Em depoimento à Justiça Federal, Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado e ex-assessor de confiança do presidente Michel Temer, falou pela primeira vez sobre a mala de dinheiro que recebeu da J&F. Loures entrou em diversas contradições, mas acabou admitindo que estava ali a pedido do presidente Temer. “O presidente havia pedido para eu ouvir as demandas do grupo”, disse o deputado, ao falar sobre a mala abarrotada de dinheiro. Ele contou que obedeceu Temer porque “eu sou uma pessoa solícita”, mas, tentou convencer o juiz que não fez por mal. “Eu não sou venal, não sou corrupto”, jurou o ex-deputado, com lágrimas nos olhos.
Segundo depoimentos de executivos da J&F, o dinheiro na mala entregue a ele era parte de um suborno que valeria por 20 anos, uma espécie de mesada para o presidente Michel Temer, em troca de atuação de Loures junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE. O objetivo era resolver uma disputa sobre o preço do gás fornecido pela Petrobrás a uma termelétrica do grupo JBS. Temer foi denunciado pela Procuradoria Geral da República por este crime e foi pedido o seu afastamento do cargo, mas ele foi protegido pelo foro privilegiado.
A investigação da Polícia Federal mostrou que Loures atuou no Cade a favor da J&F. Em seu depoimento à Justiça, ele se enrolou ainda mais ao tentar negar. Sua versão ruiu com o trecho onde ele relata sua conversa com Joesley. “Ele me diz, atrapalhadamente, ele pega e fala assim: ‘se você resolver esse assunto pra mim, tem lá 5% disso, 5% daquilo’. (…) eu não entendi que foi uma oferta de propina, eu não entendi que ele estava oferecendo a mim esses valores e eu não iria fazer nada por ele, como não fiz”, disse. O fato é que Loures atuou no Cade em nome de Temer e depois recebeu a propina. O resto é conversa molé.
Numa primeira tentativa de se desvencilhar do recebimento da propina, os advogados de Loures haviam criado a versão de que o ex-deputado recebeu a mala “sem saber qual era seu conteúdo”. Nem Rocha Loures conseguiu sustentar essa versão. Ele disse que sabia que havia sim do conteúdo ilícito na mala. Sabia, mas tentou jogar uma conversa fiada para cima do juiz de que não queria receber aquele dinheiro. Que quase bateu em Ricardo Saud quando viu a mala. Disse que nunca abriu a mala, mas não explicou o sumiço de R$ 35 mil, dos R$ 500 mil que haviam sido entregues.
Loures foi questionado se tinha sido incumbido por Temer de marcar uma reunião com o empresário. O juiz pergunta se ele se encontrou com o empresário no dia 6 de março de 2017 para marcar encontro do empresário com Temer. Ele responde: “aconteceu sim o encontro. Ele me enviou mensagem por telefone, nunca havia enviado uma mensagem. Aliás, eu não tinha o telefone dele, não sei… ele teve o telefone de alguma maneira. Enviou uma mensagem dizendo assim: olá, aqui é o Joesley, você poderia falar? Trocamos mensagens, ele queria um encontro com o presidente”.
Temer autorizou a ida de Joesley ao Jaburu e, segundo Loures, por causa da agenda cheia, Temer recebeu Joesley tarde da noite: “não participei da reunião, só vai à casa do presidente quem é convidado por ele. Aliás, só vai à casa de alguém quem é convidado pelo dono da casa, não por quem está sendo convidado. E é assim. Esse é o protocolo”. A reunião com Temer foi toda gravada por Joesley.
Segundo o jornal O Globo, que teve acesso ao depoimento, Loures deu detalhes do encontro com Ricardo Saud. “Eu vou até ele, aí ele pe…com essa mala na mão, ele diz assim: ‘olha a sua mala, pega que você vai perder o avião, corre que você vai perder o avião’. Naquele momento, excelência, eu entrei em pânico, no meio da rua e eu sai correndo. As imagens, eu não sabia o que fazer e eu fugi, eu corri. Eu não consegui, eventualmente agredi-lo, se fosse o caso e me desfazer dessa situação. Agir, naquele momento, até pra que ficasse gravado. E o meu inferno começou”.
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