“Nós vamos ter que pensar o Brasil com muito carinho porque o Brasil foi sendo desmontado, desmontado, desmontado e nós precisamos fazer o Brasil virar uma grande nação e uma potência também industrial”, disse Lula em entrevista para jornalistas estrangeiros, nesta segunda-feira (22)
O ex-presidente Lula (PT) disse que o investimento público deve ser o “indutor” do crescimento econômico do Brasil, estimulando investimentos privados e fortalecendo o mercado interno para que haja uma reindustrialização.
“O Estado brasileiro vai precisar fazer um grande investimento em obras públicas e precisa ser o indutor do investimento para que motive a iniciativa privada a acreditar que o governo está falando sério”, disse Lula em entrevista coletiva com a imprensa internacional, nesta segunda-feira (22).
“O pontapé inicial precisa ser dado pelo governo”, afirmou.
“Temos milhares de obras que estão paralisadas. Vamos começar por aí: fazendo um levantamento de como estão essas obras para recuperá-las e gerar empregos”, continuou o presidenciável.
Lula se comprometeu a “trazer a taxa de juros para um número considerado razoável pela sociedade brasileira” e “a inflação para um patamar que seja razoável”.
Ele também falou sobre “fazer uma reunião com todos os governadores para um levantamento das obras de infraestrutura mais importantes em cada Estado”, com o objetivo de “reestabelecer uma relação civilizada com os governadores”.
Lula contou que pretende “recuperar capacidade de investimento do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], que tem a capacidade de ser o indutor de muitas obras que precisam ser feitas” e trabalhar para o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal voltarem a fazer investimentos.
Segundo Lula, a “melhor forma de reduzir a dívida em relação ao PIB é o desenvolvimento econômico, e nós vamos fazer isso. O Brasil precisa voltar a crescer. Se não crescer, não tem emprego, não tem salário, não tem consumo e não tem mais mais empreg7o”.
Sobre o capital estrangeiro, disse que seu governo tentará trazer dinheiro para “investimentos novos”, e não para comprar empresas públicas. “Nós não vamos privatizar empresas. Quem quiser fazer investimento no Brasil venha criar algo novo”.
“Vamos trabalhar muito com o movimento sindical e com os empresários para que a gente estabeleça uma nova relação entre capital e trabalho no sentido de discutir o mundo dos aplicativos, como que vai ficar para que a gente possa dar legalidade e direitos aos trabalhadores de aplicativos”, continuou o ex-presidente.
Para ele, “a palavra-chave neste momento é inclusão social”. “Todo e qualquer investimento do Estado tem que começar pela ideia da inclusão social”.
“Temos um compromisso enorme de acabar com a fome”, que hoje atinge 33 milhões de pessoas no Brasil.
Lula falou, durante a entrevista coletiva, que quer governar o Brasil “para que a gente possa fazer algo novo, algo inusitado, algo que começa com discussões sobre a desigualdade existente no planeta Terra. A gente não pode permitir que 900 milhões de pessoas passem fome todo dia”, enfatizou o ex-presidente.
NOVA GOVERNANÇA MUNDIAL
O ex-presidente Lula afirmou que a política de Jair Bolsonaro transformou o Brasil em um pária internacional. Nenhuma liderança internacional quer visitar Brasil, ao mesmo tempo que ninguém quer a visita de Bolsonaro.
“O Brasil tem potencial para voltar a ser protagonista internacional, discutindo em igualdade de condições com todos os outros países do mundo, inclusive para discutir uma nova governança mundial”, apontou.
“É preciso que haja uma certa renovação, outras instituições que ajam [de forma] diferente do FMI [Fundo Monetário Internacional], que haja mais países participando do Conselho de Segurança da ONU, que haja uma nova geopolítica mundial para que a gente possa discutir a questão climática”, sentenciou.
“É preciso, inclusive, acabar com o poder de veto. Por que que o Brasil, o México ou a África do Sul não podem estar no Conselho de Segurança?”.
PROTEÇÃO AMBIENTAL
No encontro com jornalistas internacionais, Lula se solidarizou mais uma vez com os familiares e amigos de Dom Phillips, jornalista do The Guardian, e de Bruno Araújo, indigenista, que foram assassinados na Amazônia por investigarem e denunciarem crimes que acontecem na região.
Lula falou que os dois foram “vítimas de uma chacina, uma barbaridade que já não deveria mais existir no Brasil”.
O ex-presidente defendeu que “todos os países amazônicos” devem ser envolvidos na discussão sobre a proteção ambiental na região. “Temos que envolver Venezuela, Colômbia, Peru, Equador e Bolívia para que tenhamos uma atitude coletiva na preservação das nossas florestas e da nossa biodiversidade”.
“Definitivamente vamos acabar com qualquer possibilidade de garimpo ilegal. Isso tem que passar a ser não apenas uma lei, mas quase que uma profissão de fé. Nós não precisamos derrubar uma única árvore para plantar mais soja, para plantar mais milho, cana-de-açúcar ou para criar gado”, acrescentou.
Lula ainda falou sobre “cuidar da questão do clima como jamais se viu em outro momento. Queremos ser responsáveis não apenas conosco mesmo, mas com a manutenção do clima no mundo inteiro”.
O candidato a presidente disse que o Brasil precisa “recuperar todas as coisas que tínhamos criado para combater o desmatamento na Amazônia, inclusive o Ibama que foi desmontado”.
“É plenamente possível. É tarefa do país se a gente quiser ser respeitado no mundo inteiro”. Lula ainda afirmou que as fronteiras precisam ser fiscalizadas e reforçadas para “evitar tráfico de drogas, tráfico de armas, que os bandidos transitem livremente”.
DEMOCRACIA
Um dos temas discutidos na entrevista coletiva foi o das ameaças de Jair Bolsonaro à democracia. Na avaliação de Lula, “Bolsonaro é uma cópia mal feita do Trump. O Trump tentou invadir o Capitólio e teve que ceder. Tenho certeza que aqui no Brasil o resultado eleitoral será acatado sem nenhum questionamento”.
“Há muita fake news espalhada diariamente na tentativa de conturbar as boas intenções e a cabeça de milhões de brasileiros”, argumentou.
“Acredito muito na recuperação da nossa democracia. Não posso conceber a ideia que um país que fez a luta que nós fizemos permita que, por obra de um homem, se jogue fora a participação social na construção da democracia”, disse.
“Nós temos um presidente que conta sete mentiras todo dia, que desafia, todo santo dia, as mais diferentes instituições, desafia as Forças Armadas quando diz que elas são dele, ele ofende o Poder Judiciário, o STF, a Justiça Eleitoral, machuca a democracia”, denunciou Lula.
“Só tem sentido essa campanha nossa se ela significar a solidariedade ganhar da radicalidade, porque é um presidente que não chorou uma lágrima por 680 mil vítimas da Covid”.
“Ele nunca se colocou em fazer uma visita às crianças que ficaram órfãs porque perdeu pai e mãe. Tudo para ele é tratado como se não tivesse importância, como se fosse uma brincadeira”, continuou. Segundo Lula, de Bolsonaro não se pode esperar que “saia uma flor”.
O ex-presidente comentou sobre a Carta aos Brasileiros da Faculdade de Direito da USP que foi assinada por mais de um milhão de pessoas. “Foi importante porque foi uma carta da sociedade brasileira que está incomodada”.
“A democracia, para nós, tem que ser muito levada a sério e muito respeitada”.
DESMONTE
Lula, no final da entrevista, disse que está concentrado em “ganhar estas eleições para consertar esse país e acho que vamos consertar o país”. “Vamos fazer uma campanha mostrando o que nós devemos fazer para o povo. Na questão da educação, do investimento em ciência e tecnologia; na questão da indústria de dados, na indústria digital”.
“Vamos ter juntar empresários, universidade, trabalhadores para pensar que tipo de industrialização nós vamos querer fazer. Que nicho de indústria a gente vai querer criar, querer investir”, acrescentou.
“Nós vamos ter que pensar o Brasil com muito carinho porque o Brasil foi sendo desmontado, desmontado, desmontado e nós precisamos fazer o Brasil virar uma grande nação e uma potência também industrial”, concluiu.