Nota do Ministério da Defesa, divulgado nesta segunda-feira (04), reflete insatisfação das FFAA
O presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião no último sábado (2), no Palácio da Alvorada, com generais que ocupam cargos em seu governo e com os generais da cúpula das Forças Armadas. A pauta da reunião, segundo informa a jornalista Andrea Sadi, da Globonews, era a avaliação das medidas de combate ao coronavírus.
Como a atuação das três armas no combate ao coronavírus é intensa, o assunto tinha bastante relevância e levou os generais ao Alvorada em pleno fim de semana.
Sadi informa que em certa altura, a reunião mudou de rumo. Nas palavras de um general que estava presente, segundo ela, Bolsonaro reclama que não “consegue nomear ninguém” pois é impedido pelo Supremo, e, apesar de dizer que “não há saída fora da Constituição”, o presidente subiu o tom, em desafio, e cobrou o que chama de “equilíbrio” do Judiciário.
Os participantes da reunião ouviram o presidente mas não sabiam que ele iria reproduzir essas queixas no dia seguinte, numa manifestação antidemocrática e que iria dizer aos manifestantes que “os militares estão comigo”.
Bolsonaro, portanto, usou a reunião para reclamar das últimas decisões de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como a liminar de Alexandre de Moraes no caso de Alexandre Ramagem; Luís Roberto Barroso no caso dos diplomatas venezuelanos; e Celso de Mello na abreviação de prazo para que Sergio Moro depusesse no inquérito que corre na Corte.
Sadi afirma que “os generais têm Moro como símbolo no combate à corrupção e querem distância da briga do ex-ministro com o presidente”.
O resultado não podia ser outro. A cúpula das três Forças Armadas não gostou da fala do presidente na manifestação. Segundo a repórter da Globo, “os generais que participaram da reunião foram uníssonos ao confirmar que não houve endosso da cúpula militar no encontro quando Bolsonaro fez críticas ao STF e a Sergio Moro”.
A nota do Ministério da Defesa, divulgada nesta segunda-feira (04), confirma a informação da repórter sobre o clima de insatisfação nas FFAA.
A jornalista, Tânia Monteiro, do “Estado de S.Paulo”, por sua vez, também confirmou o clima de insatisfação nos meio militares com a atitude de Bolsonaro.
Os ministros e comandantes militares teriam saído do encontro do Alvorada, segundo a jornalista, certos de uma “pacificação” por parte de Bolsonaro. Mas, na avaliação das fontes, ele voltou a ser “envenenado”, na manhã de domingo, por pessoas próximas e grupos de WhatsApp.
O comentarista Valdo Cruz, da Globo, disse que alguns militares até concordaram com as críticas de Bolsonaro a ministros do STF, numa referência às decisões do ministro Alexandre de Moraes de barrar a posse do delegado Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal, e do ministro Luís Roberto Barroso, que suspendeu ordem do Itamaraty de expulsar diplomatas venezuelanos do Brasil.
Em nenhum momento, porém, os militares teriam sinalizado ao presidente que estariam ao lado dele na adoção de “atos de força” contra decisões do STF, disse Valdo Cruz. Segundo um interlocutor dos militares, o presidente acabou se sentindo erroneamente “autorizado” a dizer que as Forças Armadas estão do lado dele quando fez ameaças contra os outros Poderes.