O informe “Infâncias, Progressos e Retrocessos na chave da Desigualdade” apresentado na semana passada pelo Barômetro da Dívida Social, da Universidade Católica Argentina (UCA), indica que o nível de pobreza no país vizinho, desgovernado por Maurício Macri, saltou de 44% para 51,7% das crianças e adolescentes, entre 2017 e 2018, sendo o pior da última década.
Conforme o estudo, a tragédia se dá principalmente a partir do corte de direitos básicos como o acesso à alimentação. Num dos países considerados celeiros do mundo, 29,3% dos meninos e meninas pertencem a lares em que se comeu menos no ano passado, 14,9% – ou 1,6 milhão de crianças e adolescentes – menos de quatro vezes ao dia. Na noite se concentra o maior problema, com 7% dormindo sem nada ingerir. Entre as variáveis a serem destacadas – detalhadas no relatório – está a da falta de apoio a merendeiras e refeitórios (35%), duramente atingidos pela política de cortes governamentais.
A proliferação da pobreza – agravada pela recessão, aumento do desemprego e do arrocho salariais, somados a uma inflação galopante – apresenta uma série de efeitos perversos que têm na insegurança alimentar e na desnutrição das crianças uma de suas faces mais terríveis. E a pesquisa realizada pela UCA aponta que, nesta toada, a pobreza infantil será ainda maior este ano.
De acordo com os autores do estudo, este “não é um fenômeno novo, mas que se aprofundou no marco de uma economia recessiva e inflacionária”. Os números divulgados pela UCA coincidem com os do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), que já havia advertido que, entre o segundo semestre de 2017 e o mesmo período de 2018, a pobreza entre os menores de 14 anos havia subido de 39,7% para 46,8% e a indigência ou pobreza extrema de 7,6% para 10,9%.
A UCA ressalta ainda que, conforme o próprio Indec, existem na Argentina 13,1 milhões de crianças de zero a 17 anos e, desse total, há 30% (3,9 milhões) que sobrevivem miseravelmente com uma transferência direta de renda do Estado, criada em 2009, uma espécie de Bolsa Família. O valor é de 2.652 pesos mensais (227,43 reais) por cada filho menor de 18 anos que frequente a escola e esteja vacinado, pago somente a pais ou mães desempregados ou com empregos precários. Esse montante é multiplicado por três caso o filho seja portador de deficiência.
Mas, apesar desta imprescindível – ainda que limitada – ajuda mensal, advertem os especialistas em seu estudo, “a situação de pobreza continua sendo grave e complexa”.
L.W.S.