O presidente russo denuncia os nazistas ucranianos e “seus patrões que usam basicamente toda a máquina militar, econômica e informacional do Ocidente” dirigida contra o país e condena o chefe do Grupo Wagner, Prigozhin, cujo motim “trai a Rússia”
“Hoje a Rússia está conduzindo uma luta dificílima pelo seu futuro, repelindo a agressão dos neonazistas e seus patrões. Basicamente toda a máquina militar, econômica e informacional do Ocidente foi dirigida contra nós. Lutamos pela vida e segurança do nosso povo, pela nossa soberania e independência. Pelo direito de ser e continuar sendo a Rússia – um Estado com uma história milenar”, afirmou neste sábado (24) o presidente Vladimir Putin se dirigindo aos cidadãos do país, aos serviços de segurança e ao Exército após uma tentativa de sedição armada, conduzida por Yevgeny Prigozhin, chefe do ajuntamento de mercenários conhecido como Grupo Wagner.
“Esta batalha, quando o destino do povo está sendo decidido, requer a unidade de todas as forças, união, consolidação e responsabilidade. Quando tudo o que nos enfraquece deve ser posto de lado, qualquer briga que nossos inimigos externos possam usar para nos minar por dentro. E por isso, as ações que dividem nossa unidade são, de fato, apostasia de nosso povo, dos companheiros de armas que agora estão lutando na frente. Isto é uma facada nas costas do nosso país e do nosso povo”, apontou.
“Na qualidade de presidente da Rússia e comandante-em-chefe, como cidadão da Rússia, farei tudo o que estiver ao meu alcance para defender o país, para proteger a ordem constitucional, a vida, a segurança e a liberdade dos cidadãos. Todos aqueles que organizaram e prepararam o motim militar, que levantaram armas contra seus companheiros de armas, traíram a Rússia, e eles serão responsabilizados por isso”, asseverou.
A seguir o discurso na íntegra:
“Dirijo-me aos cidadãos da Rússia, ao pessoal das Forças Armadas, serviços de segurança e serviços especiais, aos combatentes e comandantes que agora lutam em suas posições de combate, repelem os ataques do inimigo, fazem isso heroicamente – sei disso, hoje, esta noite, falei mais uma vez com os comandantes de todas as direções. Dirijo-me também àqueles que foram arrastados por meio de engano ou ameaças para uma aventura criminosa, empurrados para o caminho de um crime grave – a rebelião armada.
Hoje a Rússia está conduzindo uma luta dificílima pelo seu futuro, repelindo a agressão dos neonazistas e seus patrões. Basicamente toda a máquina militar, econômica e informacional do Ocidente foi dirigida conta nós. Lutamos pela vida e segurança do nosso povo, pela nossa soberania e independência. Pelo direito de ser e continuar sendo a Rússia – um Estado com uma história milenar.
Esta batalha, quando o destino do povo está sendo decidido, requer a unidade de todas as forças, união, consolidação e responsabilidade. Quando tudo o que nos enfraquece deve ser posto de lado, qualquer briga que nossos inimigos externos possam usar para nos minar por dentro. E por isso, as ações que dividem nossa unidade são, de fato, apostasia de nosso povo, dos companheiros de armas que agora estão lutando na frente. Isto é uma facada nas costas do nosso país e do nosso povo.
Tal golpe foi desferido contra a Rússia em 1917, quando o país estava na Primeira Guerra Mundial. Mas a vitória foi lhe roubada. Intrigas, disputas, politicagem nas costas do Exército e do povo acabaram sendo o maior abalo, a destruição do Exército e a desintegração do Estado, a perda de enormes territórios. Finalmente – a tragédia da guerra civil.
Russos matavam russos, irmãos matavam irmãos, enquanto lucros interesseiros eram obtidos por vários tipos de aventureiros políticos e forças estrangeiras, que dividiam o país, rasgavam-no em pedaços. Não deixaremos que isso aconteça novamente. Protegeremos tanto nosso povo como nosso Estado de quaisquer ameaças. Inclusive – da traição interna.
Mas aquilo que enfrentamos é exatamente traição. Ambições excessivas e interesses pessoais levaram à traição. À traição ao seu país, ao seu povo e àquela causa pela qual os combatentes e comandantes do grupo Wagner lutaram e morreram lado a lado com as nossas outras unidades. Os heróis que libertaram Soledar e Artyomovsk, as cidades e os povoados de Donbass, lutaram e deram suas vidas pela Novorossiya, pela unidade do mundo russo. Seu nome e glória também foram traídos por aqueles que estão tentando organizar uma rebelião, empurrando o país para a anarquia e o fratricídio, rumo à derrota e, em última análise, à capitulação.
Repito, qualquer turbulência interna é uma ameaça mortal à nossa condição de Estado, a nós como nação. É um golpe para a Rússia, para o nosso povo, e nossas ações para proteger a Pátria de tal ameaça.
Todos aqueles que deliberadamente tomaram o caminho da traição, que prepararam uma insurreição armada, que tomaram o caminho da chantagem e dos métodos terroristas, sofrerão a punição inevitável, responderão tanto perante a lei quanto perante o nosso povo.
As Forças Armadas e outras agências governamentais receberam as ordens necessárias, medidas antiterroristas adicionais estão sendo introduzidas em Moscou, na região de Moscou, em várias outras regiões. Também serão tomadas ações resolutas para estabilizar a situação em Rostov-no-Don. Ela segue complexa, com o trabalho das autoridades civis e militares bloqueado de fato.
Como presidente da Rússia e comandante-em-chefe, como cidadão da Rússia, farei tudo que estiver ao meu alcance para defender o país, para proteger a ordem constitucional, a vida, a segurança e a liberdade dos cidadãos. Aqueles que organizaram e prepararam o motim militar, que levantaram armas contra seus companheiros de armas, traíram a Rússia, e eles serão responsabilizados por isso.
Apelo ainda que aqueles que estão sendo arrastados para esse crime não cometam um erro fatal, trágico e irrepetível, que façam a única escolha certa, de parar de participar de ações criminosas. Acredito que preservaremos e defenderemos o que nos é caro e sagrado e, junto com nossa Pátria, superaremos todas as provações e nos tornaremos ainda mais fortes.”
PC DA RÚSSIA APOIA PUTIN E CHAMA À UNIDADE EM DEFESA DA PÁTRIA
O chamado do presidente Putin ao país foi respondido positivamente pelo presidente do Partido Comunista da Federação Russa, Gennady Zyuganov.
Vejamos o pronunciamento do líder do PCFR:
“Ouvi atentamente o discurso do Presidente e apoio totalmente seu apelo para unir-se o máximo possível neste momento terrível e de responsabilidade.
Existem todos os tipos de mal-entendidos entre as pessoas, mas chega um momento na história de qualquer Estado e cidadão em que você precisa descartar todas as suas ambições, pretensões e defender a Pátria, como a defendemos em 1941-45. Mesmo assim, na época havia cossacos, padres e kulaks ofendidos, mas todos se levantaram e defenderam seu país.
Todos na minha família lutaram.
Portanto, junto com o Presidente, apelo a todas as forças populares patrióticas de esquerda: precisamos nos unir o máximo possível e apoiar os jovens que lutam por nossa Pátria, libertando a Ucrânia dos nazistas, de Bandera e dos fascistas.
Aqueles que agora partiram para esta provocação serão responsabilizados. O sistema de aplicação da lei deve funcionar de forma mais eficiente, mais concreta e mais dura. Mas é importante entendermos que por trás disso estão os serviços de inteligência estrangeiros e a quinta coluna, que, em vez de mobilizar a sociedade, continua roubando dinheiro ou outra coisa do país.
Nós, os comunistas, preparamos um verdadeiro programa de assistência aos soldados da Operação Militar Especial. Só nos últimos 20 dias foram enviados quatro comboios – 500 toneladas. Apoiamos nossos jovens regularmente, inclusive àqueles que nos procuram para tratamento e estudo. Quase 13.000 foram aceitos recentemente.
A nossa tarefa agora é fazer de tudo para deter aqueles que, apesar da difícil situação do país, partiram para a provocação. Eu me dirijo diretamente aos soldados, comandantes e guerreiros que foram arrastados para este conflito. Devemos fazer de tudo para lutar contra o nazismo e o fascismo. E colaborar com os americanos, os anglo-saxões e os inimigos da Rússia é a última coisa.
Vamos parar com essa provocação e fazer de tudo pela vitória total e pela derrota completa e final dos neofascistas”.
O SIGNIFICADO DOS ACONTECIMENTOS DE 1917
Portanto, tanto Putin quanto Ziuganov estão em pleno acordo quanto à necessidade de unir o país contra a agressão nazista – da qual a Ucrânia se transformou em peão – e contra uma aliança imperialista que junta EUA, Alemanha, França e Inglaterra e que coloca em risco, como afirmam as duas destacadas lideranças, a própria existência da Rússia unida e independente.
Neste sentido, é necessário observar que há um equívoco manifestado em trecho – diga-se de passagem, secundário – no discurso de Putin pela unidade nacional, ao deixar em dúvida o papel dos comunistas bolcheviques durante a Primeira Guerra Mundial, quando a aliança czarista com forças estrangeiras em uma guerra inter-imperialista, como denunciou Lênin, e a vitória da Revolução Socialista com o apeamento do decrépito, autoritário e corrupto regime do czar Nicolau, foi o que permitiu trazer a paz aos russos e demais povos que formaram da grande unidade da URSS.
Uma questão totalmente diversa das guerras travadas contra agressões de cunho nazista tanto em 1941 quanto agora.
Aliás, foi a unidade possível de ser forjada com a ação revolucionária anti-czarista e na construção do socialismo que a esta ação se seguiu, que permitiu a formação da grande força patriótica capaz de derrotar a invasão nazista iniciada em 1941 e a vitória sobre ela em 1945.
Deixamos aqui nossa opinião de que lançar dúvidas sobre o papel dos bolcheviques na construção do patriotismo ensejado pela URSS, em 1917, não ajuda à unidade sem tergiversações e que se faz necessário forjar neste momento, conforme deixa claro o discurso do líder do PCFR.
No mais, o chamado à unidade por Putin, conforme apoiado por Zyuganov, é o caminho e o grande desafio na luta travada pelo povo russo contra a agressão nazista e, agora, os que adotaram o caminho de traição à Pátria.