chefe das Tropas de Defesa Radiológica, Química e Biológica das Forças Armadas russas, Igor Kirillov, também alertou para a insanidade do caminho escolhido pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Kirillov disse que apesar de que “tais munições prejudique irreparavelmente a saúde dos militares das Forças Armadas da Ucrânia e da população civil, os países da Otan, em particular o Reino Unido, expressam prontidão em fornecer esse tipo de arma ao regime de Kiev”.
O principal inspetor médico militar da Itália vinha relatando desde 2016 as trágicas consequências para a saúde dos soldados envolvidos na guerra contra a Iugoslávia e sua posterior desintegração (1994-1999) e contra o Iraque (a começar em 2003), onde a munição com urânio depletado foi amplamente utilizada.
Os dados médicos apontam que pelo menos 4.095 soldados foram posteriormente diagnosticados com tumores malignos dos mais variados tipos. “Em 8% dos casos [330 pessoas], a doença foi fatal. Além disso, os compostos de urânio permanecem muito tempo no solo e representam um risco de impacto negativo – por anos a fio – em pessoas, animais e culturas agrícolas”, assinalou Kirillov.
OPOSIÇÃO JAPONESA CONDENA CONIVÊNCIA COM O CRIME
O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, foi criticado pela oposição devido à convivência com que vem tratando o treinamento e a entrega de munições de urânio depletado ao governo de Zelensky.
O líder do partido Reiwa Shinsengumi, Taro Yamamoto, questionou o silêncio do governo japonês na Câmara Alta do Parlamento. “Senhor primeiro-ministro, você pretende incentivar o Reino Unido a não enviar tais munições?”, questionou Taro Yamamoto.
Para justificar sua omissão diante dos problemas causados pelo uso do urânio, o chefe do governo japonês alegou que “apesar de estudos sobre os efeitos negativos para a saúde humana, não foram obtidos resultados concretos”.
Frente a tamanha desfaçatez, Yamamoto aumentou o tom, esclarecendo que, “na verdade, tais munições já poderiam ser classificadas como armas nucleares e verificou-se que existe um risco de câncer”.
“Senhor primeiro-ministro, durante a sua reunião com Zelensky pediu-lhe para não usar munições de urânio empobrecido?”, questionou o líder oposicionista.
“Quanto às armas de urânio empobrecido, eu não disse nada específico sobre isso durante o meu encontro com Zelensky”, reconheceu Fumio Kishida.
O oposicionista qualificou a postura subserviente do primeiro-ministro como uma “mensagem ruim” e recordou que esta tem ainda mais gravidade dado que ”o crime de Hiroshima pesa até hoje sobre a história do Japão”.
Nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, os EUA despejaram bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, assassinando 140 mil e 74 mil pessoas, respectivamente, a esmagadora maioria crianças, mulheres e idosos. Nenhuma das cidades devastadas pelos bombardeios nucleares dispunha de instalações militares relevantes.