Dário Queiroz Galvão Filho afirmou ter feito doações de R$ 5 milhões ao PP para conseguir se aproximar de Barros, então secretário de Indústria e Comércio do governo do Paraná, e viabilizar negócios entre a São Bento Energia com a Companhia Paranaense de Energia (Copel)
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) e a Polícia Civil do estado cumpriram um mandado de busca e apreensão no escritório do líder do governo Bolsonaro na Câmara, a deputado federal Ricardo Barros (PP), em Maringá, no norte do Paraná, na manhã desta quarta-feira (16). A ação faz parte de uma operação do MP-PR. Barros também foi ministro Saúde do governo Temer.
No total, a 12ª Vara Criminal da capital paranaense expediu oito mandados de busca e apreensão. Além do escritório de Barros, endereços comerciais e residências também foram alvo da operação.
Segundo o MP, a investigação foi assumida pela Promotoria paranaense em 2019, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) encaminhou para a Justiça Estadual investigações “decorrentes de colaboração premiada feita no âmbito da Operação Lava Jato”.
Barros estaria envolvido em um esquema sobre contratos no setor de energia entre 2011 e 2014. No período, ele foi secretário da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul do Paraná, no governo de Beto Richa (PSDB). De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, a investigação envolve fraudes na contratação de energia eólica e começou com base em informações da colaboração premiada da Operação Lava Jato, que foram enviadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em novembro de 2019.
Em acordo de colaboração premiada no âmbito da Lava Jato, o ex-presidente da Galvão Engenharia, Dário Queiroz Galvão Filho, afirmou ter feito doações eleitorais de R$ 5 milhões ao PP, por intermédio de Ricardo Barros para conseguir se aproximar do então secretário de Indústria e Comércio do governo do Paraná e viabilizar a venda da participação da empreiteira na São Bento Energia à Companhia Paranaense de Energia (Copel). Barros alegou que nunca teve nenhuma influência sobre a gestão da Copel e que só recebeu da Galvão Engenharia doações eleitorais lícitas e registradas no Tribunal Superior Eleitoral.
De acordo com a promotoria, as investigações envolvem fraudes na contratação de energia elétrica em 2019. Um mandado de busca e apreensão também foi autorizado contra Delmo Sérgio Vilhena, em São Paulo, que atua no setor de energia elétrica. Quatro empresas são investigadas nesta ação. Segundo o Gaeco, a investigação mira a relação de Vilhena com Ricardo Barros e a esposa dele, Cida Borghetti, ex- governadora do Paraná. Ao todo, a Justiça autorizou oito mandados, todos de busca e apreensão no Paraná, em Maringá, Paiçandu e Curitiba, e em São Paulo.
Em nota, a assessoria do deputado diz que Barros “está tranquilo e em total colaboração com as investigações”. “O parlamentar reafirma a sua conduta ilibada e informa que solicitou acesso aos autos do processo para poder prestar mais esclarecimentos à sociedade e iniciar sua defesa. Ricardo Barros, relator da Lei de Abuso de Autoridade, repudia o ativismo político do judiciário”.
O deputado e líder do governo está em sintonia com o procurador-geral da República, Augusto Aras, nomeado por Bolsonaro para o cargo por fora da lista tríplice dos procuradores, que vem tentando desgastar a Operação Lava Jato para facilitar a aproximação de Bolsonaro com alguns parlamentares que estão sendo investigados pela Justiça.
Com esse objetivo, Barros foi, inclusive, escalado na semana passada pelo governo para criticar a Lava Jato e dizer que a operação prejudicou Lula.
“É claro que há uma parcialidade na posição da Lava Jato, todos sabem disso. É evidente, é visível. Tirou o Lula da eleição, produziu uma situação nova para o país, a interpretação [da lei] mudou… Era uma [interpretação], mudou para prender Lula. Passou a eleição, mudou para soltar Lula. Não precisamos fazer muito esforço para perceber ativismo político”, disse o líder do governo Bolsonaro, que já serviu aos governos tucanos, do PT, de Temer e, agora, de Bolsonaro.