“Tenho provas, tenho elementos que comprovam o relato que eu fiz. Já adianto que tudo que eu falei vou repetir durante depoimento à PF, rigorosamente igual”, disse ele
O empresário Paulo Marinho afirmou esta segunda-feira (18) que tem provas sobre o vazamento das investigações da Polícia Federal para Flávio Bolsonaro no caso do esquema de lavagem de dinheiro de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O desvio do dinheiro público era comandado por Fabrício Queiroz, assessor de Flávio.
Marinho denunciou também que está recebendo ameaças de morte depois que denunciou o vazamento.
“Tenho provas, tenho elementos que comprovam o relato que eu fiz. Já adianto que tudo que eu falei vou repetir durante depoimento à PF, rigorosamente igual”, disse ele. Marinho pediu pessoalmente ao governador do Rio, Wilson Witzel, proteção policial – e disse que já foi atendido.
“Em função de novas circunstâncias surgidas nas últimas horas, solicitei ao governador do RJ proteção policial à minha família e, após criteriosa análise das autoridades envolvidas, fomos atendidos. Seguiremos firmes lutando pela verdade e pelo Brasil. Obrigado”, escreveu Marinho em sua conta no Twitter.
Em entrevista à Folha de S. Paulo do fim de semana, Marinho informou que um delegado da PF informou a Flávio que a PF faria uma operação em que havia provas de movimentação financeira suspeita de seu assessor. Em novembro de 2017 foi deflagrada a Operação Cadeia Velha para investigar propinas de deputados estaduais.
Esta Operação foi chefiada por ninguém menos do que Alexandre Ramagem, atual chefe da espionagem de Bolsonaro. Em janeiro de 2018 o Coaf descobriu a movimentação financeira suspeita de Fabrício Queiroz. A PF, então, desdobrou a Cadeia Velha em outra operação, chamada Furna da Onça” e anexou o relatório do Coaf ao inquérito, além de encaminhá-lo também para o MP/RJ.
Segundo o empresário, o delegado informante orientou o então deputado estadual a exonerar Fabrício Queiroz de seu gabinete antes da deflagração da operação, assim como a exoneração de sua filha, Natahalia Queiroz, funcionária fantasma do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.
Logo em seguida à conversa relatada por Flávio ao então aliado Paulo Marinho, Queiroz e sua filha foram exonerados de seus cargos. Nesta época Queiroz também afastou do gabinete de Flávio, Danielle da Nóbrega, ex-mulher do miliciano Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime, uma espécie de central de assassinatos por encomenda das milícias. Um dos integrantes deste escritório, Ronnie Lessa, está preso pelo assassinato da vereadora Marielle Franco.
O Ministério Publico Federal decidiu investigar a denúncia de Paulo Marinho no âmbito do inquérito que trata da questão da interferência do governo na Polícia Federal.
Paulo Marinho afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que no dia 13 de dezembro de 2018, recebeu na casa dele, Flávio Bolsonaro acompanhado por Victor Alves, advogado de confiança do senador. Em 2017, Victor Alves passou a trabalhar como assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Atualmente, o advogado é investigado pelo Ministério Público estadual no inquérito das rachadinhas no gabinete de Flávio Bolsonaro.
Paulo Marinho contou ter ouvido de Flávio Bolsonaro que Victor Alves foi um dos que receberam de um delegado a informação antecipada sobre a Furna da Onça. O encontro aconteceu na porta da Superintendência da PF, no Rio de Janeiro, uma semana depois do primeiro turno da eleição de 2018.
Diante dos fatos, Flávio Bolsonaro tentou dar algumas explicações. Disse que houve demora para a denúncia ser feita. E que há interesse político de Marinho. Realmente, demorou um pouco para vir à tona essa podridão toda, mas, antes tarde do que nunca. E, sobre o interesse político, é verdade, Marinho, de aliado de Bolsonaro virou um desafeto do presidente, assim como centenas de outros ex-integrantes do governo que já abandonaram o barco.
“O desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena. Preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão. Trocou a família Bolsonaro por Dória e Witzel, parece ter sido tomado pela ambição”, disse Flávio.
“É fácil entender esse tipo de ataque ao lembrar que ele, Paulo Marinho, tem interesse em me prejudicar, já que seria meu substituto no Senado. Ele sabe que jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão. E por que somente agora inventa isso, às vésperas das eleições municipais em que ele se coloca como pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, e não à época em que ele diz terem acontecido os fatos, dois anos atrás? Sobre as estórias, não passam de invenção de alguém desesperado e sem votos”, acrescentou o atual senador.
As duas narrativas de Flávio Bolsonaro para se defender são verídicas, mas não diminuem a contundência do que foi revelado por Paulo Marinho. Aliás, não foi somente o Marinho que deixou o governo Bolsonaro denunciando seus crimes, seus desmandos e seus desatinos.
Foi assim com Joice Hasselmann, que trouxe à luz do dia o Gabinete do Ódio, foi assim com Gustavo Bebianno, que denunciou que quem manda no governo são os filhos do presidente e o astrólogo Olavo de Carvalho, assim foi com o general Santos Cruz, e foi assim também com o juiz Sérgio Moro, que denunciou a intenção do presidente de interferir politicamente na Polícia Federal para controlá-la e impedir investigações de seus filhos e amigos.
O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, cumprimentou Marinho por meio da rede social. “Espero que os fatos revelados, com coragem, pelo Sr. Paulo Marinho sejam totalmente esclarecidos”, disse. O empresário agradeceu o apoio recebido do ex-ministro da Justiça.
“Agradeço as manifestações de apoio que tenho recebido neste momento em que, após as denúncias do Min. Sérgio Moro, considerei a necessidade de dar publicidade às informações que podem colaborar com as investigações sobre a tentativa de interferência na PF”, afirmou Marinho em sue twitter.