O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, defendeu a necessidade de um projeto nacional de desenvolvimento para atender às necessidades do povo e reconstruir o Brasil, devastado durante os anos de governo Bolsonaro. A afirmação foi feita durante o “Seminário 100+50: Desafios do Governo Lula”, promovido por 14 entidades e fundações partidárias na quarta-feira (24), no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.
“Os ataques aos direitos dos trabalhadores, com a ‘reforma’ trabalhista de Michel Temer em 2017, a possibilidade de terceirização irrestrita e a retirada dos direitos previdenciários, com a ‘reforma’ previdenciária de Bolsonaro, levaram ao esfacelamento da nação”, afirmou Adilson.
“Essas medidas nos trouxeram a essa situação trágica, com 33 milhões de pessoas que não têm sequer um prato de comida e 116 milhões padecem de insegurança alimentar. E o que vai dizer o INESC [Instituto Nacional de Estudos Socioeconômicos]: no último ano de governo Bolsonaro, se alcançou um superávit primário de R$ 54 bilhões, resultado alcançado às custas da morte pela covid-19, da fome, da pobreza e do desemprego. Esse é o retrato que espelha o tamanho da perversidade de um governo que a todo tempo tentou arar a terra para o neocolonialismo”, completou Adilson.
O presidente da CTB destacou que a pandemia agravou a tragédia que já era assistida antes da covid, quando 1% dos mais ricos detinham 28% de toda a riqueza do país. Passado o período da pandemia, esse 1% concentram hoje mais da metade da riqueza do país. Adilson ressaltou que esse é o resultado de uma política deliberada e que Bolsonaro nem mesmo se esforçou para esconder quais eram suas verdadeiras intenções. “Isso fica evidente no vídeo da fatídica reunião de 21 de abril de 2020: passar a boiada, tapinha nas costas, fim do concurso público, redução dos investimento na saúde e na educação, um macarthismo doentio, perseguição, escola sem partido e por aí vai”, lembrou.
ESTAGNAÇÃO
Fazendo um balanço das últimas décadas, Adilson ressaltou a importância de se reconhecer os limites do campo progressista durante o período em que esteve à frente do governo. “Nós estamos há quase quatro décadas na estagnação. É verdade que o próprio ciclo de mudanças do governo Lula deveria ter exigido muito mais do que a gente achou que era possível fazer. Principalmente pela análise do que foi possível com o nacional desenvolvimentismo que, entre 1930 e 1980, fez o país crescer a 7,5%. Evidente que, quando o Brasil chegou ao patamar de 6ª maior economia do mundo, tínhamos plenas condições de estabelecer um estado de bem-estar social, ficamos devendo”, avaliou.
JUROS ALTOS E AUSTERIDADE
Adilson ressaltou ainda que estamos pagando o preço da política de austeridade a todo custo e a opção por uma política econômica extremamente conservadora, que levou o país ao flagelo social. “Nós não conseguimos romper com esse movimento ilógico em que, enquanto o mundo reclamava pela redução da taxa de juros e aumento do crédito, o Brasil seguiu com uma política econômica completamente restritiva. Só no ano de 2020 mais de 500 empresas fecharam as portas”, disse Adilson.
VALORIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO
Para o presidente da CTB, o país necessita de uma política que garanta a valorização do salário mínimo, e o arcabouço, que teve gosto de “calabouço”, não é suficiente para dar conta das demandas que o Brasil precisa resolver. “Nós vamos ter que travar uma disputa, porque é uma disputa. Parte da proposta de ‘reforma’ administrativa trazida no ‘calabouço’ gera muita inquietação. Podar concurso público e restringir o investimento público gera inquietação, e não há contradição em apoiar o governo e ter opinião crítica, uma opinião que convoque a sociedade a se manifestar”, disse.
“Nós temos que somar esforços com quem defende um projeto nacional de desenvolvimento, sobretudo centrado na valorização do trabalho, na geração de emprego e renda. Se nós queremos ter uma indústria competitiva, temos que dialogar com todos e não achar que vai ser suficiente continuar fazendo som dentro de casa”, completou Adilson.