No Meia Noite em Pequim (ao vivo), pela TV Grabois, o pesquisador e economista Elias Jabbour destacou as duas “piadas do ano”: a primeira, a ‘cúpula pela democracia’ patrocinada pelo governo Biden, a outra, a “declaração da quebra da China” porque a Evergrande quebrou.
Para começar, a cúpula pela democracia de Biden tinha Bolsonaro como convidado. “Imagine o ele tem para falar sobre democracia”, observou Jabbour, que convocou as correntes progressistas a encarar o debate de frente. O que é democracia, mesmo? Qual a visão marxista de democracia?
Para o pesquisador, a elite norte-americana está tentando criar um clima internacional para desqualificar a China como país sério, para que passe a ser vista como um “país muito perigoso”.
Como se fosse a China que estivesse expandindo bases militares pelo mundo inteiro, fazendo ameaças militares. É o esforço de Washington para lançar uma ‘cortina de fumaça’ em torno da questão democrática, assinalou.
Jabbour cita o estudo de uma universidade chinesa que demole a situação das liberdades democráticas e dos direitos gozados pela população nos EUA.
É o “10 Perguntas Para a Democracia Americana”, do Instituto Chongyang da Universidade Renmin da China (RDCY). Que revela, por exemplo, que no país mais rico do planeta, mais de 10% das pessoas estão passando fome (“insegurança alimentar”).
Também a suposta “proteção aos direitos humanos” como razão de ser da exportação da democracia americana não se sustenta: por ano são 38 mil mortos por violência nos EUA – 20% deles com menos de 18 anos. Desde o estrangulamento de George Floyd, já são 229 os negros mortos pela polícia.
Outro exemplo: os EUA invadiram o Afeganistão, ficaram 20 anos e não construíram uma ponte. A China construiu uma ferrovia de alta velocidade até o Laos, que foi o país no mundo mais bombardeado pelos EUA da história, durante a Guerra do Vietnã.
Sobre a diferença entre instituições democráticas nos dois países, Jabbour apontou que nos EUA 91% dos congressistas são milionários.
Há pesquisas – continuou – que mostram que 70% da população acha que não há a mínima possibilidade de mudar a política diretamente.
O que não é difícil de explicar, pelas raízes segregacionistas da sociedade norte-americana. Jabbour lembrou dos elogios dos chefes nazistas Goebbels e Himmler, nos primeiros anos da ascensão hitlerista, à sociedade norte-americana, com seu segregacionismo e eugenia.
Aliás, Georgi Dimitrov – que foi preso pelos nazistas falsamente acusado de ‘incendiar o Reichstag’ e fez de sua defesa um libelo contra o fascismo -, anteviu que a próxima vaga do fascismo viria do outro lado do Atlântico. Trump?
Quanto à piada 2, como salientou Jabbour, está de volta o discurso de que a China vai quebrar: a China montou a maior bolha imobiliária da história (US$ 300 bilhões), a Evergrande tomou um tombo e a China vai junto.
Tese à qual se agarram em particular os adeptos da “Escola Austríaca” de economia, que atribui à interferência do governo nos mercados a causa das crises, que os mercados livres, leves e soltos, teriam evitado, com seus mecanismos intrínsecos de purificação do sistema.
De forma resumida, a injeção de liquidez pelo governo levaria à viabilização artificial de empreendimentos, num quadro de aversão ao risco muito grande, provocando a bolha, gerando inflação, o que força o Banco Central a elevar os juros, e aí vem a quebradeira. É a depuração rolando nos mercados.
É esse tipo de análise que tentam transpor mecanicamente para a China, cujo núcleo da economia produtiva é estatal, assim como o sistema financeiro.
Na real: uma empresa desse tamanho (a Evergrande) quebrou e a economia da China vai crescer este ano 8% – sinalizando que o apelo a esse raciocínio convencional não vai funcionar.
Para Jabbour, isso se deve a que na China o setor privado depende do ciclo de acumulação do setor estatal. Como são bancos públicos que emprestam para empresas privadas, em moeda fiduciária, que eles mesmos estão criando, por isso é uma operação que joga fora o livro contábil.
O governo chinês – ele sublinha – nunca vai deixar que o mercado depure o sistema. Não deixa quebrar uma empresa que gera a quantidade de empregos que a Evergrande gera, que construiu a quantidade de apartamentos que a Evergrande construiu nos últimos 10 anos.
Vai é criar novas formas de propriedade para substituir a Evergrande, coisa que nenhum país capitalista pode fazer. O setor da construção civil gerou uma bolha, e essa bolha foi desinflada agora. Vai passar o setor agora para o controle estatal. Setor que tem ainda grandes projetos para entregar, para alocar 12 milhões de pessoas por ano nas cidades, nos próximos 10 anos.