Governo israelense quer impedir denúncias dos crimes da ocupação acusando as entidades de direitos humanos palestinas de ‘terroristas’
“Mais de 20 organizações da sociedade civil israelense publicaram, anúncio na capa do jornal Haaretz declarando o óbvio: criminalizar organizações de direitos humanos é um ato covarde que é característico dos regimes autoritários e opressores”, declara o diretor executivo da organização israelense B’Tselem condenando a decisão do governo de Israel de designar como “terroristas” as organizações de direitos humanos da Palestina. Segue o artigo.
HAGAI EL-AD*
Na úlitma sexta-feira [23 de outubro], o novo governo de Israel cruzou uma linha que nenhum governo israelense teve a ousadia de fazer antes, designando seis organizações da sociedade civil palestina como “organizações terroristas”. A vergonhosa declaração não diz nenhum respeito sobre estas organizações mas fala de forma volumosa sobre a violência, brutalidade e arrogância que o regime israelense tem empregado contra os palestinos por décadas.
B’Tselem afirma sua solidariedade a nossos colegas palestinos. Somos orgulhosos de nosso trabalho conjunto durante anos de nossa luta compartilhada contra o regime de apartheid e ocupação. Um dos grupos que acaba de ser colocado fora da lei é a mais antiga das organizações palestinas de direitos humanos, a Al-Haq que se estabeleceu há mais de 40 anos. Al-Haq e B’Tselem conquistaram diversos prêmios internacionais em conjunto. Em 2018, o governo de Israel tentou impedir que recebemos o Prêmio de Direitos Humanos de República da França usando mentiras similares às proferidas agora. Apesar das mentiras, o prêmio foi assegurado. Apesar das ameaças, nosso trabalho vai prosseguir.
Esta manhã [25 de outubro], mais de 20 organizações da sociedade civil israelense publicaram, anúncio na capa do jornal Haaretz declarando o óbvio: criminalizar organizações de direitos humanos é um ato covarde que é característico dos regimes autoritários e opressores.
O regime de apartheid israelense se dá poderes devastadores quando se trata dos palestinos a ele sujeitos. Não hesita em usar estes poderes para impedir os palestinos de expor suas ações, de demandar prestação de contas e de recorrer à comunidade internacional.
O regime está agora usando estes poderes para tentar encrerrar organizações de direitos humanos – mais uma vez citando “evidências secretas”. O ministro da defesa pode ter assinado a ordem desta vez, mas a responsabilidade e a desgraça recaem sobre todo o governo – sobre cada um dos ministros e todos os partidos da coalizão governamental.
Durante todos estes anos, Israel tem, de forma constant, retratado qualquer movimento palestino que não fosse a rendição ao apartheid e à ocupação como “terrorismo”.
Apelar ao Tribunal Penal Internacional? Tessorismo legal. Dirigir-se à ONU? Terrorismo diplomático. Chamar a um boicote de consumo? Terrorismo financeiro. Manifestações? Terrorismo popular. Israel pode tentar retratar a luta por liberdade como terrorismo, mas a verdade se torna evidente.
Seja qual for o resultado da recente declaração, uma coisa é clara: a luta palestina por direitos humanos, liberdade e igualdade vai continuar e o B’Tselem vai continuar em sua solidariedade com nossos colegas palestinos – até a abolição do apartheid.
*Hagai El-Ad é diretor executivo da organização de defesa dos direitos humanos B’Tselem
Veja o anúncio publicado na primeira página do jornal israelense Haaretz: