“China x EUA é o novo URSS x EUA?”, analisa o professor e pesquisador Elias Jabbour no Meia Noite em Pequim, da TV Grabois, que retoma a discussão colocada no programa anterior, sobre a face real da disputa EUA-China.
São dois sistemas econômicos distintos que estão disputando a hegemonia econômica mundial – essa é a hipótese que Jabbour vem levantando. A China é o novo que surge desse velho, porque ela é parte do mundo capitalista.
A China é socialista, mas é parte do mundo capitalista, diferentemente da União Soviética. Pós 1978, a China pôde se inserir no sistema capitalista mundial, completamente diferente da URSS.
O que acaba criando uma série de constrangimentos ao capitalismo internacional na forma de lidar com a China, pelo tamanho de seu mercado interno, por ter se transformado na fábrica do mundo. Não é cancelando a China, desalojando-a dos mercados internacionais, que a coisa se resolve.
É o novo surgindo das entranhas do velho e superando o velho em vários aspectos, como a pandemia demonstrou. O sistema socioeconômico chinês tem mostrado resiliência e uma certa superioridade em relação ao capitalismo e, para Jabbour, a disputa real não é entre dois blocos comerciais ou tecnológicos, mas entre dois sistemas. Ele cita dois artigos que ajudam a elucidar a questão.
O primeiro, uma entrevista da Secretária de Comércio norte-americana, Gina Raimondo, ao Financial Times, em que ela diz que os EUA não tem interesse em uma guerra fria com a China e chega a afirmar que as relações Estados Unidos-China são diferentes das que existiam entre os EUA e a União Soviética e que o desacoplamento é muito complicado, pelo grau de entrelaçamento entre as duas economias.
Para Jabbour, a declaração explicita certo distensionamento na disputa comercial e tecnológica. Biden e Xi Jinping já conversaram por telefone. Já houve discussões mais amigáveis entre o secretário de Estado Blinken e o chefe da diplomacia chinesa Wang.
O que não quer dizer que os EUA não continuem a fustigar a China em todos os aspectos. Os EUA fecharam o acordo para vender submarinos estadunidenses à Austrália, passando a perna na França e criaram a aliança militar chamada Aukus (Austrália, Reino Unido e EUA) para conter a China.
Por um lado, o arrefecimento dessa questão comercial, e pelo outro, uma ampliação da ofensiva geopolítica americana sobre a China.
Enquanto a China está completamente concentrada em alcançar os americanos nessa corrida dos microchips de 5-7 nanômetros. Também na semana passada os chineses lançaram um míssil hipersônico cujo desenvolvimento os americanos não esperavam.
O outro artigo é de um amigo de Jabbour, Marco Fernandes, do MST, e que está morando em Xangai: “Murro em ponta de faca: o fracasso da guerra comercial com a China”.
O principal alvo da guerra comercial proposta por Trump era o enorme déficit comercial estadunidense na balança comercial com a China. Que teve alta de 7,1% em 2020 (para US$ 316,9 bilhões) depois de diminuir entre 2018 e 2019. Já no primeiro trimestre de 2021, o déficit foi 78% maior do que em igual período de 2020. E 16,6% maior do que em 2019.
Fiasco também quanto a trazer de volta os empregos para os EUA. A guerra de tarifas contra a China custou cerca de 245 mil empregos estadunidenses, segundo estudo da Oxford Economics.
Outra revelação: a guerra comercial foi paga pelos consumidores estadunidenses, que desembolsaram a maior parte dos US$ 100 bilhões impostos na forma de tarifas. Ainda: eles passaram a pagar 25% mais caro pelos bens duráveis importados da China. Então, as tarifas causam pressão inflacionária.
30 associações empresariais americanas estão pressionando o governo Biden para derrubar as tarifas. Vai ter eleição legislativa nos EUA no próximo ano. Se Biden mantiver as tarifas, não é pequena a possibilidade de perder o controle do Congresso.
Assim, a economia chinesa tem uma lógica de acumulação que tem se mostrado muito mais capaz de dar conta do recado, nessa guerra comercial e tecnológica, do que a economia amplamente financeirizada dos Estados Unidos.