“Tortura nunca mais”, afirmou o candidato da frente ampla à presidência da Câmara, Baleia Rossi. Até Arthur Lira, candidato de Bolsonaro, foi obrigado a criticar a fala desastrosa de seu padrinho.
A ironia de Bolsonaro em relação às torturas sofridas pela ex-presidente Dilma Rousseff e outros presos políticos durante a ditadura continuou gerando repúdio de várias personalidades políticas nesta terça-feira (29).
O atual presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerou a atitude de Bolsonaro um “deboche” inaceitável. “Bolsonaro não tem dimensão humana. Tortura é debochar da dor do outro. Falo isso porque sou filho de um ex-exilado e torturado pela ditadura. Minha solidariedade a ex-presidente Dilma. Tenho diferenças com a ex-presidente, mas tenho a dimensão do respeito e da dignidade humana”, afirmou Maia por meio de uma rede social. Arthur Lira (PP-AL) candidato de Bolsonaro à mesa da Câmara, disse que a “tortura é inaceitável em qualquer circunstância”.
Dois ex-presidentes também protestaram contra Bolsonaro. “Brincar com a tortura dela (Dilma) – ou de qualquer pessoa – é inaceitável. Concorde-se ou não com as atitudes políticas das vítimas. Passa dos limites”, afirmou Fernando Henrique Cardoso. Também por meio de uma rede social, o ex-presidente Lula prestou solidariedade a Dilma. “O Brasil perde um pouco de sua humanidade a cada vez que Jair Bolsonaro abre a boca”, disse Lula.
O deputado Baleia Rossi (MDB-SP)), que disputa a presidência da Câmara, manifestou indignação com a atitude do presidente. “Não é sobre esquerda, centro ou direta. É sobre a dignidade humana, é disso que se trata. Nossa solidariedade à ex-presidente Dilma Rousseff. Tortura nunca mais”, disse ele. Já o candidato de Bolsonaro na mesma disputa, deputado Arthur Lira (PP-PB), preferiu o silêncio.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, criticou duramente as declarações do presidente. “Pense em um homem que no meio de uma onda de feminicídios debocha de um mulher presa e torturada. Esse sujeito existe e, pior, preside o Brasil”, disse Santa Cruz.
O ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes também condenou Bolsonaro. “Bolsonaro ataca Dilma por ser frouxo, corrupto e incapaz. Enquanto ela defende suas convicções, ele vende o país ao estrangeiro e, por sua irresponsabilidade, quase 200 mil brasileiros já perderam suas vidas”, disse Ciro, ao se referir aos mortos pelo novo coronavírus.
Bolsonaro fez os comentários na segunda-feira (28), durante conversa com apoiadores em frente do Palácio da Alvorada, em Brasília. Um dos apoiadores disse ao presidente que era militar da ativa em 1965 e que não viu tortura sendo feita no período. Bolsonaro disse, então, que “os caras se vitimizam o tempo todo”.
“Os caras se vitimizam o tempo todo: ‘fui perseguido’. Teve um fato aí – esqueci o nome da pessoa, mas é só procurar na internet, vai achar com facilidade – que a Dilma foi torturada e que fraturaram a mandíbula dela. Eu disse: ‘traz o raio-x pra gente ver o calo ósseo’. E isso que eu não sou médico, hein. Até hoje estou aguardando o raio-x”, disse Bolsonaro.
Um grupo de 23 presas políticas e vítimas de tortura durante o regime militar escreveu carta nesta terça-feira (29), dirigida ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional pedindo para que sejam tomadas providências contra os “insultos, ofensas graves e ignomiosas” feitas por Bolsonaro.